Jorge Carvalho do Nascimento*
São em número de 18 os deveres que segundo o Compêndio
de Civilidade dos Padres Salesianos devem ter os filhos para com os seus pais:
1. Depois de Deus, é aos nossos
Pais que somos mais devedores. Deus não se limita a prometer vida longa e
benção nesta terra aos bons filhos, mas até ameaça com os rigores dos seus
castigos os maus filhos, que descuram os seus deveres filiais. Tais deveres
podem-se reduzir a dois: amor e respeito.
2. O primeiro dever para com os
pais é amá-los. É este um sentimento natural, e seria desnaturado o filho que
não o tivesse.
3. A primeira prova de amor para
com os Pais é prestar-lhes obediência e submissão em tudo, salvo no que não for
lícito. É intolerável grosseria e má criação responder aos Pais: "Não
quero". Nunca lhes diga tão feia expressão (p. 8).
4. Merecem repreensão os meninos
que se mostram importunos e exigentes nos seus pedidos aos Pais. Fazem ainda
pior os que mostram ressentimento, quando recebem uma negativa.
5. Ao contrário, como é louvável
o procedimento d'aqueles filhos que em tudo se submetem, em tudo consultam aos
Pais e isto com expressões delicadas, tais como: "Se é do seu agrado,
papai; se a Senhora deseja, mamãe; se me dá licença etc".
6. Evita tudo quanto direta ou
indiretamente possa desgosta-los, como seria perturba-los em suas ocupações,
tirar alguma coisa sem o seu consentimento, contradize-los, responder com maus
modos. Procura, ao invés, fazer tudo quanto lhes possa dar gosto.
7. Não digas nunca a menor coisa
que possa lesar a honra de teus progenitores; antes, nada deves dizer do que se
passa em tua casa.
8. Evita toda expressão de
desprezo, injúria, toda palavra arrogante, ressentida ou impertinente. No
antigo Testamento Deus fulminou com palavras de morte os filhos que dissessem
imprecações ou maldições aos próprios Pais.
9. Não deves manifestar os seus
defeitos ou criticá-los, mas sim encobri-los, excusá-los, compadece-los.
Infeliz do que se arvora em censor dos defeitos dos seus Pais! (p.9).
10. Não uses para com eles de
maneiras bruscas, como seria sacudir desdenhosamente os ombros, voltar-lhes as
costas, abanar a cabeça, bater com os pés, olhar de esguelha, levantar a voz
ou, o que seria hediondo, ameaça-los e agredi-los.
11. Mais: é preciso em toda
circunstância manifestar com palavras e com atos o respeito e veneração que
lhes tributas, tanto em casa, como fora, nas conversas e em toda parte.
12. Reza pelos teus Pais todos os
dias. Retribui com a tua gratidão e benevolência o amor que te consagram. O
filho que rejeita os carinhos dos seus progenitores e recusa retribui-los,
merece ser privado do amor de seu pai e de sua mãe.
13. Vai-lhes ao encontro pela
manhã e saúda-os à noite, antes de te deitares, quando sais de casa, quando
chegas de fora.
14. Os Pais merecem, mais do que
quaisquer outras pessoas, nossa estima e respeito. Quem se mostrasse educado
para com os outros e incivil para com os seus Pais, seria um impostor.
15. Procura de bom grado sua
companhia. Há jovens que preferem a companhia dos amigos à dos Pais, alegando
que os Pais os têm sempre perto de si. Que ingratidão! E os Pais (pobres Pais!)
vêm-se muitas vezes constrangidos a disfarçar o seu sentimento e a calar. Dia
virá em que estes filhos indiferentes sentirão falta de seus progenitores e
chegarão a compreender toda a sua ingratidão!... (p.10).
16. Finalmente sê aberto e franco
para com teus pais. Deposita neles toda a confiança, porque eles são os mais
interessados pelo bem de seus filhos. Empenha-te em ser para com teus Pais o
que foram eles para contigo; e, sendo impossível recompensar-lhes o amor que te
dedicam, faze quanto estiver ao teu alcance para retribuir cuidado por cuidado,
sorriso por sorriso.
17. Tuas maneiras e teu proceder
sejam tais, que só o fato de te verem lhes cause alegria e consolo. Todo
sorriso que a seus lábios fizeres assomar, toda consolação que lhes despertares
n'alma ser-lhes-á grande recompensa, recompensa que redundará também em benção
para ti. As bençãos dos Pais são sempre confirmadas por Deus.
18. Felizes os filhos que
desempenharem com fidelidade estes deveres. Serão abençoados por Deus na vida,
na morte e na eternidade. Mas ai dos desobedientes, que amarguram os dias dos
seus Pais! Estes atraem sobre si, ainda nesta vida, as maldições de Deus, que
são o prenúncio das maldições e castigos da outra vida. Maldito quem não honra
seu Pai e a sua Mãe, diz a Sagrada Escritura! (p. 11).
Os dezoito Deveres para com os pais
prescritos pelo Compêndio de Civilidade encontram sua síntese na relação direta
que está estabelecida com o quarto Mandamento e diz respeito ao conjunto das
relações com o próximo. Os Deveres recomendam as responsabilidades dos filhos
quanto aos pais, partindo do pressuposto de que esta é uma relação universal e
considerada nas diversas culturas como a base de toda e qualquer sociedade.
A família é, por assim dizer, a comunidade que
desde cedo serve de referencial para a assimilação dos valores morais e a
partir da qual se aprende a honrar as prescrições da vida em sociedade. Por
isto, esse conjunto de Deveres lança luz em face das outras relações sociais
que devem ser pautadas no respeito e obediência às hierarquias.
*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.
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