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QUANDO A TV ACERTA

                                                          Michele Costa e Anne Samara

 

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

Em 15 de novembro do ano que vem estaremos celebrando os 50 anos de inauguração da primeira emissora geradora de sinal de TV instalada em solo sergipano. Se, por ocasião do aniversário, alguém me perguntar quais as mulheres mais importantes como apresentadoras de TV neste Estado, eu não terei nenhuma dificuldade em cravar os cinco nomes que mais me agradaram. As cinco, na tela da TV Sergipe. Três delas já pertencem a história da primeira e mais importante emissora de TV sergipana. As duas outras, marcam o tempo presente, a inovação.

Em 1971, quando o sinal da TV Sergipe foi ao ar e a ela era afiliada da então ainda prestigiada Rede Tupi de Televisão, um rosto feminino encantou crianças adolescentes e jovens sergipanos. A Tia Nazaré Carvalho, como era chamada, estreou um programa infanto-juvenil na grade reservada a programação local

O Clube Junior, que estreou em 1971, fez enorme sucesso e permaneceu no ar até 1975. Naquele ano, com a inauguração do sinal da TV Atalaia, Nazaré Carvalho foi contratada pela emissora concorrente e deixou a TV Sergipe. O programa de Nazaré exibia desenhos animados e abria espaços à participação do público infanto-juvenil.

O programa TV Mulher estreou em 1983, exibido todas as manhãs em todas as emissoras afiliadas à Rede Globo de Televisão. Na TV Sergipe, um rosto marcou o TV Mulher: a jornalista Clara Angélica Porto. Foi uma das apresentadoras do programa e sua passagem por aquela emissora marcou pelo tom ousado, porém elegante, das entrevistas que ela conduzia.

O TV Mulher foi, penso eu, a segunda melhor revista de variedades exibida na TV brasileira. A primeira, na minha opinião, continua a ser o Fantástico, mesmo estando com sua fórmula já um tanto quanto gasta pela longevidade. A escolha de Theotônio Neto, Mozart Santos e Nestor Amazonas, foi original, pela ousadia do trabalho de Clara Angélica. Nos anos 80 do século XX, ela deixou o seu nome inscrito na história da televisão em Sergipe, para sempre.

Precocemente falecida aos 52 anos de idade, em setembro de 2013, a jornalista Siomara Madureira foi outra mulher que marcou a história da televisão sergipana. Com a contundência de um raciocínio rápido, usando de ferramentas como a ironia e um ar iconoclasta de rebelde, Siomara impactou os padrões conservadores e a sisudez do jornalismo de televisão que era praticado no final da década de 70 do século XX, quando estreou como repórter, apresentadora e entrevistadora dos noticiários da TV Sergipe.

Permaneceu trabalhando na TV até os anos 80, quando migrou de Sergipe para o Rio de Janeiro, de lá para Nova York, São Paulo e novamente o Rio. Um infarto a matou em 2013, no Rio de Janeiro e o seu corpo foi sepultado em Aracaju. O nome de Siomara está na lista das cinco mulheres mais importantes da história da televisão em Sergipe.

Do ponto de vista da participação feminina, o século XXI viu crescer a quantidade de mulheres jornalistas que passaram a trabalhar na TV. Mas, a primeira década e quase todo segundo decênio da nova centúria passaram sem que houvesse nada notavelmente novo em face da presença feminina.

Mas, as coisas começaram a se modificar em 2019 quando duas jornalistas ganharam força e prestígio no jornalismo da TV Sergipe. Michele Costa inovou o programa noticioso Bom Dia Sergipe, depois que assumiu a responsabilidade pela apresentação de informações sobre o tempo e a respeito do trânsito. Fez um contraponto que valorizou o trabalho do jornalista Lyderwan Santos, pela inteligência dos diálogos que estabelece com este no informativo matutino da emissora.

Bem formada, a estanciana Michele Costa, além de jornalista é geógrafa. Aplicada, concluiu os dois cursos de graduação em 2015, pela Universidade Tiradentes. Descoberta pelo jornalista Luiz Carlos Dussantus, seu conterrâneo, antes mesmo de colar grau, Michele iniciou a carreira profissional no rádio, sendo algum tempo depois contratada pela TV Sergipe.

Ela quebrou o padrão de chatice que caracteriza as informações sobre o tempo. Quando se lança a reportagem, investiga em profundidade as pautas que recebe e apresenta o resultado do seu trabalho com muita acuidade intelectual e um nível de profissionalismo que chama a atenção de todos. Ela é uma boa novidade no jornalismo da TV Sergipe. Um acerto.

No dia 27 de julho de 2019, a TV Sergipe estreou o programa Giro Sergipe. Uma revista de variedades, dedicada a temas da cultura sergipana. Vai ao ar todos os sábados, a partir das 14 horas, após a apresentação do Jornal Hoje. O estilo despojado, a empatia e o senso de humor são as armas que a apresentadora Anne Samara utiliza para seduzir e fidelizar os espectadores que ao menos uma única vez, distraidamente ou de modo proposital sintonizam a TV Sergipe no horário do programa.

Impossível não se tornar um espectador que retorna semanalmente para compartilhar a alegria inteligente e a riqueza de informações sobre tradições, belezas naturais, a paisagem humana, enfim os diferentes padrões culturais presentes nas práticas do povo sergipano. Anne Samara é atriz e colou grau como jornalista em 2015.

Anne Samara e Michele Costa são duas grandes revelações e os melhores acertos do jornalismo da TV Sergipe no século XXI. Ambas bem formadas e profissionalmente muito dedicadas, estão prontas para voos mais altos. É, de fato, muito bom quando a TV acerta. Principalmente quando o acerto ocorre no jornalismo e duas jornalistas competentes como elas nos mostram que ainda pulsa vida inteligente e há capacidade de renovação criativa na TV aberta.    

          

 

*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.
 

Comentários

  1. Que honra! Gratidão pelas palavras e pela confiança em nosso trabalho. Muito obrigada, mesmo. Seguimos em frente. Abraços!

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