Jorge
Carvalho do Nascimento*
É claro que o
colunismo social se construiu não apenas em torno do glamour, mas também
mostrando um pouco facetas nada elogiáveis das relações entre os indivíduos.
Brigas no high society, conflitos entre casais, comentários sobre a
gravidez indesejada das filhas da elite.
Algumas vezes essa
busca obsessiva pela intimidade dos influentes produziu tragédias e o mais
clássico dos exemplos é, certamente, o da morte de Diana Spencer, ex-Princesa
de Gales que fora casada com o Príncipe Charles e mãe do príncipe William, o
segundo na linha sucessória da rainha Elisabeth.
É claro que algumas
questões a respeito da vida privada de personalidades públicas merecem algum
tipo de registro. Não necessariamente com o espaço que é dedicado pela mídia a
esse tipo de noticiário, uma avalanche diária de reportagens, como se houvesse
algo de sobrenatural na vida privada das pessoas, ou como se fosse fundamental
à sobrevivência da espécie saber qual o menu da última recepção oferecida pela
mulher de um importante industrial.
O colunismo social
fez com que muitos jornais e revistas perdessem a sua sisudez. Foram abertos
espaços para a futilidade, para o savoir vivre. Todavia, o espaço
dedicado à fofoca cresceu de modo desproporcional às demais seções do
noticiário, o que leva a uma reflexão indagando se aquilo que é mesmo
importante do ponto de vista jornalístico é o que efetivamente vende jornal e
revista.
Uma boa coluna
sempre vale muito no campo político e econômico e também no marketing pessoal.
Cada vez mais os jornalistas mais importantes se acostumaram a vender espaços
nas suas colunas, receber elogios fáceis, homenagens e presentes para
noticiarem aqueles que os brindavam com tais benesses. Informantes revelavam
fatos e boatos aos colunistas.
O problema desse
estilo de colunismo sempre foi de natureza ética. Os espaços das colunas
sociais muitas vezes foram vendidos sem que ficasse estabelecida para o leitor
a caracterização de que este estava diante de matéria paga. Nada de quadros
cercados nem de avisos alertando tratar-se de "Informe Publicitário".
Para todos os
efeitos aquilo não era matéria paga. Era material editorial, pautado pela
coluna, que abria mão de um dos fundamentos que deveriam nortear a prática do
jornalismo: a busca da imparcialidade. A transparência sumia nas colunas
sociais publicadas pelos jornais e revistas. Os leitores consumiam matéria paga
disfarçada de reportagem. Quem saía perdendo era o leitor. Em algumas ocasiões,
a credibilidade do jornal.
Um dos problemas
mais graves dentre os muitos que envolviam o colunismo era o da ética. O
responsável pela coluna famosa convivia permanentemente com as dúvidas que os
leitores mais críticos colocavam em relação a eventuais interesses que poderiam
existir por trás daquilo que escrevia.
Ele próprio, muitas
vezes, era obrigado a tentar descobrir o que se escondia por trás das
informações que recebia. Este era um problema cotidiano dos formadores de
opinião, principalmente numa sociedade que valorizava cada vez mais a
visibilidade pública. O consumidor ingênuo de informações não tinha recursos
para distinguir quando uma nota era uma notícia plantada ou um recado.
Carlos Castilho,
autor do importante artigo “Jornalismo de Grife”, publicado em 1997 pelo
Boletim 14 do Instituto Gutenberg, ensinou que os leitores mais desconfiados
(cada vez mais numerosos) sabiam que nem tudo que brilhava era ouro e tratavam
de contextualizar a informação para avaliar suas causas e consequências.
Antes mesmo dos
jornais e das colunas sociais ganharem importância, discutir a vida social e
prescrever regras de comportamento socialmente aceitáveis foi tarefa assumida
por importantes intelectuais, principalmente filósofos e pedagogos preocupados
com a educação dos jovens.
Muito daquilo que
foi, principalmente no século XX, objeto especificamente abordado pelo
colunismo social apareceu primeiro em livros, como o publicado em 1522, de
extenso título, que tinha como autor Erasmo de Roterdam: COLÓQUIOS FAMILIARES
DESTINADOS NÃO SÓ A APRIMORAR A LÍNGUA DOS JOVENS, MAS TAMBÉM A EDUCA-LOS PARA
A VIDA.
No século XVII foi
a vez de John Locke publicar as suas INSTRUÇÕES PARA A CONDUTA DE UM JOVEM
FIDALGO, preocupado que estava com os padrões de civilidade e de convivência na
Corte.
Apesar de nos
jornais sergipanos a crônica social ser uma preocupação que ganhou prestígio
como gênero jornalístico somente na segunda metade do século XX, é possível
encontrar em publicações do início da mesma centúria e em todas as suas décadas
registros de uma vigorosa crônica social.
Revistas como a
quinzenal Renovação, que circulou na década de 30, mantiveram coluna assinada,
na qual se falava dos encontros furtivos entre jovens, entre uma mademoiselle e
um estudante de direito ou um rapaz chic. Eram textos assinados de autoria do
Lord Gil – pseudônimo revelador do quanto era difícil registrar os costumes da
conservadora sociedade de Sergipe à época.
Lord Gil foi um
nome que ganhou importância na crônica social em Sergipe. A sua coluna, “Através
das Lunetas”, começou a circular em março de 1931 e foi publicada até o mês de
novembro do mesmo ano. Uma página a cada 15 dias, bem ilustrada com caricaturas
de Freire Pinto, comentando o movimento dos cafés, o carnaval, o cinema, a
retreta, as autoridades, as festividades, as vitalinas.
Ao interromper a
publicação da coluna, em novembro de 1931, a revista informou que o Lord Gil
retornara à Inglaterra. Nunca foi possível relacionar o pseudônimo ao seu autor
e nem descobrir as verdadeiras razões que levaram a revista a afastar o seu
primeiro colunista ou as motivações que justificassem um possível afastamento
voluntário do mesmo.
Na mesma revista
apareceu um outro cronista social assinando sob pseudônimo: Roland. Este
publicou sua coluna quinzenal entre os meses de janeiro e maio de 1932, com
alguns elementos do estilo irônico do Lord Gil. A partir de maio a revista
começou a circular mensalmente e Roland passou a assinar a coluna Balcão
Florido, ao lado de Amália Soares de Andrade, que assinava ASA. A coluna Balcão
Florido se preocupava em comentar os hábitos das “demoiselles”
românticas, registrando os seus aniversários e circulou até julho de 1932.
Por último, em
1934, apareceram na revista Renovação dois outros colunistas sociais – Eldo e
Ene, responsáveis pela coluna “Indiscrições”. Eldo substituiu as “demoiselles”
pelas senhoras e senhoritas e foi um duro crítico da maquiagem feminina,
condenando o uso do “baton” e do “rouge”. Ene fez comentários
mais picantes, acerca de um moço à espera de uma morena. Ambos registraram
notas de viagens, noivados, casamentos, aniversários e falecimentos.
*Jornalista,
professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e
presidente da Academia Sergipana de Educação.
Comentários
Postar um comentário