Jorge
Carvalho do Nascimento*
Desde 26 de agosto
de 1970 até 18 de março de 1971 a Gazeta de Sergipe ficou sem um nome que
assinasse a sua coluna social. A coluna era publicada de modo irregular, sempre
assinado por interinos que não se fixavam como titulares do espaço. Algumas
vezes a assinatura publicada era um pseudônimo – ANOPE, outras vezes
simplesmente a assinatura era de Interino e algumas outras vezes era Nilo
Alberto, um estudante de Direito nascido na Bahia e que se fixou em Sergipe.
Nilo Alberto era o
titular da coluna de Automobilismo da Gazeta de Sergipe, onde assinava como
Jaguar. Nilo Alberto Santana Jaguar de Sá era o seu nome completo e veio a ser
uma das personalidades de maior importância na advocacia em Sergipe durante as
três últimas décadas do século XX e os primeiros 10 anos do século XXI.
O novo titular do
colunismo social da Gazeta de Sergipe assumiu a responsabilidade na edição do
dia 19 de março de 1971. Advogado recém graduado, Paulo Nou recheou a coluna
Vida Social com registros dos filhos das famílias ricas e influentes, mas
também com notícias e comentários a respeito de eventos turísticos, eventos
esportivos, recepções dos casais festeiros da cidade de Aracaju, espetáculos
teatrais, festas de estudantes universitários, programas governamentais e moda.
A coluna perdera
completamente aquele ar militante que marcara a prática de jornalistas como
Anderson Nascimento, Luiz Adelmo, Ilma Fontes e Clara Angélica. Aliás foi sobre
Clara o primeiro registro feito por Paulo Nou em sua coluna. “Apesar de
Vocês... Debaixo de um frio intenso, neve demais até, Clara Angélica escreve de
Syracuse, New York, contando inclusive que foi o primeiro lugar de Inglês em
sua turma, que vai pro Canadá, Europa e que tem uma saudade louca de toda a
turma boa que deixou aqui”.
A passagem de Paulo
Nou pela coluna social da Gazeta de Sergipe foi efêmera. 102 dias depois, em
primeiro de julho, ele publicou uma rápida informação na sua coluna. “Agora eu
vou saindo de leve... Hoje, quando vocês estiverem lendo esta coluna... Voando
(by Sadia) pro Rio... Terra de badalações... Ciao”.
Dois dias depois, na
edição de três de julho da Gazeta de Sergipe, a coluna Variações em Fá
Sustenido, do jornalista Zózimo Lima fez uma referência a Paulo Nou. “Ao Sr.
Paulo Nou a ASI pagou a importância de 500 cruzeiros, deixados por seu genitor,
Desembargador Rodrigues Nou, recentemente falecido, antigo sócio da Associação
Sergipana de Imprensa”.
Na mesma edição, a
coluna Sociedade, assinada interinamente por Augusto Macêdo, voltou a fazer
referência ao seu titular. “Eventualmente estaremos aqui, enquanto o nosso
coleguinha Paulo Nou está no Rio de Janeiro. Ele passará férias na terra da
badalação”. Paulo Nou voltou das férias, não retornou ao trabalho na Gazeta de
Sergipe e foi contratado pelo jornal Diário de Aracaju, onde passou a atuar.
A ida do colunista
para o Diário de Aracaju deixou a Gazeta de Sergipe sem coluna social, uma vez
que Augusto Macedo também não assumiu a titularidade do gênero. A coluna social
somente voltou a ser publicada pela Gazeta em três de fevereiro de 1972,
portanto, sete meses depois. A neófita Gracinha Barreto estreou no jornalismo e
assumiu a coluna Sociedade.
Ao publicar seu
primeiro texto, Gracinha Barreto se mostrou para os leitores e para os colegas
titulares de coluna social. “UMA CALOURA NO JORNALISMO. A GAZETA DE SERGIPE
reinicia hoje a sua coluna social, depois de uma temporada em que o café-society
esteve ausente dessas colunas. O último que por aqui passou foi Paulo Nou, hoje
nosso coleguinha no Diário de Aracaju. Como estou iniciando hoje neste ramo dificílimo
do jornalismo faço inicialmente minha saudação aos companheiros Maria Luiza
Cruz, Karmen (da Rádio Jornal), Laninha Duarte, Celso Dantas, Paulo Nou,
Laurindo Campos, Marlene Freire. Espero contar com todos eles e desde logo me
ponho à disposição (de todos) para, juntos, trabalharmos para uma sociedade
mais humana e menos egoísta. Os fatos mais importantes do grand mond
sergipano terão via livre nesta coluna que agora inicio. E dos leitores da GAZETA
DE SERGIPE espero contar com a necessária compreensão. Afinal, minha gente, eu
tou iniciando agora. Sejam compreensivos. Bonzinhos, tá?”
Ao lado das
tradicionais notas sobre os ricos e influentes que marcam o colunismo social,
Gracinha Barreto abria espaços na sua coluna para conversas sobre música, TV,
Educação, moda, viagens de figuras importantes, política, economia, festas,
teatro, cinema, casamentos. Enfim, uma coluna social recheada de variedades.
Gracinha Barreto
foi titular da coluna durante 100 dias. A última coluna assinada por ela foi a
do dia 13 de maio de 1972, que deu cobertura ao concurso Glamour Girl 1972,
organizado em Sergipe pelo colunista social Paulo Nou que convidou o aplaudido figurinista
de moda Denner para presidir o júri.
No dia 30 de maio daquele
mesmo ano, a jovem jornalista Lânia Maria Conde Duarte assumiu a titularidade
da coluna. Lânia atuava como interina, desde que Paulo Nou trabalhara na Gazeta
de Sergipe e eventualmente ela assumia a responsabilidade pela publicação quando
ocorriam viagens dos titulares das colunas sociais, tanto na Gazeta de Sergipe
quanto no Diário de Aracaju.
Lânia Duarte esclareceu
no seu primeiro dia que a partir daquela data estava assumindo a
responsabilidade como titular do colunismo social da Gazeta de Sergipe. “O
negócio aconteceu sem que eu provocasse... De repente me fiz cronista social...
De repente comecei a fazer um jornalismo diferente combatido por uns, elogiado
por outros... E de repente chegaram os convites, fazendo um incentivo maior p’ra
que eu continue escrevendo... No princípio era somente uma vez por semana...
Depois eram duas vezes... Voltei a uma vez, depois... Agora eu viverei
diariamente... Porque diariamente pedem para que eu viva”.
Foi com esta
mensagem o seu primeiro dia na coluna SOCIEDADE, da Gazeta de Sergipe. Lânia impressionou
os leitores por ser uma jornalista jovem e dinâmica. Todas as badalações da
vida social da cidade de Aracaju eram noticiadas e comentadas por ela. Mas,
Lânia também abria espaço para artes plásticas, cultura de um modo geral,
teatro, cinema, música, política. Coluna social aliada a um jornalismo de
variedades que fez muito sucesso e projetou Lânia como jornalista muito
influente, formadora de opinião.
Ao assumir a coluna
ela era uma jovem advogada e aplaudida atriz de teatro, descendente de uma
família de muito prestígio em Aracaju, os Conde Duarte. Na Faculdade de Direito
assumiu uma militância de esquerda e conviveu muito com lideranças como Jackson
Barreto de Lima, colega de turma de quem se fez amiga. Além de Jackson, a turma
de Lânia contava com a participação de Jonas Amaral, José Carlos de Oliveira
Filho, Osório Ramos, Antônio Jacintho Filho e vários outros nomes que se
tornaram importantes na vida pública de Sergipe.
Desde os seus
primeiros anos como estudante de Direito, Lânia conquistou posições destacada
que a projetaram. Assumiu a presidência da Sociedade Santo Ivo, uma instituição
organizada pelos estudantes de direito para dar assistência aos presidiários
mais pobres, cujas famílias não podiam pagar advogados para defende-los.
Na Sociedade Santo
Ivo, tomou a iniciativa de organizar a biblioteca da Penitenciária de Aracaju e
usou o seu prestígio social numa campanha que buscou a doação de livros,
formando a partir daí um bom acervo.
A coluna SOCIEDADE
foi transformada em JORNAL DE LÂNIA a partir da edição do dia sete de julho,
pouco mais de um mês depois da sua estreia como colunista diária da Gazeta de
Sergipe. O seu prestígio como formadora de opinião estava consolidado com apenas
37 dias de trabalho. “Mudei o nome da coluninha diária... Mas não mudei de
ideia, vou continuar curtindo essa de escritora que sempre tá muito legal... A
gente escreve sobre sociedade, mas não é somente isto... É muito mais, porque a
gente tá sempre escrevendo para a sociedade o que faz uma diferença bem grande.
Não mudei de ideia e vou ficar mais ligada na máquina que produz as letras
formadoras da mensagem... E tudo se torna manias... Manias de fazer canção em
forma de recado”.
Sem
qualquer explicação ao leitor, o JORNAL DE LÂNIA foi publicado pela última vez
na edição do dia três de setembro de 1975. Foram três anos e três meses de
muito bom jornalismo.
*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.
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