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Mostrando postagens de julho, 2021

OLIMPÍADAS, JAPONESES E TERRAPLANISTAS

      Jorge Carvalho do Nascimento*     A cada quatro anos, sempre em um ano par, a reflexão a respeito de questões postas pelos jogos olímpicos toma conta dos meus pensamentos e faz com que eu me assuste diante da minha ignorância, que neste caso cabe bem chamar de olímpica, acerca de questões esportivas. A situação está mais aguda neste 2021, quando estamos celebrando a realização de jogos olímpicos em ano ímpar. Este é o primeiro estranhamento. Afinal, Olimpíadas são realizadas a cada quatro anos. A última edição foi em 2016. A pandemia Covid-19 transformou quatro anos em cinco ou cinco anos em quatro? Outra dúvida que eu não sei responder. Para debochar ainda mais de mortais comuns e ignorantes quanto aos esportes como eu, os Deuses do Olimpo (no caso, os Deuses do Comitê Olímpico Internacional – COI) deliberaram ser a cidade de Tóquio, no Japão, o espaço geográfico adequado para isto. Pela primeira vez tive o desejo de ser correta a tese dos terraplanistas. Me convenci definitivam

ANGÚSTIA OLÍMPICA

                                                Simone Biles     Jorge Carvalho do Nascimento*     Repercutiu muito a angústia depressiva da ginasta norte-americana Simone Biles, detentora de 31 medalhas de competições olímpicas e de campeonatos mundiais. Em meio a Olimpíada que se disputa atualmente no Japão, ela se submeteu a uma avaliação médica e optou por se ausentar das disputas e cuidar da sua saúde mental. Os problemas de saúde mental entre atletas de alto rendimento são mais comuns do que se possa supor. O físico escultural, a fama, o estrelato, os recordes e as vantagens econômicas oferecidas pelos patrocinadores não são nenhuma garantia do gozo de uma boa saúde mental. Há uma angústia latente e permanente para todos eles, dada pelo fato de possuírem carreiras que garantem ascensão rápida e sucesso retumbante a pessoas que em boa parte dos casos são portadoras de histórias de vida com infância e adolescência marcadas por situações de pobreza extrema e famílias nem sempre ajus

O CONSERVADOR ICONOCLASTA CHOCOU OS CONSERVADORES

                                              Luiz Adelmo     Jorge Carvalho do Nascimento*     Jornalistas que fazem coluna social normalmente são vistos como pessoas que vivem promovendo a vida glamourosa de ricos e poderosos e em alguns momentos entendidos como profissionais que se dedicam a bajular os grupos da elite econômico e os filhos das famílias ditas tradicionais. Nos últimos anos tenho me dedicado a estudar, pesquisar e escrever sobre o tema e quanto mais me aprofundo fico convencido de que não é bem assim. A coluna social, como qualquer outra prática humana comporta as distintas dimensões daquilo que somos nós humanos no modo como vemos os outros e como somos vistos pelas outras pessoas. A morte nesta terça-feira, 20 de julho de 2020, do jornalista Luiz Adelmo Soares de Souza, outra vez me chama a atenção para o quanto todos nós somos complexos e contraditórios. Inteligente e sagaz, ele encarnou ao mesmo tempo, ao longo da sua produtiva vida, distintos personagens que o fi

A LONGA ESPERA PELA TV SERGIPE

      Jorge Carvalho do Nascimento*     Foi longa a espera dos dirigentes da Rádio Televisão de Sergipe S. A. até que o Ministério das Comunicações concedesse a autorização definitiva para que a TV Sergipe tivesse condições de operar comercialmente, com regularidade. Demorou até que os sergipanos assistissem a transmissão dos programas gerados em Aracaju e a retransmissão dos programas gerados no Rio de Janeiro e em São Paulo, com o mínimo de qualidade. Mesmo tendo sido a empresa completamente constituída e registrada em 1967, foram quase quatro longos anos aguardando a autorização definitiva e a organização da equipe que iria operar as suas atividades. A luta envolveu não apenas os seus acionistas e dirigentes, mas também políticos locais que se dispuseram a colaborar tentando fazer com que o Ministério das Comunicações deferisse mais rapidamente o requerimento dos sergipanos. Em dezembro de 1970, não obstante sucessivas promessas, todas frustradas, o governo federal ain

O CIRINEU DA TV SERGIPE - IV

                                            Edifício Estado de Sergipe - Em construção       Jorge Carvalho do Nascimento*     O entusiasmo de Irineu Fontes e a sua capacidade de reunir em torno da proposta outros grandes nomes que comungavam com ele dos mesmos ideais, como Nairson Menezes, além dos empresários investidores que ajudaram a viabilizar a ideia, terminou entusiasmando todos os sergipanos. Nairson foi o grande vendedor das ações da nova empresa. Colocar a TV Sergipe em funcionamento se transformou em questão de honra. O poder público resolveu se somar ao projeto e a Prefeitura de Aracaju fez a doação de uma área de terra de sua propriedade no Morro da Piçarra, bairro Cidade Nova, para que ali fosse construído o edifício que sediaria os escritórios, os estúdios e os equipamentos de geração, reprodução e transmissão, além da torre. Organizada a empresa, Josias Passos, o maior acionista, designou o seu filho, Getúlio Dantas Passos, também detentor de uma grande q

O CIRINEU DA TV SERGIPE - III

                                              Reunião dos primeiros acionistas - 1966     Jorge Carvalho do Nascimento*     A escolha do Morro do Urubu como espaço adequado na cidade para a instalação da torre repetidora do sinal da TV pernambucana Jornal do Comércio foi feita pessoalmente pelo próprio Irineu Fontes. Do mesmo modo, ele regressou a Aracaju no caminhão que trouxe de São Paulo o moderno equipamento. Também da cidade de São Paulo vieram os técnicos da empresa Empire encarregados de montar e fazer funcionar a torre da TV, como era chamada pelas pessoas. É verdade que o poder irradiante era pequeno e o sinal não primava por qualidade elevada, mas isto não turbou a magia da transmissão simultânea de sons e imagens que encantaram os habitantes da capital do Estado de Sergipe. A tarefa de manter a torre repetidora funcionando não era simples. No Morro do Urubu, onde foi instalada a antena, não havia energia elétrica. Para alimentá-la foi necessário adquirir um gerador movido a

O CIRINEU DA TV SERGIPE - II

                                                Irineu Fontes     Jorge Carvalho do Nascimento*     À medida que os filhos cresciam, Irineu Fontes percebeu que necessitava aumentar a sua renda. A remuneração auferida com o trabalho de gerente na loja do seu pai, José Domingues Fontes, não era mais suficiente. Não era possível manter o padrão de vida de antes. Agora, era necessário alimentar e educar a prole. Com a sua experiência de comerciante, decidiu permanecer no mesmo ramo de atividade do seu pai e resolveu se estabelecer como representante comercial dos fabricantes de tintas e ferragens, vendendo para os Estados de Sergipe, Bahia e Alagoas. Viajou para São Paulo e fez contato com várias fábricas, inclusive com a indústria de tintas Ypiranga que a sua família representava em Aracaju. Sem sucesso. Um amigo que vivia em São Paulo e conhecia bem o comércio e a indústria, sugeriu que o ramo promissor naquele momento seria outro e o apresentou a algumas indústrias fabricantes de aparel

O CIRINEU DA TV SERGIPE - I

                                              Irineu Fontes     Jorge Carvalho do Nascimento*     Peço licença ao amigo publicitário, músico e gestor público Irineu Fontes para ser pouco original e tomar por empréstimo o título de um artigo publicado por ele, no segundo domingo de agosto, dia dos pais do ano de 2019. “Viva os pais! O Cirineu da Televisão Sergipana” foi o título original do artigo de Irineu. Ali, Neu, o filho, traçou um perfil do pai que me serviu de suporte neste texto. Cirineu é o genitivo das pessoas que nasceram na cidade de Cirene. Mas, também se diz Cirineu daqueles que empreendem ou colaboram com trabalhos penosos, a exemplo de Simão Cirineu que ajudou Jesus Cristo a carregar a pesada cruz no caminho até o Monte Calvário.   No texto em que homenageou o seu pai, o publicitário Neu Fontes falou do outro Irineu Fontes, aquele bem mais velho que, pelas suas ações, se fez pioneiro da televisão em Sergipe, um Cirineu. O seu espírito irrequieto levou desde cedo o menino

A LUA E A TV SERGIPE

                                              Nairson Menezes     Jorge Carvalho do Nascimento*     Sentado ao lado do meu avô Epifânio, o meu fascinado olhar de menino curioso estava num nível de encantamento inexplicável. Não tenho dúvida que aquela sensação de aventura eriçou todos os meus pelos, coisa que não era difícil naquela fase da vida. Nem mesmo a má qualidade da transmissão precária, num período em que o sinal de TV no Estado de Sergipe era recebido em Aracaju por uma antena repetidora instalada no Morro do Urubu, conseguiu turbar o meu entusiasmo. Aquela transmissão, contudo, foi feita diretamente pelos equipamentos que estavam chegando para a TV Sergipe. A chegada do homem à lua encantava alguns que eram até tidos como tolos e suscitava incredulidade em outros que se consideravam experimentados e vividos, como era o caso do meu avô Epifânio. Ele repetia insistentemente: “Jorge, deixe de ser besta. Isto é propaganda dos americanos, filmado lá mesmo e transmitido no mundo t