Jorge
Carvalho do Nascimento*
Não
quero contabilizar os amigos que tenho perdido para a pandemia de Covid-19.
Eles continuam morrendo. Aqui em Sergipe e em São Paulo. Sergipe onde tenho
vivido a maior parte da minha vida e São Paulo, onde morei durante cinco anos. Estados
nos quais plantei mais amizades. Mas, também tenho recebido notícias da partida
de amigos que se dispersaram pelo país e desde o ano passado morreram no Rio de
Janeiro, na Bahia, no Pará, na Paraíba e Pernambuco.
A
cada nova morte cresce a minha indignação com um o presidente do meu país que, ao
invés de agir com responsabilidade, como ocorreu em outros países, desde o
início da pandemia desdenha do vírus e da doença que chamou de “gripezinha, resfriadinho”,
num pronunciamento oficial em rede nacional de televisão.
Um
presidente da República que desdenhou das orientações da Organização Mundial da
Saúde e passou o tempo inteiro provocando aglomerações em Brasília, em muitas
outras cidades brasileiras e em passeios inconsequentes por praias de
diferentes Estados. Um presidente que quis empanturrar os brasileiros com
medicamentos que servem para curar outras enfermidades, mas não possuem
comprovação científica de que sirvam para Covid-19, como Hidroxicloroquina e
Ivermectina.
Um
presidente que afirmou que medidas de prevenção como distanciamento social eram
coisa de “maricas”. E também pela tragédia que representam as ações atabalhoadas
do seu ministro em um país no qual a Civd mata mais de mil pessoas a cada dia.
Tenho certeza que o Exército do meu país não é formado por generais superiores
com qualificação frágil como o atual ministro da saúde, que se diz especialista
em logística, mas até agora não foi capaz de apresentar um plano de vacinação
consistente ao país.
Não
adianta as “velhinhas de Taubaté” ressuscitadas, que tentam defender as
sandices do senhor Jair, negarem a sua responsabilidade. Tudo que aqui está
citado foram atos públicos do presidente que estão gravados em vídeo e circulam
livremente nas redes sociais. Todos viram.
Também,
pouco resolve tentarem transferir responsabilidades com a afirmação de que o
STF delegou aos prefeitos e governadores a gestão da Pandemia. Na verdade,
diante da tentativa do governo federal de tolher a ação de governadores e
prefeitos, a suprema corte reafirmou que constitucionalmente a competência e
responsabilidade da União não elide a competência de Estados e municípios
naquilo que inclusive está previsto constitucionalmente e definido pela
repartição tripartite do sistema SUS.
E
ninguém pode esquecer declarações desumanas do chefe do Executivo Federal como fez
ao ser questionado no momento em que disparou o número de mortos: “E daí? Eu
não sou coveiro. Vai continuar morrendo gente”. Ou das suas insistentes
tentativas de desqualificação da Vacina, ao postar sucessivas vezes nas suas
redes sociais e afirmar em suas lives que a vacina Coronavac era a “Vachina do
João Dória”. Ou ter desautorizado publicamente o seu ministro da saúde a
prosseguir em negociações para a compra da mesma vacina. Ou afirmações
insinuando que quem tomasse a vacina poderia ter efeitos colaterais e virar um
jacaré, por exemplo.
Da
mesma maneira, as postagens dos seus filhos, do seu ex-ministro da Educação e
do seu ministro das Relações Exteriores desqualificando a vacina e o povo
chinês. Segundo o diretor do Instituto Butantan, o tom agressivo da diplomacia
brasileira para com o Estado chinês atrapalhou as diligências e atrasou o
recebimento pelo Brasil do IFA necessário ao envasamento de vacinas. Sem falar
no fato de haver o Ministério da Saúde feito pouco caso da oferta, em setembro
de 70 milhões de doses de vacina pela Pfizer. Cada dia de atraso na vacinação
dos brasileiros, aumenta a probabilidade de morrerem mais cidadãos deste país.
Felizmente
o governador de São Paulo não desistiu. O Instituto Butantan persistiu. Hoje,
aquilo que o presidente da República chamou de “a Vachina do João Dória” e
desautorizou o ministro da saúde de negociar, a vacina Coronavac é o principal
imunizante com o qual a população brasileira tem contado.
***
Hoje
perdi mais um amigo. Morreu o professor Menilton Menezes, do Departamento de
Física da Universidade Federal de Sergipe. Cresceu a minha indignação. Lamento
me despedir do meu amigo Menilton deste modo. Ele deixou mulher, três filhos e
três netos. Partiu aos 68 anos de idade.
Conheci
Menilton e o seu irmão Menilson desde que fui estudar no Colégio Atheneu
Sergipense. Mais velhos que eu, eles já estavam concluindo o curso Científico.
Menilson optou pela Medicina e Menilton pela Química Industrial. Após a
graduação, Menilton trabalhou como professor do mesmo Atheneu onde estudou e fez
Mestrado em Física pela Universidade de São Paulo, a USP.
Quando
eu cheguei na UFS como professor do Departamento de História, Menilton já era
professor do Departamento de Física, tinha quase 10 anos. Éramos conhecidos e nos
tornamos bons amigos. Convivi com uma figura dócil e um colega de trabalho sempre
solidário e fraterno.
Bem
humorado, era pródigo em colocar apelido nos colegas. As conversas com ele eram
sempre leves. No início deste século XXI, o professor Rodorval Ramalho redimiu os
alcunhados por Menilton ao chama-lo de “Cinta Larga”, numa referência ao seu excesso
de peso. Eu, Rodorval e alguns mais íntimos o tratávamos sempre deste modo. Ele
nos chamava de volta pelos muitos apelidos que a sua criatividade encontrava
para cada um de nós.
Pena
que Menilton se foi deste modo. Não permitiremos que as inconsequências da
política federal de gestão da Pandemia façam do nosso querido amigo apenas mais
um número na estatística de cerca de 240 mil brasileiros que já morreram nesta
Pandemia. Sabemos que muitas dessas vidas teriam sido salvas, não fosse o
presidente do Brasil um negacionista da ciência e não tivesse ele colocado no
Ministério da Saúde um general que talvez seja preparado para o cumprimento de
tarefas atinentes a gestão das atividades militares, mas que não se revelou um
gestor eficaz da política de saúde pública do Brasil.
Nós
guardaremos para sempre a memória do bom colega, do amigo solidário, do
professor competente, do Químico Industrial e do Físico, do pai de família e
avô que foi o nosso querido amigo Menilton Menezes.
Adeus,
amigo.
*Jornalista,
professor, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia
Sergipana de Educação.
Deus ilumine seu espírito.
ResponderExcluirMuita força e fé aos familiares.
Meus Sentimentos.
Lamentável gestão da pandemia que levou milhares de vida. A UFS perdeu vários funcionários ativos e inativos por conta da COVID-19. É uma tristeza ver um pedido de auxílio funeral de um colega que se vai por conta da negligencia e irresponsabilidade de gestores unicamente comprometidos com seu próprio interesse e bem-estar.
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