Jorge
Carvalho do Nascimento*
É das décadas de 40
e 50 do século XX a generalização nos jornais e revistas da publicação regular
de coluna social em Sergipe. É de Mário Cabral o artigo “Aracaju Cultural em
1940”, publicado em 1980, na edição 27 da Revista da Academia Sergipana de Letras.
Ali, Cabral advoga que partir dos anos 40, cronistas sociais como Chico de Baim
apareciam como uma espécie de fundador da crônica social entre nós, enquanto
Heitor Teles era visto como popularizador da crônica social nos jornais (p.
53).
O nome mais
importante da crônica social na década de 50 era o de Bonequinha, um conhecido
advogado que foi também promotor de justiça, Carlos Henrique de Carvalho. Além
de assinar uma coluna na Revista de Sergipe, Bonequinha fazia a crônica social
em programas de rádio, como o High Society, o que lhe deu enorme prestígio,
além de causar alguns graves problemas numa sociedade ainda não preparada para
ter algumas das suas intimidades bisbilhotadas e publicadas pela imprensa.
Figura onipresente
no cenário social dos chamados ricos e bem nascidos de Sergipe, Carlos Henrique
de Carvalho era sobrinho do ex-interventor Eronildes Carvalho, além de dado a
se trajar sempre com um rigor que incluía vistosas gravatas-borboleta como peça
fundamental do seu vestuário. Carlos Henrique de Carvalho notava a tudo e a
todos e gostava de ser notado.
Divulgava aos
quatro ventos o seu bom relacionamento com a Miss Brasil 1957, Terezinha
Morango. Conta-se que, nos anos 60, todas as vezes que ia ao Rio de Janeiro, ao
desembarcar no Aeroporto Santos Dumont, procurava o serviço de som e
solicitava: “por favor, chame ao balcão da Varig o Dr. Carlos Henrique de
Carvalho”. Sentava-se em um dos cantos do aeroporto e aguardava o chamado que
ele mesmo atendia, passando acintosamente entre os passageiros e sorvendo o
fato de estar sendo visto por todos.
A década de 60 do
século XX foi o período no qual a imprensa de Sergipe intensificou a publicação
de ilustrações, fotografando festas, grupos de personalidades, almoços,
jantares, bailes, recepções. Naquele período também foi importante na crônica
social o nome do mais importante comentarista esportivo da história do futebol
de Sergipe, Wellington Elias. No início da sua carreira de jornalista, ele
ganhou notoriedade como cronista social. A fama de bom jornalista esportivo
veio depois.
O jornalista
Orlando Dantas estimulou a publicação de coluna social desde que fundou o seu
jornal Gazeta Socialista, em parceria com Antônio Garcia Filho. Algum tempo
depois, ele e Antônio Garcia tomaram rumos distintos e Orlando Dantas continuou
comandando o periódico. Nos primeiros anos da Gazeta Socialista, as notícias
sobre sociedade eram publicadas sob a forma de notas avulsas, sem assinatura.
No dia 12 junho de
1957 circulou a última edição da Gazeta Socialista, contendo uma nota explicativa na sua primeira página. “A direção da Gazeta Socialista
comunica aos seus leitores, assinantes e anunciantes a mudança de nome deste
órgão para Gazeta de Sergipe a partir da próxima edição, tendo em vista acabar
a confusão que muitas pessoas fazem, atribuindo a propriedade da Gazeta Socialista
ao Partido Socialista Brasileiro, seção de Sergipe, em virtude do nome do
jornal e das ligações políticas e ideológicas existentes entre o Sr. Orlando
Dantas, nosso Diretor Proprietário e aquele partido, do qual é o seu Presidente
em nosso Estado. Cumpre advertir aos leitores de que a mudança do nome não
implica, de forma alguma, na mudança de orientação ideológica, pois a Gazeta de
Sergipe continuará batendo-se pelos mesmos ideais que têm servido de bandeira
na luta encetada, desenvolvida vitoriosamente por Gazeta Socialista, pelo bem
maior do nosso Estado e do nosso povo”. Naquele momento, Antônio Garcia Filho já
não mais participava da direção do periódico que era comandado exclusivamente
pelo seu proprietário, Orlando Dantas.
Ainda como Gazeta
Socialista, o jornal passou a publicar com regularidade a coluna “Sociedade”
que levava a assinatura de Dudu. O colunista noticiava as festas que reunia a
elite frequentadora de festas, as figuras representativas do poder econômico e
da vida política. Era pródigo ao catalogar as festas das famílias influentes:
“A Miss Sergipe ainda é assunto. Ontem mesmo estivemos com ela na residência do
Prof. Alcebiades Vilas Boas, onde se comemorava a data natalícia da sua filha
Alba. Maria Helena, que provavelmente viajará no próximo dia 8, distribuía
simpatia, trajava um belo conjunto e exibia exuberantemente toda a sua beleza.
Naturalmente, sempre acompanhada do desenhista Murilo Barreto. Para governo de
todos nós”. Dudu permaneceu à frente da coluna sociedade na Gazeta Socialista
por apenas quatro meses.
Wellington Elias sucedeu
Dudu e estreou como colunista social em cinco de novembro de 1957, na condição
de titular da coluna Sociedade nos Clubes. Lembremo-nos que frequentar clubes
sociais refinados era uma marca de distinção social até a década de 1970. Era
nos clubes que as pessoas, mesmo as de maior poder aquisitivo, usavam piscinas
e participavam das atividades dos salões de festa.
Os clubes perderam
tal primazia à medida que a vida se verticalizava nos condomínios dos edifícios
residenciais de luxo, com as suas piscinas imponentes e os grandes salões de festa
desse tipo de espaço coletivo destinado a moradia daqueles grupos das camadas
médias da sociedade.
Antes de começarem a perder prestígio, os
clubes também sediavam agremiações esportivas importantes. E Wellington Elias,
tanto noticiava e comentava as grandes festas, como também os eventos
esportivos na sua coluna. Uma nota publicada no dia cinco de novembro de 1957
pelo colunista, é bem ilustrativa de tal estilo: “Chegado que está o fim do
ano, grandes bailes e festas outras prometem os clubes da cidade. Cotinguiba,
Paulistano, Sergipe e Vasco, donos de boas sedes, precisam movimentar seus
quadros sociais realizando grandes festas. Aracaju evolui no setor social e os
clubes formam então como o grande incentivo a essa evolução”.
Em 28 de junho de
1958, quando o jornal já tinha mais de um ano com a denominação de Gazeta de
Sergipe e a coluna de Wellington Elias ganhou novo título: “Lar e Sociedade”. O
colunista Wellington Elias mostrava as figuras elegantes do high
society, mas não deixava de eventualmente incluir na vida dessas figuras as
suas atividades como desportistas, quando tais atividades existiam.
*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.
Que delícia este artigo. Quando eu estava pesquisando jornais da de cada de 50 encontrei Wellington Elias como colunista social escrevendo sobre as jovens beldades que frequentavam o Cine Pálace. Descrevia as roupas, os penteados, os gestos. Fiquei basbacada!
ResponderExcluirOnde era o Paulistano???
ResponderExcluir