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Mostrando postagens de dezembro, 2022

UMA NOITE COM O REI

      “Por exemplo, o rei Pelé, O maior do mundo. Sem primeiro, sem segundo, Joga bola até dormindo. É rei da bola, rei do preto, rei do branco, Quando o homem entra em campo O povo fica aplaudindo” (Jackson do Pandeiro)     Jorge Carvalho do Nascimento*     A oportunidade de viver uma noite com um rei é única e dada a poucas pessoas. Por isto nada mais natural do que ficar insone nas horas antecedentes ao encontro. Principalmente quando quem vive tal aventura é um menino com apenas 13 anos de idade, tomado pela ansiedade de ser ver diante da personalidade mítica própria aos que ocupam o trono da realeza. Reis não esperam quem chega atrasado, quem não cumpre horários. Pouco importa que o encontro estivesse marcado para as 20 horas. Era necessário chegar cedo, antes do rei. Ele é que não poderia chegar primeiro. Até porque, seria a primeira noite que sua alteza estaria naquele palácio. O menino saiu de sua casa às 13 horas. Pobre, morava num bairro distante do Palácio e necessitava reco

O ESPÓLIO DO DIÁLOGO CONDESE-SUDENE – IV

                                                Orlando Dantas     Jorge Carvalho do Nascimento*     As reações ao processo de reprodução do capital industrial brasileiro no Nordeste foram muitas e carregadas de contradições. Principalmente da parte dos que vislumbraram o prejuízo que o planejamento integrado poderia trazer aos seus interesses arraigados na economia agrária nordestina. Mas, houve uma certa trégua, um período durante o qual a Sudene esteve absolutamente à vontade. A sua obra atingiu o apogeu a partir de 1964, quando o movimento de realização plena do capital estimulou com mais intensidade o projeto de internacionalização da economia brasileira e, mais que isto, houve o esmagamento das lideranças políticas das classes populares, estimulando a integração da economia do Nordeste totalmente ao contexto da economia nacional e estrangeira. Foi um período de vacas gordas que estimulou a implantação de plantas industriais fundamentais e longevas, mas beneficiou também muitos em

O ESPÓLIO DO DIÁLOGO CONDESE-SUDENE – III

                                                Francisco de Oliveira     Jorge Carvalho do Nascimento*     Em nenhum momento o processo de criação da Sudene, em 1959, representou qualquer tipo de ameaça ao poder econômico estabelecido na região Nordeste, como chegaram a interpretar algumas lideranças mais conservadoras daquele período que se opuseram ao projeto. A criação da Sudene representava para as classes dominantes locais o esmagamento dos seus contrários. Os grupos da burguesia que realizavam o seu projeto de domínio nacional vislumbravam um outro futuro que o órgão de planejamento regional ajudou a construir. Em tal futuro, a atividade econômica realizar-se-ia nacionalmente, de maneira homogênea, hegemonizando também as práticas culturais. A Sudene ajudou a construir dissimuladamente uma completa dependência da economia da região Nordeste em face da economia brasileira de um modo geral, mas, também colaborou com o aperfeiçoamento dos padrões gerais de qualidade de vida dos nor

O ESPÓLIO DO DIÁLOGO CONDESE-SUDENE – II

                                                        Luiz Garcia       Jorge Carvalho do Nascimento*     Em Sergipe, o mesmo movimento que estimulou o surgimento da Sudene, no ano de 1959, possibilitou a criação do Conselho de Desenvolvimento Econômico de Sergipe – Condese, organizado pelo Decreto 470, de 31 de março do mesmo ano de 1959, em um conjunto de reformas administrativas promovidas sob o discurso de modernidade do Governo Luiz Garcia. O Condese, segundo tal decreto, objetivava estudar e planejar a economia sergipana, visando o desenvolvimento do Estado e também articular os seus estudos e projetos com a Sudene. Era constituído de um Conselho Deliberativo, sob a presidência do governador do Estado, e de uma Secretaria Executiva, o seu órgão técnico. O Conselho tinha caráter deliberativo e a Secretaria Executiva se transformou em um reduto de jovens economistas como Aloísio de Campos e José Cruz. Estes, ao lado de outros como Ariosvaldo Figueiredo – que não tinha vinculo dir

O ESPÓLIO DO DIÁLOGO CONDESE-SUDENE

      Jorge Carvalho do Nascimento* “Nós estávamos modificando o sistema de tomada de decisões no Nordeste” (Celso Furtado)     Faltando seis dias para o encerramento de um ciclo obscurantista da vida brasileira, reacendem-se como nunca as esperanças de que se inicie um venturoso novo período democrático, com perspectivas reais de desenvolvimento social e econômico para o Brasil, especialmente para a região Nordeste do país. Em 2023, celebraremos os 63 anos de vigência da lei 3.692, de 1959, instrumento utilizado pelo presidente Juscelino Kubitscheck para instituir a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste – Sudene, feliz sugestão do economista Celso Furtado que animou a economia brasileira. O ano vindouro, portanto, é oportuno para reabilitar a importância da Sudene como agência destinada a atuar em todo o Nordeste e no norte do Estado de Minas Gerais, que exerceu influência marcante em Sergipe. As marcas da Sudene ficaram no Estado, sejam do ponto de vista das ações de govern

JOSÉ CARLOS DE SOUZA, O GEÓGRAFO

      Jorge Carvalho do Nascimento*     De uma coisa estou convencido: o vento que permanentemente ameaça apagar a chama que mantém acesa a vela que dá luz à vida não passa de uma doce e agradável brisa que acaricia o nosso rosto quando nascemos e assim se mantem nas quatro primeiras décadas de existência dos indivíduos. São raros os registros de pessoas que receberam rajadas um pouco mais fortes na primeira metade do tempo que dura uma vida média e ainda mais escassas as anotações daqueles que foram tragados pelo turbilhão e colhidos pela morte que, inexoravelmente, em algum momento nos leva ao desconhecido. Como se fora esta reflexão o primeiro ato de um espetáculo que encenamos no palco da vida, que desça rapidamente o pano escuro da cortina e após uma batida de gongo passemos ao segundo momento. Aquele da metade dos anos 70 do século XX, nos quais ainda muito jovem eu convivia diariamente com o amigo escritor e jornalista Luiz Antônio Barreto. Foi ele a pessoa que m

FUTEBOL NO RÁDIO

      Jorge Carvalho do Nascimento*     Ainda menino desenvolvi o hábito de ouvir a narração de jogos de futebol pelo rádio, um enorme Telefunken com caixa de madeira escura, cheio de válvulas e enormes botões brancos para ligar e desligar, ajustar o volume e sintonizar as estações. Além dos três, um quarto botão era o chamado seletor de ondas – médias, tropicais e duas faixas de ondas curtas. Aquele mausoléu era conectado a uma tomada que o alimentava de energia elétrica e a um fio que descia pela parede a partir do telhado da casa onde havia uma enorme antena com cerca de 10 metros esticada em dois caibros muito altos. Era tal artefato o garantidor da qualidade da transmissão que ouvíamos. Qualidade, no caso, é um bom eufemismo para dissimular a quantidade de ruídos e descargas atmosféricas que caracterizavam as transmissões e em meio aos quais conseguíamos distinguir a voz daqueles que estavam usando o microfone. Isto, nas transmissões locais, em ondas médias. Em ond

O SILÊNCIO DE ALBERTO

      Jorge Carvalho do Nascimento*     Silenciosamente ele partiu da mesma forma discreta como atravessou a vida. Certamente, a origem familiar humilde e a necessidade de ingressar muito jovem no mercado de trabalho para gerar renda não lhe permitiram desenvolver intensamente as habilidades e competências para a arte que possuía. Mas, foi um profissional, artista e intelectual produtivo. Dele me fiz amigo de um longo e fraterno relacionamento, convívio que mantivemos em obsequioso silêncio, como era próprio ao seu estilo sisudo. A aproximação foi feita pela minha irmã mais velha, Iara, quando esta casou-se com o seu irmão mais novo, que partiu desta vida precocemente, pai da minha primeira sobrinha e afilhada, Alessandra. O menino Alberto, que nasceu em Nossa Senhora do Socorro, migrou para Aracaju e trocou os sonhos da arte pela formação de eletrotécnico na Escola Técnica Federal de Sergipe. O então valorizado diploma de nível médio e o seu bom desempenhado como aluno d