Jorge
Carvalho do Nascimento*
Paulo
Nou afirma que o jornalismo e a coluna social o ajudaram a amadurecer muito,
principalmente do ponto de vista da compreensão das relações sociais e das
relações políticas. De modo mais visível, depois que ele começou a assinar a
coluna social do jornal Diário de Aracaju.
Além
de realizar o trabalho comum aos diversos gêneros do jornalismo, como pautar
reportagens, editar textos, redigir, publicar colunas, sempre foi também
práticas dos jornalistas dedicados a coluna social, a atividade de promoter e
organizador de eventos que mobilizavam os grupos sociais da elite.
O
jornalista Paulo Nou, titular de coluna social nos jornais Gazeta de Sergipe e
Diário de Aracaju no período de 1969 a 1973, revelou em depoimento ao autor
deste texto algumas festas organizadas por ele e por colunistas sociais
influentes em Sergipe, como João de Barros e Pedrito Barreto.
“Eu
e Barrinhos, o João de Barros, nos aproximamos no Diário de Aracaju. Ele passou
a fazer festa comigo. Nós fizemos a famosa festa do 14 de julho na Boate Oxente,
do Cotinguiba Esporte Clube. Estávamos festejando a Revolução Francesa. Um
sucesso. Uma fila enorme na porta da Boate. A festa terminou com a Polícia
Federal presente.
Tocaram
a Marseillese, porque era uma festa com o apoio da Aliança Francesa. Tinha um
participante, meio de pileque, que disse que aquilo não era possível e exigiu
que tocasse o Hino Nacional Brasileiro. Tocou o Hino Nacional. Um outro
participante saiu da Boate, foi em casa e ligou para a Polícia Federal dizendo
que estavam tocando o Hino Nacional dentro de uma boate.
Os
tempos eram outros. De ditadura militar. Veio a Polícia Federal. Mas, foi uma
grande festa. A gente sabia que ninguém ia ser preso por causa disto, a festa
continuou e ponto final”.
Além
de organizar festas, fazia parte da prática dos jornalistas dedicados a coluna
social frequentar as principais festas e eventos que aconteciam em Aracaju. Nas
décadas de 50, 60 e 70 do século XX, a Associação Atlética de Sergipe e o Iate
Clube de Aracaju eram os espaços nos quais ocorriam os encontros que reuniam as
personalidades de maior expressão dos grupos sergipanos pertencentes a elite
econômica e social.
A
Associação Atlética, de acordo com o jornalista Paulo Nou, “era um clube para ir
durante o dia. Porque o Iate Clube, na época, ainda era um espaço físico muito
apertado, diferente do que é nos dias atuais”. A Associação Atlética dispunha de
um parque aquático, com boas piscinas e uma caixa destinada a prática de saltos
ornamentais. Contava também com quadras destinadas a esportes como futebol de
salão, basquetebol e voleibol, além de duas boas quadras de tênis. Na estrutura
do clube, também existia um salão de festas, um bar, um restaurante e uma
boate.
O
clube “era um lugar onde a gente ia no sábado. Tinha as quadras de tênis e a
piscina e o movimento esportivo era muito grande. Tinha várias cadeiras em
volta da piscina onde a gente sentava para bater papo, tomar uma cerveja, jogar
conversa fora. Era o nosso clube, a nossa área era ali”. O restaurante
Catavento era bem frequentado, principalmente à noite e era um requisitado espaço
de festas. O jornalista Pedrito Barreto organizou várias festas no Restaurante
e Boate Catavento, como a festa da Glamour Girl e algumas festas temáticas.
De
acordo com a interpretação de Paulo Nou, a elite sergipana migrou cada vez mais
intensamente da Associação Atlética para o Iate Clube porque aos poucos a
Atlética foi se transformando num clube no qual houve um afrouxamento das
exigências em relação àqueles que podiam frequentá-lo. O clube tinha vida,
muita vida.
Segundo
Paulo Nou, “em determinado momento, a Associação Atlética começou a aceitar
pessoas que não faziam parte de um certo grupo, como sócios, no que ela fez
muito bem. Entraram altos funcionários do Banco do Brasil e de outros bancos,
cujas famílias não tinham tradição.
Enfim,
foram admitidos grupos de classe média que estavam ganhando dinheiro. Políticos
que não eram filhos da elite, comerciantes que prosperaram. Mas, eles não eram
filhos de nenhuma família importante. A elite se estabeleceu no Iate Clube de
Aracaju e começou a organizar festas fechadas a um grupo ao qual nem todos
poderiam ter acesso.
Mesmo
muitas pessoas que tinham elevado poder econômico eram vistas
preconceituosamente e sofriam restrições para participar das atividades do Iate
Clube de Aracaju. Os eventos do Iate começaram a se diferenciar, como a Festa das
Rosas e a celebração dos bailes de Carnaval”.
Diz
Paulo Nou que “as festas fechadas do Iate terminavam sendo chatas, porque uma
festa onde todo mundo se conhece não é legal, não acontece nada de novo”. Por
essas características, ainda segundo ele, “a melhor festa que aconteceu no Iate
foi a comemoração dos 100 anos da loja A. Fonseca.
Todos
os sócios do clube foram convidados, mas a festa foi aberta para outras pessoas
que não eram associadas ao Iate. Foi uma festa fantástica. A festa mais luxuosa
que já aconteceu em Aracaju. Nunca tinha existido nada igual. Os vestidos das
mulheres, os trajes de gala dos homens, as pessoas, parecia uma festa em
Hollywood”.
O
seu entendimento é o de que a elite sergipana se fechou no Iate para permanecer
restrita a famílias tradicionais e barrar a entrada dos novos ricos no meio
deles.
*Jornalista,
professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e
presidente da Academia Sergipana de Educação.
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