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PARA ONDE VAI A COLUNA SOCIAL? XXI


 

 

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

Que tipo de relacionamento existiu entre colunistas sociais e líderes políticos? Para a maior parte das pessoas era muito evidente a relação entre os jornalistas que faziam coluna social e empresários que desejavam ter os seus negócios divulgados, que aspiravam o sucesso de um determinado produto. E quanto a políticos?

Não era comum a discussão do relacionamento entre colunistas sociais e chefes políticos. Porém, tais relações eram mais recorrentes do que se imagina. Muitas vezes, o chefe político buscava se cercar de jornalistas tanto para promover a si quanto para tolher o crescimento da boa imagem dos seus adversários.

O espaço da coluna social foi utilizado reiteradas vezes nesse tipo de trabalho, com o estabelecimento de relações que nem sempre se estabeleciam à luz do dia. Em outras situações, os contratos eram pactuados formalmente, principalmente quando o líder político pretendia associar a sua imagem com a do colunista social, aproveitando o prestígio ostentado por este.

A jornalista Madalena Sá revela haver trabalhado no início da sua carreira na campanha eleitoral para governador do Estado de Sergipe, em 1986. “Foi na eleição em que disputaram Antônio Carlos Valadares e José Carlos Teixeira. A TV Sergipe, por intermédio de Luiz Antônio Barreto montou uma estratégia de informações. Contrataram vários estagiários e Luiz Antônio me fez coordenadora desse trabalho na TV Sergipe”.

A TV Sergipe assumidamente colaborava com a campanha de José Carlos Teixeira, mas Antônio Carlos Valadares venceu as eleições, com o apoio do então prefeito de Aracaju, Jackson Barreto, e do àquela época governador João Alves Filho. Sergipe foi o único Estado do país no qual o PMDB perdeu as eleições para o cargo de governador. José Carlos Teixeira era apoiado pelo então senador Albano Franco, pelo seu irmão, Antônio Carlos Franco, e pelos líderes políticos que seguiam a orientação deles.

Madalena Sá, posteriormente, comandaria, como colunista social, o caderno OLHO VIVO, do jornal Cinform. “O caderno tivera anteriormente as assinaturas de Márcio Lyncoln, Denisson Ventura e Valeska Brito”. Madalena diz ter assumido num processo pacífico de transição com Valeska Brito, uma vez que esta não concordava com as exigências do departamento comercial do Cinform que cobrava dos responsáveis pelo OLHO VIVO que levassem patrocinadores para financiar aquele espaço.

Segundo Madalena, naquele período ela gostava muito de noticiar os fatos ligados a pessoas mais jovens. “Para isto, eu me aproximava das pessoas mais jovens que estavam no burburinho, que estavam saindo todo dia para poder fazer um caderno mais jovem. Tem a ver com estilo. Tudo isto é estilo e é fruto de cada momento social, político, econômico”.

O caderno ficou sob a responsabilidade de Madalena Sá entre 2005 e janeiro de 2010, quando ela se desligou do Cinform para trabalhar no site Atalaia Agora, que depois se transformou no portal A8. Madalena afirma ter saído do A8 depois que este passou ao comando de Bruno Stênio. Ele não concordava que o portal mantivesse espaço para o colunismo social.

Ao se desligar do A8, a jornalista Madalena Sá montou o próprio site dedicado a coluna social, mas considera que o gênero vem perdendo muito. Por isto, pretende “fazer uma reforma no site e transformá-lo em algo mais dedicado a cultura”. Jornalista, a colunista social Madalena Sá Freire considera que é necessário rever os fundamentos profissionais do jornalismo.

De acordo com a sua visão atual, a profissão de jornalista está muito desprestigiada. “Qualquer um, hoje, consegue montar um blog e fazer jornalismo, desde que tenha um pouquinho de conhecimento, um pouquinho de conteúdo, um pouquinho de domínio do Português, porque falta Português demais. As pessoas escrevem muito errado, falam também um inglês chulo”.

Para ela, as faculdades de Comunicação continuam sendo muito importantes, mas o acesso das pessoas à internet torna o diploma de jornalista desnecessário”. Da mesma maneira, entende que as colunas sociais estão se acabando. As colunas sociais tiveram “muita utilidade. Houve uma grande ebulição no Brasil que começou lá atrás, atravessou a ditadura”.

De fato, o colunismo social que se fortaleceu muito no século XX, a partir do pós-guerra, fez efervescer a vida das pessoas mais influentes economicamente, politicamente, socialmente, culturalmente. A vida social se misturou com o mundo da política. O colunismo social denunciou muita coisa no país inteiro durante a última ditadura militar.

Par-i-passu a tudo isto, o colunismo social também continuou a ser espaço que servia a fofocas, a frivolidades, a bisbilhotar a vida alheia. Para Madalena Sá Freire, “as classes B e C sempre quiseram saber notícias da classe A”. Contudo, diz Madalena que “existiam colunistas e colunistas”. Por este caminho, ressalva o colunismo social feito em Sergipe, afirmando que ele sempre foi diferente daquele feito em vários outros lugares.

É este o caminho que nos permite entender o olhar preconceituoso que outros campos especializados do jornalismo como a política e a economia lançavam sobre a coluna social. A própria Madalena analisa: “enquanto eles estavam falando do Vietnã, enquanto eles estavam falando da chegada da internet, a gente estava falando do casamento de fulano de tal que teve dois mil docinhos, foi servido John Walker Black. Tudo é bem diferente. Não eram notícias que mudariam o mundo”.  

Ao avaliar o colunismo social sergipano, Madalena Sá considera que “Thais Bezerra teve uma repercussão que poucas pessoas tiveram nessa área. Sergipe fala muito por Thais, que é o grande marco do colunismo social no Estado. Um fato inédito: não conheço ninguém que tenha 42 anos de história de colunismo social. Ela tem os méritos dela e é fruto do meio. Não foi ela que criou a sociedade. A sociedade criou Thais”.

Para explicitar a visão que possui quanto ao tipo de colunismo social feito por Thais Bezerra que considera o maior e mais importante nome do gênero em Sergipe, Madalena Sá diz que ninguém pode culpar o caderno de Thais Bezerra pelo fato de ser “feito por várias pessoas. Todos brigavam para ler esse caderno. O caderno era e é importantíssimo. Se tinha frivolidades, pouco importa. Sempre moveu a sociedade, sempre fez acontecer. Existiu esse momento”.

As frivolidades do tempo presente possuem um outro tipo de suporte. Outra vez, Madalena Sá comenta o novo estilo dizendo que “as pessoas passam quatro horas, cinco horas olhando o Instagram, vendo a vida do povo. Algumas pessoas podem dizer que isto é importante e outras dirão que é frivolidade. Depende da ótica a partir da qual você vai olhar. Mas, é o que está acontecendo. Está la”.

 

 

*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.

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