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Mostrando postagens de outubro, 2020

MURIBECA, A TELEFONIA E A HISTÓRIA DE SERGIPE

      Jorge Carvalho do Nascimento*     Desde que iniciei a minha atividade como professor universitário até agora, frequentemente sou procurado por estudantes de diferentes cursos de graduação na área de humanidades, alunos de cursos de especialização, estudantes de mestrado e doutorandos em busca de objetos de estudo que contemplem a vida da sociedade sergipana. Os que chegam argumentam que há muito pouco a estudar em Sergipe. Alegam a dificuldade em localizar temas e recortar objetos ainda não estudados. A vida de professor e orientador de monografias, dissertações e teses me levou a organizar uma lista de temas que debato com os interessados. A partir dela já foram produzidos inúmeros trabalhos. Os temas sempre aparecem casualmente, decorrência dos estudos e leituras que faço ou de outras pesquisas que desenvolvo. Quando isto ocorre, eles são listados no rol de temas e objetos próprios à História de Sergipe que guardo com muito cuidado e que termina sendo muito útil. Esta semana, f

O PADRE E A PESQUISA EDUCACIONAL

  Jorge Carvalho do Nascimento*     O Padre José Lima Santana é um intelectual plúrimo. Se ordenou sacerdote na maturidade, depois de haver cumprido uma bem sucedida carreira como professor, advogado, gestor público e escritor. Membro da Academia Sergipana de Letras, foi secretário de Estado em Sergipe e secretário municipal em Aracaju, em diferentes pastas e distintos períodos. Demonstrou sua capacidade como gestor dirigindo escolas e também atuando na gestão central da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade – CNEC, onde se iniciou profissionalmente como professor. Trabalhou no Ginásio de Nossa Senhora das Dores, a sua cidade natal. Dentre outras responsabilidades de gestor, foi secretário de Estado da Saúde de Sergipe, presidiu a Companhia de Saneamento do Estado – Deso, foi Superintendente dos Transportes do município de Aracaju, além de presidir a Empresa Municipal de Obras e Urbanismo – Emurb e também a Empresa Municipal de Serviços Urbanos – Emsurb. Agora, como sacerdote, alé

PARA ONDE VAI A COLUNA SOCIAL? XXV

      Jorge Carvalho do Nascimento*     O jornalista Luiz Daniel Baronto chamou a atenção, em depoimento ao autor deste texto, para uma característica do colunismo social em Sergipe que vigorou até o final da década de 60 do século XX: o amadorismo. Praticamente as formas de remunerar o trabalho de quem escrevia coluna social eram simbólicas. Alguns jornalistas trabalhavam voluntariamente, assumindo a responsabilidade por esse tipo de atividade. De acordo com Baronto, “naquele tempo nem passava pela cabeça de um colunista da época ganhar qualquer coisa escrevendo. Nós não tínhamos nem carteira profissional assinada. Nem éramos pagos para fazer a coluna social. Nós fazíamos por diletantismo, gostávamos de fazer, mas não ganhávamos nada”. A coluna social somente se transformaria em um negócio rentável a partir da década de 1970. Alguns jornalistas tiveram competência para negociar com os donos de jornal e fazer com que se elevassem os resultados econômicos da atividade, seja através da r

O FETICHE DOS SEIOS

      Jorge Carvalho do Nascimento*     Há algumas pessoas que sustentam a hipótese segundo a qual os peitos femininos se tornaram objeto de desejo erótico e do fetiche de homens e mulheres após a revolução de costumes que dominou o mundo, principalmente a partir da metade do século XX com o registro de momentos icônicos como o conhecido ato da queima dos sutiãs, nos Estados Unidos da América. Para os que advogam tal posição, o fetiche teria se tornado mais intenso ainda com o uso médico do avanço tecnológico experimentado pela indústria de próteses em silicone, que cada vez mais tornou possível o aumento de volume das mamas e o seu aformoseamento sem maiores prejuízos à saúde da mulher. Relutei em tornar pública a reflexão presente neste texto, mas é impossível negar a História. Sob a minha ótica, a preocupação de homens e mulheres com o erotismo dos seios femininos, bem como a preocupação com o seu aformoseamento e ganho de volume de modo artificial, é antiga e deixou marcas da sua p

PARA ONDE VAI A COLUNA SOCIAL? XXIV

                                            Luiz Daniel Baronto       Jorge Carvalho do Nascimento*     Publicar coluna social sempre foi um fascínio que impactava não apenas os leitores. Também os jornalistas se encantavam com a repercussão das coisas que conseguiam escrever e publicar. Luiz Daniel Baronto, colunista social influente na mídia do Estado de Sergipe ao longo da década de 1960, relatou em depoimento ao autor deste texto que buscava sempre a repercussão das coisas que escrevia. Para Daniel Baronto, era “formidável você escrever aquilo e no dia seguinte pegar no jornal e depois ver e ouvir as reações do público. Eu mesmo sentia um prazer muito grande. Era como se eu tivesse feito e estivesse aparando um filho. E depois, fazia também a minha autocensura” Publicar jornais na década de 60 do século XX era uma epopeia. A coluna social ganhou muita importância com o uso intensivo da fotografia. Todavia, os jornais mais modernos da metade do século XX utilizavam o sistema de lino

VIRGULINO, SEBASTIÃO E O PUNHAL

                          Punhal doado por Lampião a Sebastião Baronto     Jorge Carvalho do Nascimento*     - “Estou incomodando”? A voz rouca e grave modulada em alto volume pareceu agressiva aos tímpanos no mesmo momento em que as narinas foram tomadas pelo forte e inevitável odor de banho vencido que molestou a sensibilidade do sisudo e refinado Sebastião Baptista Baronto, delegado do Imposto de Renda em Sergipe. Servidor Público Federal, sacolejou durante mais de quatro horas pela estrada de rodagem que ligava Aracaju ao próspero município de Capela, onde fora inspecionar os papéis da Intendência. Antes das nove da manhã estava instalado na pensão na qual faria as refeições e pernoitaria, para na manhã seguinte embarcar no Jeep em que viajava e fazer o percurso de volta. Às 10 da manhã do dia 24 de outubro de 1929, envergando seu terno de linho branco e gravata preta, estava sentado no gabinete do intendente Antão Correia de Andrade, o “Correinha”, major da Guarda Nacional, aparen

O RESTAURADOR INGLÊS E O PADRE BARONTO

                                                        Padre Baronto     Jorge Carvalho do Nascimento*     O trabalho ficou perfeito. A imagem da Virgem de Nossa Senhora das Dores estava depauperada quando chegou às mãos do artista. Habilidoso, ele fixou o pescoço da Santa, que estava descolado, repintou a sua cabeça e as mãos, fez os pés com pasta Paris e a vestiu com uma roupa de algodão grosso, pregando-a e colando-a. Por fim, pôs um novo pedestal no meio e duas lâminas de ferro embaixo de tudo. Nossa Senhora das Dores estava pronta para continuar recebendo nos altares a atenção dos fiéis. Os detalhes do trabalho de restauro, concluído em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, em 20 de dezembro de 1883, foram narrados por Delmiro Joseph Baronto e custou a importância de cem mil reis, pagos por Dona Tiodoninha, a tesoureira da Paróquia que possuía a imagem. Ao concluir todo o processo, Delmiro escreveu de próprio punho, em língua inglesa, um relato do trabalho e um resumo da sua histór