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É NECESSÁRIO DEFENDER AINDA MAIS A DEMOCRACIA

O QUE DIZER DO LIVRO “MEMÓRIAS DE UM POLÍTICO" DE JOÃO AUGUSTO GAMA?

      José Vieira da Cruz*     A leitura do livro “Memórias de um político”, de autoria de João Augusto Gama –, fizeram-me revisitar os impactos da ditadura, os significados da resistência democrática e, de modo particular, os desafios políticos de um mundo no qual a democracia está sob constantes tensões, ameaças e disputas. Em meio a este presente histórico, já na fila para receber o autógrafo do autor do mencionado livro de 167 páginas – observei o público formado por algumas personalidades do meio político, conhecidos do autor e poucos pesquisadores –, lá mesmo comecei a apreciar a escrita direta, objetiva e pontuada de memórias pessoais, estudantis, profissionais, empresariais e políticas do autor. A obra, além de falar do golpe de 1964 e da ditadura, também é perpassada pelas memórias de João Augusto Gama narrando suas origens, cotidiano cultural e bastidores da política em Sergipe na segunda metade do século XX e primeiras décadas do século XXI. Adianto que o texto escrito escul
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PARA ONDE VAI A FORMAÇÃO DE PEDAGOGOS, MÉDICOS E OPERADORES DO DIREITO EM SERGIPE?

  Jorge Carvalho do Nascimento     O Jornal Folha de São Paulo publicou nesta quinta-feira, 14 de novembro de 2024, a nova edição do Ranking Universitário Folha – RUF. O índice é uma avaliação anual das universidades e dos cursos do ensino superior no Brasil feita pela Folha desde o ano de 2012. Além de publicar uma classificação geral das universidades brasileiras, o RUF também publica classificações por curso. Para obter os seus resultados e compor o ranking, o jornal considera indicadores inspirados em parâmetros dos rankings internacionais, atribuindo, normalmente 42 por cento da avaliação aos medidores de pesquisa. O Conselho do RUF é formado por jornalistas e intelectuais da educação brasileira que são importantes professores universitários que se destacam como pesquisadores. O RUF analisou este ano a qualidade de 203 universidades brasileiras públicas e privadas, com foco em cinco indicadores: pesquisa, internacionalização inovação, ensino e mercado. Para avaliar mais de mil cur

DRESS CODE

                                                Os Pholhas       Jorge Carvalho do Nascimento     A Walter comprei um dos melhores dentre todos os carros que a vida me possibilitou possuir e guiar. Era um Volkswagen Passat Iraque vermelho, 4 portas. Uma máquina com muita potência no motor, confortabilíssimo e com excelente dirigibilidade. Nas estradas era segurança total. Quando chegou às minhas mãos o carro tinha menos de dois mil quilômetros rodados e aquele cheirinho característico de carro novo. Comerciante, Walter foi meu contemporâneo no Atheneu Sergipense e meu vizinho durante três anos nos quais morei em um apartamento da rua Senador Rollemberg, em Aracaju. Eu o conhecia desde os primeiros anos de juventude quando ele ainda morava na rua Dom Quirino, bairro Santo Antônio. Ainda jovem, Walter e o seu irmão se transformaram em prósperos comerciantes. À época em que fomos vizinhos eu estava beirando os 30 anos de idade e ele em torno dos 35. Walter negociava também com automóveis,

GAMA, O INDIVÍDUO E A VIDA PÚBLICA

      Jorge Carvalho do Nascimento     É uma boa novidade a estreia de João Augusto Gama da Silva como escritor. A noite de autógrafos do seu livro, MEMÓRIAS DE UM POLÍTICO, que ocorrerá a partir das 17 horas do dia 19 de novembro deste ano de 2024, vem sendo aguardada com expectativas pelos seus amigos e pelos que se interessam pela história política contemporânea.   Gama é da geração de brasileiros que nasceu na década de 40 do século XX. Os que nasceram nos anos 40 e 50 da última centúria, inevitavelmente tiveram o seu caminho marcado pelas nódoas da ditadura militar que se instalou no Brasil a partir de 1964. Os que usurparam o poder, depondo o presidente João Goulart naquele ano, se aboletaram sem legitimidade nos poderes da República e governaram o Brasil até o ano de 1985, quando João Baptista Figueiredo, o último ditador, foi sucedido por Tancredo Neves que morreu antes de tomar posse e abriu espaço para o seu vice-presidente, José Sarney. Os militantes políticos

DE COSTAS PARA O BRASIL

                                                Wellington Dias     Jorge Carvalho do Nascimento     Algumas vezes, trocando ideias com o amigo jornalista Luciano Correia divergi de um ponto de vista no qual ele sempre insistiu. Correia sempre afirmou que nós, moradores das cidades litorâneas brasileiras, somos dotados de uma certa dose de arrogância que nos leva a imaginar que o Brasil somente deu certo nas praias. Claro que admitimos exceções como São Paulo, Belo Horizonte, Brasília e Goiânia. É lógico que nesse julgamento, como em todas as formas de preconceito, olhamos de soslaio importantes espaços de bom funcionamento da economia existentes no Brasil, como Feira de Santana, Campinas, São José dos Campos, Londrina, Cuiabá, Campo Grande, Manaus, Ribeirão Preto, Itabaiana, Arapiraca, Campina, Caruaru e outras tantas. Logicamente Luciano nos fala de formas veladas de preconceito, não admitidas pelos que assumem tal postura. Mas, de uma forma ou de outra, em qualquer roda

AS TRAQUINAGENS DE CARLA

        Jorge Carvalho do Nascimento     Carla se adaptou facilmente à vida na Maison  do Internato do Colégio das Damas da Instrução Cristã, no bairro Ponte d’Uchoa, em Recife. Em poucos dias ela estava completamente familiarizada com as colegas internas, com as religiosas que dirigiam e trabalhavam na instituição escolar e com os professores. Foi assim construindo a reputação de boa aluna, disciplinada. Visível o seu entusiasmo com as práticas escolares vividas em sala de aula e com as atividades religiosas da catequese, formando-se na fé católica. Uma verdadeira defensora da sociedade tradicional, do comportamento e dos valores do cristianismo. Mas, nem só de orações Carla estava aprendendo a viver dentro do Internato do Colégio. O espaço interno de confinamento se fazia também de travessuras, pequenas e muito prazerosas subversões que a própria Carla gostava de liderar. Eram os novos caminhos da liberdade feminina vividos ali dentro por um bando de adolescentes rebeld

A MAISON PERNAMBUCANA

      Jorge Carvalho do Nascimento     Carla, a segunda das três filhas de Sônia teve um destino completamente diferente de Carmen, a sua irmã mais velha. Erudita, Carla era uma mulher moderna, bonita, elegante, de sucesso e sempre vestida com muito esmero. Em tudo parecida com sua mãe, desde o princípio da puberdade chamou a atenção dos homens. Rosto aformoseado, pescoço longilíneo, peitos fartos, quartos largos com bunda bem torneada e proeminente, coxas grossas roliças, braços alongados, pernas compridas, cabelos pretos e pele de sapoti. Carla teve uma formação diferenciada daquela que foi recebida pelas irmãs. Em 1956, Sônia a levou, aos 15 anos de idade, para a Maison do Internato do Colégio das Damas da Instrução Cristã, no bairro Ponte d’Uchoa, em Recife. Foi recebida pela Irmã Olívia, a madre superiora. - Estou aqui com esta menina que deseja fazer o curso científico e se preparar para os estudos de Medicina – informou Sônia à religiosa. - A senhora sabe que es

A EDUCAÇÃO DOS FILHOS

      Jorge Carvalho do Nascimento     Mulher de muitas posses e mãe dedicada, Sônia amava os netos intensamente e ficava indignada com o tratamento que eles recebiam do pai, Orwiliano. Todavia, diante do genro, Sônia se sentia impotente. A Panificadora Triunfo fizera de Sônia uma mulher rica, mas diante do milionário Orwiliano ela se sentia pequena. Sempre que conversava com a sua filha Carmen, Sônia fazia questão de rememorar a pobreza original e o quanto padecera até ganhar autonomia financeira com o sucesso dos negócios da mais importante padaria de João Pessoa, na qual era sócia majoritária e detinha o controle de 70 por cento do capital da empresa. Sônia mostrava a sua filha Carmen que era muito importante suportar os achaques do marido para evitar a saída da mansão onde vivia com os filhos e, também impossibilitar a perda da sua parte na fábrica de biscoitos. Assim, apesar da violência de Orwiliano, Carmen era estimulada pela mãe a manter um casamento marcado por u

A REVOLTA DE 13 DE JULHO, OS SEUS REFLEXOS SOCIAIS E OS MÚLTIPLOS OLHARES DA HISTÓRIA

      José Anderson Nascimento* Jorge Carvalho do Nascimento**                                                                                              Qualquer processo efetivamente vivido comporta distintas leituras pelos que se dispõem a analisar as evidências que se apresentam para explicá-lo. Quando tais processos são prescrutados pelos historiadores, a deusa Clio acolhe distintas versões, desde que construídas a partir de evidências que busquem demonstrar as conclusões às quais chega o observador. Historiadores como Roger Chartier e outros intelectuais filiados a diferentes gerações de estudiosos da chamada História Cultural foram sempre pródigos em demonstrar como todos os processos permitem não apenas que a eles se lancem diferentes olhares e, também que estes sejam permanentemente revistos. Neste texto, tomamos o conhecido episódio da revolta do Treze de Julho de 1924 para analisar como a revolta ocorrida em Sergipe sob o contexto brasileiro do Tenentismo comporta distinta