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Mostrando postagens de dezembro, 2020

A NECROPSIA

     Jorge Carvalho do Nascimento*     O baixinho Brasilino Silveira tinha 1,47 de altura e corpo franzino. O deboche da natureza colocou sobre o seu atarracado pescoço curto e fino uma cabeça cuja circunferência era de 76 centímetros. Para que a aberração se torne compreensível, os estudiosos da matéria indicam que a circunferência tida como normal de uma cabeça humana, a depender da idade e da estatura do adulto, oscila entre 54 e 65 centímetros. Na escola, em tempos nos quais todos praticavam o bullying sem qualquer censura ou reprovação social, o apelido que ele recebeu foi óbvio: Brasilino Cabeção. E o pior, em tamanha caixa craniana as ideias visivelmente não prosperavam. Cabeção era apoucado, como disse uma professora ao seu pai, comerciante próspero do ramo de tecidos na feira de Caruaru. Aos empurrões, com reprovações no caminho, Brasilino concluiu o ginásio e o curso científico no início dos anos 50 do século XX em Salvador, para onde se transferira e fora vive

PARA ONDE VAI A COLUNA SOCIAL? - XXX

                                              Paulo Nou     Jorge Carvalho do Nascimento*     Dizer a verdade é a função do jornalismo, de acordo com a percepção que tem desta atividade o jornalista Paulo Nou. Ele defende o compromisso que o jornalista deve assumir com a revelação da verdade, de modo objetivo e preferencialmente em poucas palavras. Segundo ele, é papel do jornalista “mostrar a quem está lendo que expõe os fatos porque viveu uma determinada realidade e viveu daquela maneira. A realidade de quem está lendo pode ser outra. O que o jornalista narra deve interessar a quem está lendo. O jornalista deve ser ponderado e não pode abusar do leitor expondo excesso de conhecimento”. Por tais razões, o jornalista deve ter muita consciência a respeito do leitor ao qual se dirige. Deve saber para quem escreve. Neste contexto, Paulo Nou fala sobre o papel reservado ao colunista social, afirmando que este profissional não pode se deslumbrar com a natureza dos fatos aos quais tem acesso

HÁBITOS À MESA - LUCIANO CORREIA - MEMÓRIAS DE JORNALISTA

 VEJA O VÍDEO NO LINK  https://youtu.be/hOuMCnhYTgs

ECONOMIA E DIREITO - PAULO BRANDÃO - MEMÓRIAS DE JORNALISTA

  VEJA O VÍDEO NO LINK  https://youtu.be/Hmd6__JCO30

O GLOBETROTTER - LUCIANO CORREIA - MEMÓRIAS DE JORNALISTA

https://youtu.be/L24Mu05rbeg  

Lembranças da Escola - Paulo Brandão - Memórias de Jornalista

  https://youtu.be/prAi_Uzs9I4

PARA ONDE VAI A COLUNA SOCIAL? XXIX

                                                    Hotel Palace de Aracaju   Jorge Carvalho do Nascimento*   Na década de 60 e até a metade da década de 70 do século XX, o Hotel Palace de Aracaju era considerado por parte da elite sergipana como um dos melhores espaços para festas, eventos e reuniões sociais. No terceiro andar ficava a área da piscina e funcionava o restaurante do hotel, considerado um espaço luxuoso e ponto de encontro dos homens de negócios e políticos mais importantes. Todavia, o jornalista Paulo Nou não considerava aquele um espaço glamouroso. “Eu tive uma prima que fez os 15 anos dela ali e não foi uma festa que se considere glamourosa. Teve um casal de empresários búlgaros que vieram de Fortaleza e tentaram transformar o espaço em um ambiente de glamour, mas não deu certo. Aracaju nunca teve um restaurante glamouroso. Aracaju e glamour não combinam”. Em um conjunto de salas daquele piso o empresário de shows Alfredinho instalou a Boate Top 7. De acordo com o col

PARA ONDE VAI A COLUNA SOCIAL? – XXVIII

                                            Piscina da Associação Atlética de Sergipe     Jorge Carvalho do Nascimento*     Paulo Nou afirma que o jornalismo e a coluna social o ajudaram a amadurecer muito, principalmente do ponto de vista da compreensão das relações sociais e das relações políticas. De modo mais visível, depois que ele começou a assinar a coluna social do jornal Diário de Aracaju. Além de realizar o trabalho comum aos diversos gêneros do jornalismo, como pautar reportagens, editar textos, redigir, publicar colunas, sempre foi também práticas dos jornalistas dedicados a coluna social, a atividade de promoter e organizador de eventos que mobilizavam os grupos sociais da elite. O jornalista Paulo Nou, titular de coluna social nos jornais Gazeta de Sergipe e Diário de Aracaju no período de 1969 a 1973, revelou em depoimento ao autor deste texto algumas festas organizadas por ele e por colunistas sociais influentes em Sergipe, como João de Barros e Pedrito Barreto. “Eu e B

QUANDO A TV ACERTA

                                                          Michele Costa e Anne Samara     Jorge Carvalho do Nascimento*     Em 15 de novembro do ano que vem estaremos celebrando os 50 anos de inauguração da primeira emissora geradora de sinal de TV instalada em solo sergipano. Se, por ocasião do aniversário, alguém me perguntar quais as mulheres mais importantes como apresentadoras de TV neste Estado, eu não terei nenhuma dificuldade em cravar os cinco nomes que mais me agradaram. As cinco, na tela da TV Sergipe. Três delas já pertencem a história da primeira e mais importante emissora de TV sergipana. As duas outras, marcam o tempo presente, a inovação. Em 1971, quando o sinal da TV Sergipe foi ao ar e a ela era afiliada da então ainda prestigiada Rede Tupi de Televisão, um rosto feminino encantou crianças adolescentes e jovens sergipanos. A Tia Nazaré Carvalho, como era chamada, estreou um programa infanto-juvenil na grade reservada a programação local O Clube Junior, que estreou em

SUTILEZA, DOÇURA E LASCÍVIA EM MURILLO MELINS

                                                  Murillo Melins     Jorge Carvalho do Nascimento*     Afirmo sem medo de errar que, aos 92 anos de idade, Murillo Melins é o escritor sergipano com mais energia, com maior vitalidade e o memorialista mais fértil em atividade. O seu livro Aracaju Romântica Que Vi e Vivi está na quarta edição, praticamente esgotada. Em breve ele terá necessidade de publicar uma quinta edição. O livro Aracaju Pitoresca e Suas Tradições é um sucesso editorial. Agora, Murillo acaba de nos presentear com ARACAJU – REMINISCÊNCIAS E DEVANEIOS. Conversei hoje com ele. Disse-me que aguarda a vacinação contra o Coronavirus para marcar a data do lançamento, que deseja presencial. Acredita que provavelmente no mês de março colocará o trabalho em circulação. O Prefácio tem a assinatura competente de Josevanda Franco. Sou grato a Murillo pelo convite que recebi para assinar as Orelhas, que os editores e especialistas contemporâneos denominam de Abas. Eu continuo prefer

PARA ONDE VAI A COLUNA SOCIAL? – XXVII

                                                Clara Angélica e Paulo Nou - 1969     Jorge Carvalho do Nascimento*     O advogado, jornalista e bancário Paulo Nou, agora com 70 anos de idade, vive atualmente em Paris. Nascido na capital do Estado de Sergipe, foi um jornalista e colunista social de muito sucesso em Aracaju no final dos anos 60 e início da década de 70 do século XX. Trabalhou nos dois jornais mais importantes que existiam em Sergipe naquele período: a Gazeta de Sergipe e o Diário de Aracaju. Saiu de Sergipe em 1973 e migrou para o Rio de Janeiro, onde com a sua formação em Direito e o domínio que tinha dos idiomas Inglês e Francês começou a trabalhar na área financeira bancária, envolvido com a Bolsa de Valores. Foi esta a porta que o levou a atuar em bancos europeus, exatamente porque além de ser fluente ao falar o seu idioma natural e duas línguas estrangeiras, também era capaz de escrever corretamente nas três línguas. Ele estreou como jornalista, fazendo coluna soci

A SANTINHA DE CLAUDEFRANKLIN

      Jorge Carvalho do Nascimento*     “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”. O professor Claudefranklin Monteiro é um intelectual que veste como uma luva a frase do escritor russo Leon Tolstoi. Nascido em Lagarto, no Estado de Sergipe, doutor em História pela Universidade Federal de Pernambuco, professor do Departamento e do Mestrado em História da Universidade Federal de Sergipe, ele é autor de uma obra que o coloca como um importante pesquisador sergipano. De curiosidade ilimitada, Claudefranklin é autor de bibliografia plural. Suas viagens criativas navegam pelas águas da poesia, pelos caminhos da Metodologia da História, da História da Educação e da História da Música. Todavia, cada vez mais, a História da Igreja Católica ganha espaço e importância na sua produção como pesquisador. O seu livro CONTRADIÇÕES DA ROMANIZAÇÃO DA IGREJA NO BRASIL – A FESTA DE SÃO BENEDITO EM LAGARTO-SE (1771-1928) o coloca em posição destacada no Departamento de Hist

VIVER E MORRER DE AMOR

      Jorge Carvalho do Nascimento*     Era o seu último dia de trabalho como agente do Departamento de Polícia Federal. Naquele ano de 1975 completaria 70 anos de idade e 28 de carreira como policial. Chegou à sede da repartição onde dava expediente, no centro da cidade do Rio de Janeiro. Ao meio dia, gavetas arrumadas, recebeu um abraço afetuoso do delegado André, o chefe da sua equipe. às 13 horas, os colegas estavam em volta de uma mesa comprida em forma de U no Bar do Arnaldo, à rua Buenos Aires, uma perpendicular da avenida rio Branco onde durante mais de 20 anos se reuniram às sextas-feiras, para comer uma paca. Faustino foi recebido com muitos aplausos pelos seus pares. Sentou em lugar destacado, à cabeceira da mesa, ao lado do delegado André. Tomou o primeiro gole de chope, com um colarinho largo, como apreciava. Olhou para a mesa ao lado e avistou uma senhora que aparentava ter cerca de 65 anos, tomando uma cerveja ao lado de uma outra bem mais jovem. Era possív

O PASSEIO DE DUTRA

                                              Palácio do Catete     Jorge Carvalho do Nascimento*     Faustino chegou ao Rio de Janeiro em março de 1931. Deixara em Itabuna dois crimes passionais que passaram a habitar os arquivos históricos, em função dos limites tecnológicos da época que não possibilitavam ao grande irmão rastrear os indivíduos e os documentos de identificação emitidos em diferentes localidades. Preparada meticulosamente, a fuga permitiu que ao desembarcar de um caminhão na capital federal ele usasse a sua identidade original que abandonara ao desertar do Exército em Aracaju no ano de 1924. Voltou a ser Antônio Faustino Viana do Nascimento. O próspero empresário Otoniel Viana que dominara a distribuição de água e a indústria de panificação do sul da Bahia, vivia agora apenas no imaginário dos cidadãos de Itabuna. Instalou-se no apartamento que alugara previamente no bairro das Laranjeiras e começou a pensar nas aplicações que fariam render as economias que havia depo

ALTAMIRA

                                                    Porto de Ilhéus - 1924     Jorge Carvalho do Nascimento*     O saveiro Caminho de Estrelas atracou no porto de Ilhéus antes das nove da manhã do dia 28 de julho de 1924. Os ventos de popa ajudaram a embarcação a vencer em 7 dias os cerca de 600 quilômetros que separavam o porto de Espírito Santo, no sul do Estado de Sergipe, do porto baiano.  Apesar da carga de açúcar que fazia a embarcação muito pesada, a viagem foi tranquila. Faustino permaneceu quase todos os dias sentado no convés. Algumas vezes descia até o porão para colaborar com as tarefas do seu cunhado Epifânio, o taifeiro da embarcação, sempre muito ocupado com as suas responsabilidades. No cais, a aguardá-los, Alfredinho, marido de Amabília, pequeno proprietário rural em Itabuna, onde começara a prosperar como plantador de cacau. Agradecimentos a Epifânio, troca de abraços, Faustino acomodou o matulão e se aboletou no lombo da mula levada para ele pelo cunhado. Um dia inte