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PAULO CAVALCANTI E A CONSCIÊNCIA CIDADÃ


 

 

Jorge Carvalho do Nascimento

 

 

Todo brasileiro sabe a que levou o processo vivido pelo Brasil nos anos 10 deste século XXI quando o campo da política foi satanizado e o país negou a pactuação e a participação cidadã, buscando saídas em operadores do Direto que foram transformados em uma espécie de “palmatória moral” que tudo podia e era inquestionável. E também apostando em políticos que fingiam negar a política.

É verdade que muitos mal feitos e desacertos foram identificados, mas também é real que o afã justiceiro e o seu insaciável apetite pela produção de espetáculos e justiçamentos levaram de roldão, em suas prisões cinematográficas e em seus processos de linchamento moral, as reputações de lideranças políticas e empresarias.

O tempo se encarregou de repor muitas coisas nos devidos lugares e proporcionou a reparação dos danos causados a líderes políticos, empresariais, a instituições públicas e pessoas jurídicas do setor privado. Nesse contexto, emblemático é o caso do líder empresarial Paulo Sérgio Costa Pinto Cavalcanti, preso no dia 11 de agosto de 2011 durante a Operação Alquimia, conduzida pela Polícia Federal e pela Procuradoria da Fazenda Nacional.

A Sasil, principal empresa do grupo liderado por Cavalcanti, foi acusada de sonegação fiscal, teve seus bens bloqueados e viu crescer o seu endividamento. Paulo dedicou mais de 10 anos da sua vida a recuperação da própria imagem e o bom nome da sua empresa, para que ela voltasse a crescer e se transformasse em uma das mais importantes dentre as corporações de distribuição de produtos químicos do Brasil.

Paralelamente a tal processo, Paulo Cavalcanti resolveu estudar Direito, colou grau e foi aprovado nos exames da Seccional da Bahia da Ordem dos Advogados do Brasil. Em 2019, tendo já recuperado a sua reputação pessoal e vendo sua empresa voltar a crescer, ele foi admitido como membro da Associação Comercial do Estado da Bahia.

Logo depois assumiu a vice-presidência da instituição dos comerciantes baianos e criou a Fundação Paulo Cavalcanti, com o objetivo de estimular a formação de uma consciência cidadã coletiva. A Fundação mantém o Programa de Certificação da Gestão Consciente da Função Social da Empresa.

Acabei de ler E AÍ? ISSO É DA MINHA CONTA? REFLEXÕES SOBRE A CONSCIÊNCIA CIDADÃ PARTICIPATIVA TRANSFORMADORA, o livro de Paulo Cavalcante lançado em 2022 e agora em segunda edição. Debatedor competente, Paulo propõe uma reflexão acerca da atividade de trabalhadores, empresários, gestores públicos e políticos.

O autor entende que tais agentes da sociedade possuem diferentes formas de pensar e distintos comprometimentos com a vida social, afirmando: “Conheci também muitos bons exemplos de gestores públicos e parlamentares que construíram grandes trajetórias na iniciativa privada e conseguiram repetir o mesmo sucesso na atividade pública” (p. 34).

Assinala que as boas propostas de participação na vida da sociedade nascem de todos os segmentos: “Vi ainda muitos projetos sociais exitosos que surgiram de iniciativas populares, empresariais e associativistas. Com isso, concluí que, além de viável, a participação social é uma obrigação de todos e não implica apenas em ter um cargo público” (p. 34).

Publicado pela Humanidades Editora e Projetos Ltda, o livro de Paulo Cavalcanti tem 217 páginas, com prefácio do seu filho, Paulo Sérgio França Cavalcanti, e seis capítulos que debatem questões como a consciência cidadã participativa, a sensação de pertencimento e a função social da empresa.

Num país conservador e extremista como o Brasil desta terceira década do século XXI, é alvissareiro ler o texto de um líder empresarial com as responsabilidades que tem o vice-presidente da Associação Comercial da Bahia, defendendo a participação política coletiva de todos os cidadãos e assumindo que a democracia deve ser uma obra coletiva na qual não se deve estabelecer diferenças pela origem social de cada um dos seus agentes.

Paulo faz a defesa veemente da busca de consensos políticos: “Os discursos polarizados e extremistas só demonstram o quanto pensamos raso, como nos falta educação e conhecimento para um verdadeiro amadurecimento intelectual que nos permita aceitar o contraditório e ouvir as razões do outro” (p. 62).

Recomendo a leitura.
 

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