Jorge
Carvalho do Nascimento*
O
jornalista Ancelmo Gois admite ter sido a responsabilidade de assinar a coluna
Informe JB, no Jornal do Brasil a tarefa que o tornou mais conhecido e lhe deu maior
projeção na mídia impressa brasileira como jornalista. Ele chegou ao JB numa
época ainda áurea do Jornal do Brasil para “fazer a coluna mais importante do
jornalismo brasileiro que era o Informe JB”.
Ele
confessa que haver conquistado aquela posição o surpreendeu: “No dia que eu
entrei no Jornal do Brasil eu passei mal e fui para o banheiro vomitar algumas
vezes. Para mim era uma coisa absolutamente notável ir trabalhar no Jornal do
Brasil”. Revela que ao iniciar suas atividades de jornalista em Aracaju, no jornal
Gazeta de Sergipe, em 1966, tinha o Jornal do Brasil como referência e modelo
de prática do jornalismo que deveria seguir.
Ancelmo
foi convidado a trabalhar no JB pelo jornalista Marcos Sá Corrêa. “O grande
padrinho meu era o Marcos. Quando ele foi dirigir o Jornal do Brasil, na véspera
da eleição do Tancredo Neves, me levou para o Informe”. Ancelmo sucedeu na
coluna ao jornalista José Carlos Monteiro, como ele nascido no Estado de
Sergipe.
O
espaço assumido por Ancelmo era então a grande coluna de notas do Brasil e
tinha um poder muito grande. Até a chegada de Ancelmo ao Jornal do Brasil, os
redatores da coluna não colocavam a sua assinatura. Marcos Sá Corrêa inovou e
autorizou a Ancelmo assinar o Informe JB.
Ele
conta que a coluna recebia muitas colaborações e eram muitos os jornalistas de
prestígio que interferiam na coluna. “Élio Gáspari mandava nota, o Marcos Sá
Corrêa gostava de fazer publicações no Informe. Eu dizia na época que eu era um
testa de ferro porque o Informe era espaço de muitos jornalistas. Naquele tempo
trabalhava no Jornal do Brasil o Carlos Castelo Branco. Castelinho dava uma
dica. Eu ligava para o Villas-Bôas Corrêa e pedia outra dica. Trabalhava lá
comigo o João Saldanha e eu ligava e pedia ao Saldanha uma dica do esporte. Eu
era o cara que ordenava aquilo e publicava em alguma hora. Por isto que eu
botei meu nome na coluna e me achei tão explorador que assinei Ancelmo Gois Com
Sucursais”.
Ancelmo
trabalhou no Jornal do Brasil e foi responsável pela coluna Informe JB durante
seis anos. Ao chegar ao jornal tinha 38 anos de idade e durante o período em
que lá permaneceu foi um importante editor que assumiu muitas
responsabilidades. Fez o Informe, foi editor de Economia, Política e do caderno
Cidades.
No
caderno Cidades, Ancelmo criou uma nova coluna, mesmo continuando a ser
responsável pelo informe JB, como ele mesmo explica. “A Seleção Sergipana de
Futebol veio jogar em Niterói com um time chamado Canto do Rio. Eu criei a
coluna Canto do Rio. Era a reprodução da primeira coluna da minha vida,
Reclamações do Povo”. A coluna fazia registros dos problemas da cidade que
incomodavam a população. As palmeiras imperiais de uma rua que poderia soltar
palhas e atingir alguma pessoa, buracos, esgotos e outros incômodos urbanos.
Ancelmo
Gois afirma que no mesmo período estava existencialmente submetido a muitos
conflitos internos que diziam respeito a sua história de vida. “Eu fazia
análise. Estava vivendo um grande conflito na minha cabeça, grandes
preocupações, interrogações sobre o que eu achava do mundo. Foi um processo
muito importante no qual eu cheguei a seguinte conclusão na minha vida: se eu
consigo evitar um acidente na rua Paissandu limpando as palmeiras, eu estou realizado.
A ideia de mudar o mundo é muito generosa, mas é uma utopia. Eu posso limpar a
rua Paissandu. Eu fazia análise e isso foi muito importante para mim no sentido
de valorizar as pequenas conquistas. De abrir mão dos grandes projetos de mudança
do mundo que me perturbavam. As propostas do comunismo, as denúncias sobre o
autoritarismo comunista, a falta de liberdade. Eu fui diminuindo as minhas
ambições e isto fez muito bem pra mim”.
No
seu depoimento, Ancelmo Gois acentua o impacto que sofreu com a leitura do
livro do cientista político Carlos Nelson Coutinho – A Democracia Como Valor
Universal. “Mudou a minha vida. Um texto fantástico. Um processo que discute
experiências democráticas ligadas a comunistas italianos e outros. O livro da
minha vida é este. Ele diz que democracia é um valor universal. Nada substitui
o regime democrático com eleições, o poder emana do povo. Enfim, foi o meu
primeiro rompimento com as ideias da ditadura do proletariado”.
*Jornalista,
professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e
presidente da Academia Sergipana de Educação.
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