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Mostrando postagens de março, 2024

O MILITANTE, O JUIZ, O ADVOGADO

      Jorge Carvalho do Nascimento*     Neste feriadão de Páscoa, descobri que além das muitas qualidades que sempre aplaudi nas memórias do advogado Osório de Araujo Ramos, há mais uma que me entusiasma e que eu desconhecia. Como eu sou, ele foi um torcedor fervoroso do Clube de Regatas Vasco da Gama. Sempre admirei o compromisso social que marcou a vida daquele importante operador do Direito. A militância no Partido Comunista Brasileiro – PCB lhe causou muitos dissabores e o levou à prisão durante nove meses, ainda estudante da primeira turma da Faculdade de Direito de Sergipe. Osório fora secretário-geral do Partidão enquanto este se manteve na legalidade, até 1947. Em 10 de dezembro de 1952, ele foi preso sob a acusação de reorganizar o Partido Comunista em Sergipe. Inicialmente foi levado a uma cela da Capitania dos Portos e em seguida foi transferido às dependências do Isolamento, um edifício anexo à Penitenciária de Aracaju, no bairro América, onde permaneceu durante nove meses.

O MENINO QUE VIU O GOLPE

                                                              João Goulart       Jorge Carvalho do Nascimento*     Alguma coisa fora do comum estava acontecendo naquela noite do 31 de março e naquela madrugada do primeiro de abril de 1964. Lá se vão 60 anos e o ambiente na casa da minha Vovó Petrina e da Tia Teresinha, onde eu morava, nunca me saiu da cabeça. A tensão estava no ar e permitia ao menino Jorge a percepção de alguma coisa fora do comum naqueles acontecimentos. Passamos a madrugada acordados. Todas as luzes da casa foram apagadas, mas protegidas pelos dois postigos frontais da platibanda da nossa casa, entreabertos, ajoelhadas sobre duas cadeiras estavam a Tia Terezinha e a Vovó Petrina trocando entre si comentários incognoscíveis ao menino de sete anos de idade que somente no dia 28 de agosto daquele ano chegaria ao seu oitavo ano de vida. O mesmo nível de incompreensão que se me impunha o som do pequeno rádio de pilhas japonês da marca Spica, modelo ST 600, um dos rádios

CULTURA, AÇÃO E REFLEXÃO NA OBRA DE LUIZ ANTÔNIO BARRETO

      Jorge Carvalho do Nascimento*     Reflexão e ação constituem elementos indissociáveis na história de vida do intelectual Luiz Antônio Barreto. A sua produção cultural está articulada com as iniciativas tomadas por ele em todas as instâncias profissionais e políticas nas quais agiu. O folclorista Bráulio do Nascimento anotou esta característica do trabalho de LAB ao escrever o texto de apresentação do livro CULTURA: UM ROTEIRO DE ALUSÕES, assinado por Luiz Antônio em 1994. “Esta motiva e impulsiona aquela, que orienta e dimensiona esta, dando-lhe uma correlação permanente com a realidade, seja na atividade prática, seja na reflexão dos diversos temas, na pesquisa e na realização de programas comuns com instituições públicas ou particulares. Essa adequação entre teoria e prática tem-se revelado uma constante nos diversos cargos públicos” (p. 11) que LAB ocupou. Falando sobre a obra poética de Luiz Antônio, o folclorista Jackson da Silva Lima, ao prefaciar o citado CUL

PACTO COM A MEMÓRIA DE LUIZ ANTÔNIO BARRETO

      Jorge Carvalho do Nascimento*     Luiz Antônio Barreto completou 50 anos de idade, em 1994. À época ele fez a sessão de autógrafos de um livro organizado a partir de uma longa entrevista de memória que generosamente me concedeu em 1992. Eu havia decupado o depoimento do amigo no mesmo ano de 1992, quando estava iniciando o meu trabalho de doutoramento em São Paulo e vivia em um apartamento da Alameda Santos, onde passei bons e maus momentos. À época, eu estudava alemão no Instituto Goethe, na rua Lisboa, bairro de Pinheiros. Quando a gramática do idioma de Goethe me fervia o juízo, eu me voltava para as micro fitas-cassete nas quais gravara a agradabilíssima conversa do inesquecível amigo. No mês de janeiro de 1993, ainda em São Paulo, trancado em meu apartamento, organizei todo o material, dividindo os textos em 10 capítulos. Com tudo organizado, escrevi uma introdução, muitos comentários e inúmeras notas. Enviei tudo a dois amigos que conheciam em profundidade o t