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Mostrando postagens de abril, 2021

HUMANO, DEMASIADAMENTE HUMANO...

      Jorge Carvalho do Nascimento*     Com a cabeça girando entre Friedrich Nietzsche e Jean-Paul Sartre acabei de ler o MERGULHO, de Luiz Eduardo Oliveira. Meu velho conhecido, músico de rock e professor que a carreira acadêmica na Universidade Federal de Sergipe se encarregou de nos transformar em grandes amigos. É um texto assim mesmo, humano, demasiadamente humano. Tal como é a condição humana, com suas angústias existenciais que nos fazem oscilar entre a vontade de decolar daqueles balanços que nos colocam no alto e mergulhar no azul piscina da incerteza. Nos permite a entrega aos chamados da modorrenta responsabilidade que nos embolora, prolonga a vida e nos faz autômatos. Há uma outra dimensão. A do risco dos prazeres que algumas vezes nos emocionam com a vertigem dos impulsos para decolar em voos que partem das mesmas plataformas de balanços que nos jogam para o alto, nos deixam nus prontos a mergulhar no azul infinito e ganhar o pódio sob os suspiros da torcida de um time des

DOMINGUINHOS EM PAPEL E TINTA

      Jorge Carvalho do Nascimento*     Durante o primeiro semestre do ano de 2020 acompanhei pela TV, pelo rádio e por alguns blogs, várias entrevistas do jornalista Luciano Correia, presidente da Fundação Cultural da Cidade de Aracaju – Funcaju, acerca da importância da aplicação dos recursos colocados à disposição de artistas e produtores de arte pela chamada Lei Aldir Blanc. Desde 1985 mantenho com Luciano Correia uma sólida relação de amizade. Sei da sua competência e da responsabilidade com a qual se pauta. Todavia, confesso que relutei em comungar do entusiasmo do amigo e cheguei a duvidar dos bons resultados que se obteria a partir dos estímulos da Lei Aldir Blanc. Admito agora que a realidade me obrigou a morder a língua. Acabo de fazer a leitura do livro DOMINGUINHOS... E VAMOS NÓS! que tem como autor o professor Lucas Campelo, exatamente com o uso dos recursos da Lei Aldir Blanc. Aos 37 anos de idade, o aracajuano Lucas é licenciado em música, pianista e mestre

AS MUITAS FACES DE LUIZ TEIXEIRA

                                                  Luiz Antonio Mesquita Teixeira     Jorge Carvalho do Nascimento*     O terceiro dos sete filhos de Oviedo Teixeira e Alda Mesquita Teixeira, o engenheiro civil Luiz Antônio Mesquita Teixeira, morreu neste sábado, 24 de abril de 2021, 79 anos após o seu nascimento no dia 20 de junho de 1941. Seu irmão mais velho, José Carlos Teixeira foi importante liderança política em Sergipe, tendo exercido cinco mandatos de deputado federal, um de vice-governador, além de ter sido prefeito de Aracaju. Luiz Antônio Teixeira, o seu irmão Tarcísio e o seu pai, Oviedo, sempre ofereceram a José Carlos o necessário suporte econômico e de mobilização de lideranças locais e infraestrutura que possibilitaram a este o exercício da condição de chefe político da família e da oposição à ditadura militar entre os sergipanos. O patriarca Oviedo chegou a exercer um mandato de deputado estadual. Luiz Antônio e Tarcísio sempre atuaram nos bastidores. À família Teixeir

23 DE ABRIL - DIA DE SÃO JORGE - DIA DO ESCOTEIRO

                                              Na foto (a partir da esquerda): Fernando Goes, não identificado, não identificado, Germínio Goes, Eduardo Seabra, Jorge Carvalho, Eliel e Gilson Santos. Ingressei no movimento escoteiro aos 11 anos de idade. Aprendi lições que me serviram para toda a vida. Em 2008, publiquei o livro A ESCOLA DE BADEN-POWELL: CULTURA ESCOTEIRA, ASSOCIAÇÃO VOLUNTÁRIA E ESCOTISMO DE ESTADO NO BRASIL. Aprendi com Robert Baden-Powell, o fundador do Escotismo, várias lições que ele extraiu do protestantismo. Principalmente, formas de conduta, modos de vida, atitudes mentais que, sob a sua ótica, produziriam a felicidade para os homens. No Escotismo, Deus e o homem sempre estiveram interligados. Sob os ensinamentos de Baden-Powell, a vida só tem sentido quando está sujeita a Deus e a sua lei. De princípios religiosos fortemente arraigados no anglicanismo, Baden-Powell também transferiu para o Escotismo alguns elementos da tradição religiosa inglesa, como o culto a

O CULTURALISMO DE SÍLVIO ROMERO NA CELEBRAÇÃO DOS 170 ANOS DO SEU NASCIMENTO

                                                      Sílvio Romero   Jorge Carvalho do Nascimento*     As primeiras sementes do Culturalismo foram plantadas na consciência de Sílvio Vasconcelos da Silveira Ramos Romero ainda em 1863, antes dos seus 13 anos de idade, quando ele recebeu as primeiras lições de Filosofia do professor Joaquim Veríssimo no Atheneu Fluminense, na capital da Corte do Império. Mudara para lá naquele mesmo ano, deixando para trás a vila de Lagarto, onde nasceu em 21 de abril de 1851. Ao longo da sua vida foi advogado, jornalista, crítico literário, ensaísta, poeta, historiador, filósofo, cientista político, sociólogo, escritor, professor e político. Assumiu definitivamente as teses do evolucionismo e do culturalismo alemão quando foi aluno da Faculdade de Direito do Recife. Estas, exerceram uma grande influência que não tem sido considerada por boa parte dos estudos de História e Filosofia no Brasil. A expressão da cultura alemã durante o século XIX foi bem fo

A MISSÃO DE WILLIAM

      Jorge Carvalho do Nascimento*     Na infância e na adolescência, algumas vezes levado por meu pai e outras tantas pela minha tia Terezinha, acompanhei os desfiles cívicos do dia sete de setembro que aconteciam inicialmente na praça Fausto Cardoso e na rua João Pessoa e depois foram transferidos para a avenida Barão de Maruim. A mística dos heróis da Segunda Guerra habitava o meu imaginário de criança e adolescente. Era pura emoção o desfile dos expedicionários sergipanos, heróis de guerra. Um deles em especial, Zacharias, normalmente era o mais aplaudido, de quem se dizia haver sobrevivido a uma rajada de metralhadora disparada por soldados alemães. Ali estava a cada ano o velho Zacarias de sempre, perfilado sobre um jeep e levando a multidão ao delírio, orgulhosa de um passado visto como heroico. Ele participou da famosa tomada do Monte Castelo, em território italiano. Meu avô paterno, Epifânio, taifeiro em um dos saveiros que fazia navegação de cabotagem pelos por

A OPÇÃO PELOS POBRES

                                                    Irmã Dulce     Jorge Carvalho do Nascimento*     Talvez por haver assumido a consciência de que o sofrimento purifica, a Irmã Dulce visitava diariamente o hospital, na cidade de Salvador, Estado da Bahia. Em primeiro lugar, os pacientes de maior gravidade, portadores de doenças contagiosas. Preferia os tuberculosos e os portadores de outras enfermidades graves. Distribuía abraços e nas visitas recusava as luvas, máscaras e aventais que enfermeiros e médicos lhe ofereciam. Sofria de todas as formas possíveis. Diferente das suas irmãs de congregação, usava um hábito pesado, de tecido grosso e pouco adequado ao calor da Bahia. Comia muito pouco e dormia uma quantidade mínima de horas. Uma das suas formas de penitência, durante mais de três décadas, foi atravessar a noite sentada em uma cadeira de madeira ao lado da cama. Nunca deitava e não usava qualquer tipo de estofamento no assento ou no encosto da cadeira. Dentre as suas práticas pe

ORIGEM SOCIAL E VOCAÇÃO RELIGIOSA FEMININA

      Jorge Carvalho do Nascimento*     No final do ano de 1927, quando passou as férias escolares na casa da tia, Maria Rita tomou a decisão de ser freira e no início de 1928, antes de completar 14 anos de idade, tentou ingressar no Convento do Desterro. A pouca idade a impediu, mas, persistente, aos 15 anos voltou a procurar o mesmo Convento. Para conseguir realizar o seu objetivo de cultivo da vocação religiosa, Maria Rita recebeu o apoio do frei Hildebrando Kruthaup, de quem tornar-se-ia amiga e depois da ordenação dela seria o seu principal parceiro de trabalho nos primeiros anos de atuação. Partiu dele a iniciativa para que Maria Rita fosse aceita, em 1933, como postulante no Convento do Carmo, em São Cristóvão, no Estado de Sergipe. Maria Rita conheceu Frei Hildebrando em 1930. Naquele período, aos 16 anos de idade, ela começou a frequentar a Ordem Terceira da Penitência, atualmente Ordem Franciscana Secular, que trabalha orientando leigos a adotarem as práticas de

O SOFRIMENTO DA SANTA

                                              Santa Dulce dos Pobres     Jorge Carvalho do Nascimento*     Graciliano Rocha, o mais importante dentre os biógrafos da Santa Dulce dos Pobres nos mostra que sofrimento foi a grade marca da sua vida. O seu livro, DULCE, A SANTA DOS POBRES, publicado pela editora Planeta, é certamente o mais completo dentre os trabalhos até agora publicados acerca da Santa Dulce. A primeira brasileira canonizada, nascida Maria Rita de Souza Brito Lopes, conheceu o seu primeiro grande momento de dor aos sete anos de idade, quando perdeu a mãe, Dulce de Souza Brito, em face de sangramento puerperal que lhe tirou a vida, em 1921. A menina Maria Rita tinha sete anos de idade e a sua mãe era uma jovem de 26 anos. Sua família era bem posicionada socialmente e também do ponto de vista econômico. Maria Rita veio ao mundo no dia 26 de maio de 1914, na capital do Estado da Bahia, em uma família religiosa, católica, porém pouco opressiva no modo como educava os filhos.

JOSÉ SILVEIRA E GERALDO LEITE

                                            José Silveira                                             Geraldo Leite         Jorge Carvalho do Nascimento*     O médico sergipano Geraldo Leite construiu na Bahia uma bem sucedida carreira profissional que o projeto como professor titular da Escola Baiana de Medicina, fundador e primeiro reitor da Universidade Estadual de Feira de Santana, membro da Academia de Medicina da Bahia, presidente da Fundação José Silveira e atualmente presidente do Conselho Diretor da mesma instituição. Nascido em Aracaju no ano de 1926 e vivendo em Salvador desde que estava se preparando para ingressar no curso de Medicina, onde colou grau em 1950, aos 95 anos de idade continua ativo como presidente nacional da Academia Brasileira Rotária de Letras – ABROL. No mesmo Rotary Internacional foi governador do Distrito 4550. Dentre as muitas relações acadêmicas e de amizade que cultivou, durante toda a vida foi ligado ao médico e pesquisador baiano José

VACHINADO

      Jorge Carvalho do Nascimento*     Acordei cedo. Entrei no banheiro e saí bem lavado e enxaguado. Uma festa. Iria tomar a esperada primeira dose da vacina contra o Coronavirus. Meu estado de espírito experimentava uma sensação que estava arquivada de há muito em minha memória. Aquele mesmo gostinho que eu sentia aos sábados quando era criança e que me arrumava para ir à feira com a minha Vovó Petrina. Me arrumei tentando parecer moderno e descolado, num estilo compatível com o ano de 2021. O meu estilo 2021, o mesmo de 2019, a última vez que fui a uma loja comprar calças e camisas. Passei o ano de 2020 e o primeiro trimestre de 2021 em bermudas, camiseta e sandálias havaianas (a boa e velha japonesa). Tive o cuidado de fazer o cadastro prévio para o Drive Thru. Código nas mãos, tomei um susto com a fila de veículos que dava a volta no Parque da Sementeira e terminava em uma rua lateral, quase no cruzamento com a avenida Tancredo Neves. Ester desligou o motor, mas log