Jorge
Carvalho do Nascimento
Constância
nasceu no final da tarde de um sábado, sete de abril de 1955. Mamãe Sônia, aos
35 anos de idade, dera à luz quatro filhos. Eleutério, seu filho mais velho,
desaparecera quatro anos antes, misteriosamente, sem deixar qualquer tipo de
pista, aos 16 anos de idade. Carmen tinha agora 12 anos de nascida e Carla
estava com seis anos de idade.
A
menina nasceu saudável e Sônia, que tivera intensa vida sexual ativa desde os
15 anos de idade, foi orientada pelo médico Edson Nunes a se submeter a uma
cirurgia de períneo para correção de alguns problemas vaginais que a
incomodavam, além da vaidade de voltar a ouvir elogios dos homens pelo calor,
pela umidade e pelos apertos próprios das técnicas do pompoarismo que ela
dominava.
Cirurgia
de períneo não era coisa socialmente elogiável. Não era prática que se considerava
adequada a uma mulher de boa família. O fato é que ela voltou para casa feliz e
se sentindo uma nova mulher, pronta a se entregar outra vez aos prazeres do
sexo, depois de cumprido o período de resguardo e de amamentação, como exigido
das mães de crianças que acabaram de nascer.
Em
casa, o ambiente era totalmente novo. Nos últimos quatro meses da gravidez de
Sônia, o jornalista Camilo consolidara o seu papel de chefe da família e
assumira na totalidade as tarefas de gestão da casa e dos negócios da família.
Contratara empregada doméstica para cuidar da limpeza da casa e das roupas da
família e, também uma cozinheira.
Assumiu
a responsabilidade de levar e trazer as meninas na escola e aos poucos
adquirira a confiança delas. Cuidou com muita dedicação da saúde de Sônia e a
conduziu para a Maternidade da Santa Casa da Misericórdia da Paraíba, onde ela
foi recebida pela equipe médica que a atendeu durante o trabalho de parto.
Camilo
se mostrara um chefe de família e padrasto dedicado e isto fazia com que
conquistasse a afeição das meninas que passaram a tratá-lo e respeitá-lo como o
seu verdadeiro pai. A dedicação aos afazeres da família fez com que Sônia se
encantasse e a cada dia tivesse a consciência de ter feito a coisa certa quando
o fizera seu parceiro permanente e o levara a viver em sua casa.
Uma
semana depois de ter Sônia regressado para casa após o parto, Camilo honrou a
mais importante das promessas que fizera a Sônia. Foi ao Cartório do Registro
Civil para obter a certidão de nascimento de Constância Silva Paixão, filha de
Sônia Silva, empresária, e Camilo Paixão, jornalista.
Era
a primeira vez que Sônia via um filho com registro no qual constava o nome do
pai. Isto fazia crescer o amor dela pelo jornalista e tocava sua autoestima e o
seu orgulho de mulher e mãe. Sentia que sua vida estava ganhando um novo rumo que
a deixava muito feliz.
Era
proprietária de uma boa casa, na qual morava. Tinha uma família estruturada,
inclusive com a presença masculina de um chefe que, mesmo não sendo formalmente
casado, era o seu companheiro de todas as horas. Seus problemas financeiros não
mais existiam e o sucesso dos negócios da Padaria Triunfo garantia à família um
padrão de vida de classe média alta sem que Sônia necessitasse mais da
prostituição para gerar renda.
Somente
uma mancha feria o seu coração de mãe. Depois de quatro anos, todas as
investigações, todas as buscas realizadas para localizar o paradeiro do seu
filho José Eleutério foram infrutíferas. Ninguém descobria de que modo ele
desaparecera. Ninguém sabia como ele sumira.
Se
Zé Lotero reaparecesse, a sua felicidade seria completa. A sua sensibilidade de
mãe fazia com que ela duvidasse que seu filho estivesse morto. Mesmo com a
decretação de morte presumida, como ocorre após um ano do desaparecimento,
Sônia preferia continuar acreditando que seu filho estava vivo.
Esperava
que a qualquer momento ele entrasse casa adentro anunciado que voltara e
explicando onde estivera durante quatro anos de ausência. A pior das dores da
perda de um ente querido é a ausência de um corpo para velar e de uma sepultura
para chorar em visitas periódicas.
As
polícias dos estados de Sergipe, Bahia Espírito Santo e Rio de Janeiro
realizaram investigações e buscas, mas não conseguiram nenhuma pista. A Marinha,
o Exército e as Capitanias dos Portos de Aracaju, Salvador, Ilhéus, Vitória e
Rio de Janeiro também não conseguiram nenhum tipo de avanço.
Todavia,
Sônia nunca perdeu a esperança de reencontrar o seu menino com vida. Ninguém
sabia explicar o que aconteceu. Pelos
registros constantes do Livro de Passageiros do navio Santos, ele desembarcara
no Porto de Aracaju e retornara à embarcação.
Depois
que o barco atracou no Porto de Salvador, não constava nenhum registro de haver
Zé Lotero desembarcado. Estava registrado que o camareiro arrumou a cabine de
Zé Lotero na chegada ao porto de Salvador, o que denotava ter ele ali dormido
na noite anterior. Foi o último vestígio do passageiro misterioso.
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