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PARA ONDE VAI A COLUNA SOCIAL? - XXXIV

                                              Ancelmo Gois

 

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

O jornalista Ancelmo Gois admite ter sido a responsabilidade de assinar a coluna Informe JB, no Jornal do Brasil a tarefa que o tornou mais conhecido e lhe deu maior projeção na mídia impressa brasileira como jornalista. Ele chegou ao JB numa época ainda áurea do Jornal do Brasil para “fazer a coluna mais importante do jornalismo brasileiro que era o Informe JB”.

Ele confessa que haver conquistado aquela posição o surpreendeu: “No dia que eu entrei no Jornal do Brasil eu passei mal e fui para o banheiro vomitar algumas vezes. Para mim era uma coisa absolutamente notável ir trabalhar no Jornal do Brasil”. Revela que ao iniciar suas atividades de jornalista em Aracaju, no jornal Gazeta de Sergipe, em 1966, tinha o Jornal do Brasil como referência e modelo de prática do jornalismo que deveria seguir.

Ancelmo foi convidado a trabalhar no JB pelo jornalista Marcos Sá Corrêa. “O grande padrinho meu era o Marcos. Quando ele foi dirigir o Jornal do Brasil, na véspera da eleição do Tancredo Neves, me levou para o Informe”. Ancelmo sucedeu na coluna ao jornalista José Carlos Monteiro, como ele nascido no Estado de Sergipe.

O espaço assumido por Ancelmo era então a grande coluna de notas do Brasil e tinha um poder muito grande. Até a chegada de Ancelmo ao Jornal do Brasil, os redatores da coluna não colocavam a sua assinatura. Marcos Sá Corrêa inovou e autorizou a Ancelmo assinar o Informe JB.

Ele conta que a coluna recebia muitas colaborações e eram muitos os jornalistas de prestígio que interferiam na coluna. “Élio Gáspari mandava nota, o Marcos Sá Corrêa gostava de fazer publicações no Informe. Eu dizia na época que eu era um testa de ferro porque o Informe era espaço de muitos jornalistas. Naquele tempo trabalhava no Jornal do Brasil o Carlos Castelo Branco. Castelinho dava uma dica. Eu ligava para o Villas-Bôas Corrêa e pedia outra dica. Trabalhava lá comigo o João Saldanha e eu ligava e pedia ao Saldanha uma dica do esporte. Eu era o cara que ordenava aquilo e publicava em alguma hora. Por isto que eu botei meu nome na coluna e me achei tão explorador que assinei Ancelmo Gois Com Sucursais”.

Ancelmo trabalhou no Jornal do Brasil e foi responsável pela coluna Informe JB durante seis anos. Ao chegar ao jornal tinha 38 anos de idade e durante o período em que lá permaneceu foi um importante editor que assumiu muitas responsabilidades. Fez o Informe, foi editor de Economia, Política e do caderno Cidades.

No caderno Cidades, Ancelmo criou uma nova coluna, mesmo continuando a ser responsável pelo informe JB, como ele mesmo explica. “A Seleção Sergipana de Futebol veio jogar em Niterói com um time chamado Canto do Rio. Eu criei a coluna Canto do Rio. Era a reprodução da primeira coluna da minha vida, Reclamações do Povo”. A coluna fazia registros dos problemas da cidade que incomodavam a população. As palmeiras imperiais de uma rua que poderia soltar palhas e atingir alguma pessoa, buracos, esgotos e outros incômodos urbanos.

Ancelmo Gois afirma que no mesmo período estava existencialmente submetido a muitos conflitos internos que diziam respeito a sua história de vida. “Eu fazia análise. Estava vivendo um grande conflito na minha cabeça, grandes preocupações, interrogações sobre o que eu achava do mundo. Foi um processo muito importante no qual eu cheguei a seguinte conclusão na minha vida: se eu consigo evitar um acidente na rua Paissandu limpando as palmeiras, eu estou realizado. A ideia de mudar o mundo é muito generosa, mas é uma utopia. Eu posso limpar a rua Paissandu. Eu fazia análise e isso foi muito importante para mim no sentido de valorizar as pequenas conquistas. De abrir mão dos grandes projetos de mudança do mundo que me perturbavam. As propostas do comunismo, as denúncias sobre o autoritarismo comunista, a falta de liberdade. Eu fui diminuindo as minhas ambições e isto fez muito bem pra mim”.

No seu depoimento, Ancelmo Gois acentua o impacto que sofreu com a leitura do livro do cientista político Carlos Nelson Coutinho – A Democracia Como Valor Universal. “Mudou a minha vida. Um texto fantástico. Um processo que discute experiências democráticas ligadas a comunistas italianos e outros. O livro da minha vida é este. Ele diz que democracia é um valor universal. Nada substitui o regime democrático com eleições, o poder emana do povo. Enfim, foi o meu primeiro rompimento com as ideias da ditadura do proletariado”.

 

 

*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.

 

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