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Mostrando postagens de maio, 2020

WAS IST DAS?

    Jorge Carvalho do Nascimento*     “Entschuldigen Sie bitte”. Little Dê virou-se para mim assustada e perguntou: “meu pai, que fiz para receber esta grosseria? Eu estava parada. Quem esbarrou em mim foi ele”. Imediatamente expliquei a ela que a expressão pronunciada em voz tonitroante à porta do trem do metrô por um alemão ruivo que media dois metros de altura por quase dois de largura era um pedido de desculpas, justamente pelo esbarrão. Ela, aos 12 anos de idade e vivendo os sabores do primeiro dia da sua primeira viagem ao exterior, acabara de ser apresentada aos mistérios fonéticos da língua dos germânicos. Limitou-se a exclamar, interrogando: “Virgem! E isto é um pedido de desculpas?” Li, minha outra filha, então com 13 anos, assistia a cena atônita e em silêncio. Ambas desembarcaram na tarde anterior no aeroporto de Frankfurt, onde eu as aguardava. Elas foram passar as férias escolares comigo. Estava fazendo meu estágio de pesquisa como bolsista de doutorado no

C

Conversa sobre Educação, Tecnologia, Nostalgia, História, Mudança, Inércia e tanto mais. Discute o que tem sido chamado de Novo Normal. Live realizada por Mariana Sampaio no Instagram @mmunizsampaio

MÉTODO E PESQUISA EM EDUCAÇÃO

C onversa com alunos de Mestrado sobre Metodologia e Pesquisa Educacional. Discute o problema do uso da teorias e a relação Teoria X Empiria na pesquisa em Educação. Põe em relevo a contribuição da pesquisadora Zaia Brandão ao debate sobre a pesquisa em Educação no Brasil.

A PANDEMIA, A NOVA REALIDADE E A ESCOLA PÚBLICA

     Conferência de Jorge Carvalho do Nascimento na Academia Sergipana de Letras. Discute desigualdade social, desigualdade escolar e dificuldades para o uso das TICs pelos alunos da escola pública.       

CAJU, CASTANHA, AZEITE QUENTE

Jorge Carvalho do Nascimento* Quando comecei a observar e indagar sobre o espaço urbano, chamou a minha atenção um buraco quadrado rente a caçada que existia nas casas com fachada em platibanda. Logo percebi que nos dias de chuva por ali saía muita água. Mistério desfeito. A platibanda trouxe um problema construtivo que a Engenharia solucionou. O escoamento da água que cai do telhado, já que aquela fachada alta não permite que as telhas a ultrapassem. A água do telhado é recebida por uma bica e esta conduz todo o líquido a um cano embutido na parede da platibanda que leva a água até aquele tal buraco quadrado encostado na calçada. Mas, além de esgoto pluvial, aquele buraco possibilita outros usos. Sempre festejei a chegada do verão pela temporada de sol e calor e pela abundância de frutas, principalmente na região Nordeste do Brasil. Mangas, jacas, abacates, abacaxis, acerolas, bananas, carambolas, laranjas, limões, mamões, maracujás, melancias, pitangas, sapotis e ca

AMIGOS PARA SEMPRE

Jorge Carvalho do Nascimento* A receita era simples, porém requeria algum esforço físico. Três espigas de milho seco e três de milho verde. Raladas, tudo era misturado num vaso, colocado sal a gosto, regado com água para a massa ficar úmida e uniforme. Mexia-se com as mãos e a massa era posta a descansar um pouco, enquanto se ralava um coco seco. Hora de pegar o Cuscuzeiro, panela especial para cozimento a vapor. Na parte inferior, água. Logo uma placa de alumínio cheia de furinhos. Ajustada a placa, colocada a massa do cuscuz sobre ela e a tampa da panela, em dez minutos de cozimento estava pronta a iguaria, indispensável à mesa do café da manhã dos nordestinos. Enquanto o cuscuz era cozido, o coco ralado era colocado em um pano limpo. Sobre ele, muita água. Bem fechado o pano e espremida a massa do coco ralado misturada com água, obtinha-se o leite de coco. À mesa, cada um cortava uma ou duas fatias do cuscuz e colocava no prato. Regava-se com leite de coco e também

SUA EXCELÊNCIA, GELOMATIC

  Jorge Carvalho do Nascimento*   A fachada da platibanda era verde e branca, rasgada por uma porta e duas janelas. Do lado esquerdo, a porta era em duas folhas pintadas de verde que se abriam e fechavam independentemente. Juntas, elas mediam entre 70 e 80 centímetros de largura. A altura de um pouco mais de 2 metros incluía a bandeira de treliças que a encimava e servia para auxiliar na ventilação e na iluminação da casa. Na parte externa, a metade inferior das duas folhas da porta eram adornadas com almofadas em madeira, enquanto na parte superior um quadrado que continha treliças protegidas por um postigo que durante o dia ficava aberto, também para assegurar a boa circulação do vento, e à noite permanecia fechado para garantir a privacidade e a segurança dos moradores. À direita da fachada, duas janelas com as mesmas características da porta, à exceção das medidas: 1,20m X 1,20m. Na segunda metade da década de 1960 foi necessário arrancar a porta para dar acesso a enorm

A BALA REDONDA

    Jorge Carvalho do Nascimento*     No final da década de 1960 e nos primeiros anos da década seguinte, a Estação Rodoviária Governador Luiz Garcia era um prédio bonito, moderno e confortável, inaugurado em 1962. Na segunda metade da década de 60 e até 1974 era hábito da minha mãe, Maria Ivanda, e da minha avó materna, Dona Petrina, ir à Estação Rodoviária no mês de janeiro para acompanhar o embarque da minha tia, Terezinha. A irmã da minha mãe era uma mulher moderna, bonita, elegante, de sucesso e bem vestida, formada em Ciências Contábeis e talvez a pessoa com melhor renda da família. Alta funcionária, como me acostumei a ouvir nas conversas em que Dona Petrina gabava os méritos da sua filha diante de outras pessoas. A Tia Terezinha era leve, sensível, delicada e carinhosa com todos, especialmente com os sobrinhos. Solteira, enchia de mimos e atenções principalmente a Iara (minha irmã mais velha), a mim e ao meu primo Luiz Carlos (filho da Tia Santaninha, irmã mais

BANANA SPLIT COMBINA COM CINEMA

Facebook JorgeNascimento Carvalho BANANA SPLIT COMBINA COM CINEMA Jorge Carvalho do Nascimento * A primeira vez que fui a um cinema chic, estava acompanhado da minha tia, Terezinha de Jesus Carvalho. Levado por ela ao elegante Cine Palace de Aracaju, na rua João Pessoa, a mais requintada sala de projeções que existia em Sergipe, inaugurada no primeiro dia de janeiro de 1956. A Tia Terezinha, irmã da minha mãe, como afirmavam os mais velhos da família, era alta funcionária.   Tradução: com sua formação em Ciências Contábeis, era servidora pública federal concursada do à época Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários – IAPI. Aspirou ser advogada, mas a rigidez moral de Dona Petrina não permitiu. Advocacia era coisa para homens. Uma filha dela jamais lidaria com crimes e disputas por herança, coisas próprias ao campo do Direito de Família e das Sucessões. Ou mesmo com contratos comerciais e execuções de cobranças. Tudo no Cine Palace encantava. A começar d