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PARA ONDE VAI A COLUNA SOCIAL? - XLV

                                             Pascoal Maynard
  

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

A Gazeta de Sergipe teve como seu primeiro redator-chefe o jornalista Pascoal Maynard. Quando a Gazeta Socialista foi transformada em Gazeta de Sergipe, no ano de 1958, Pascoal tinha 35 anos. Morreu aos 41 anos de idade, em 1964. Foi ele que juntamente com Orlando Dantas e José Rosa de Oliveira definiu a linha editorial crítica que caracterizou sempre o periódico.

Depois de Pascoal, outro editor de muita importância na Gazeta de Sergipe foi o jornalista Ivan Valença. Não apenas na Gazeta, mais também no Jornal da Cidade, que fundou ao se associar com o jornalista, publicitário e empresário Nazário Pimentel. A partir da década de 80 do século XX, ele continuou a ser um jornalista importante, porém não exercia a mesma influência que marcou seu trabalho por mais de 20 anos nas décadas de 60 e 70 da mesma centúria.

Ao lado de Ivan Valença e Pascoal Maynard é necessário colocar o nome de Luiz Antônio Barreto, como sendo os jornalistas mais importantes que atuaram na Gazeta de Sergipe. Todavia, o jornalista Paulo Roberto Dantas Brandão registra a relevância de um nome do jornalismo daquele período. Paulo afirma que “durante certo tempo passou na Gazeta o jornalista Carlos Alberto Chatô”.

Dentre os jovens jornalistas sergipanos que começaram a trabalhar na Gazeta no final da década de 70 do século XX, Paulo Roberto destaca o nome de Nilson Barreto Socorro. “Eu cheguei na Gazeta e dois meses depois chegou Nilson Socorro. A gente fazia uma dupla de focas. Trabalhamos com Chatô”.

Na entrevista que concedeu ao autor do presente texto, tendo destacado a competência de Chatô como jornalista, Paulo Brandão o censura como gestor em face da ausência de responsabilidade no cumprimento dos compromissos. “Eu ficava meio exasperado com ele pela irresponsabilidade. O jornal tinha que sair todo dia. Ele era uma pessoa extremamente criativa, mas não dava atenção a necessidade que tinha o jornal de circular diariamente”.

Diante das circunstâncias familiares, Paulo Brandão costuma dizer que chegou ao jornalismo por acidente. Era herdeiro do jornal do avô e teve necessidade de mergulhar na profissão. “Em outras circunstâncias, fatalmente eu não seria jornalista. Não é que eu não tenha gostado. Adoro”.

A partir das circunstâncias que o levaram a condição de jornalista, Paulo Brandão diz que os jornais sempre administram vocações desgarradas. Pessoas que chegam a redação dos jornais e descobrem habilidades e competências úteis ao trabalho do jornalista. Pessoas que se transformam em bons jornalistas.

Esse tipo de experiência leva Paulo Brandão a ter uma posição radicalmente contrária a exigência do diploma de graduação com formação específica para o exercício da profissão de jornalista. “Eu acho que a obrigatoriedade do diploma foi um atraso”. Sob a ótica de Paulo é necessário ao jornalista ter formação superior em alguma área.

Ele próprio assume ser exemplo do que chamou de vocação desgarrada. Chegou ao jornal e foi aprender as técnicas necessárias ao exercício da profissão, mas levava consigo a formação de economista obtida na Universidade Federal de Sergipe. Alguns anos depois, a formação de bacharel em Direito pela Universidade Tiradentes.

O jornalismo tal como visto por Paulo Roberto Dantas Brandão requer que o jornalista seja honesto ao dar informação e também, quando necessário, seja capaz de opinar com responsabilidade. “Tentar ser o mais verossímil possível naquilo que você está informando. Ser bem claro no que você está opinando”.

O jornalismo praticado na Gazeta de Sergipe, segundo Paulo Brandão, sempre buscou seguir esses fundamentos e exigiu o mesmo padrão de todos os jornalistas que trabalharam no periódico, inclusive os colunistas sociais. “Quando eu iniciei na Gazeta, a colunista social era Lânia Duarte. Eu convivi muito com Lânia. Quando Lânia saiu, passou um tempo sem titular”.

Em 1978 a Gazeta de Sergipe começou a publicar a coluna de Thaís Bezerra. Efetivamente, Thaís foi o grande nome da coluna social em Sergipe, a partir da década de 80 do século XX. Paulo Brandão revela ter convivido durante muito tempo também com o colunista social Pedrito Barreto.

O trabalho dos colunistas sociais sempre foi muito importante para os jornais, segundo Paulo Brandão. “Isso era um espaço que dava visibilidade. A vaidade humana é complexa. As pessoas gostavam da coluna social. Você não sabe o que eu recebia de assedio para colocar fotos, quando a gente lançou o suplemento Gazetinha”.

Paulo Brandão censura no comportamento dos jornalistas que fazem coluna social aquilo que ele chama de promoção pessoal. “Eu não gostava e continuo a não gostar. Procurei sem sucesso combater o hábito dos jornalistas da promoção pessoal. Os colunistas se consideram mais importantes que o jornal. Eu tive alguns embates sérios por causa dessas questões”.

 

 

*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação. 

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