Jorge
Carvalho do Nascimento*
O
jornalista Paulo Roberto Dantas Brandão que dirigiu a Gazeta de Sergipe no final
do século XX e início do século XXI critica nos jornalistas que fazem coluna social
a prática de se fechar em pequenos grupos que se transformam em notícia
frequente. Segundo ele, quando os jornalistas se libertam do gueto e conseguem fazer
um colunismo que se abre mais aos interesses amplos da sociedade, a coluna
social ganha importância.
Sob
tal perspectiva, a coluna social é um espaço de interesse coletivo. “Me
surpreendeu no início da minha prática de jornalista como a vaidade das pessoas
valoriza essa atividade. As pessoas vibram quando sai o nome delas ou uma foto
na coluna social. No suplemento Gazetinha as famílias faziam festa quando a
foto de uma filha era publicada na capa”.
Todavia,
mais importante que tudo isto, é um aspecto do colunismo social para o qual
Paulo Roberto Dantas Brandão chama a atenção com muita veemência. Vê a coluna
social como um registro dos costumes, dos hábitos de uma determinada época, dos
modos de comer, de se relacionar, de se vestir, de organizar festas, de chorar
os mortos, de namorar, de casar, de se divertir, a linguagem, as gírias. É uma
fonte importante para estudar a história.
Paulo
indica que há modelos de coluna social que contribuem muito para com as
práticas do bom jornalismo. “Eu gostava muito e tentei buscar de alguma forma o
estilo de Zózimo Barroso do Amaral, do Jornal do Brasil. Era sempre uma
bússola. Zózimo tinha um estilo de coluna e inaugurou um estilo que informava
tudo com muita leveza”.
O
estilo de colunismo que era praticado por Zózimo Barroso do Amaral tem hoje na
coluna do jornalista Ancelmo Gois a sua principal herança. Essa prática de dar
notícias e registrar os costumes continua forte no trabalho de Ancelmo. Paulo Brando
insiste na importância desses registros.
Para
fortalecer sua argumentação, ele exemplifica com um seu trabalho recente. “Eu
estava fazendo uma pesquisa sobre a questão dos minérios. Peguei as coleções de
jornais da década de 1970. Numa coluna social de Lânia Duarte eu descobri uma
foto de Marina, minha cunhada. A legenda: ‘onde estará Marina? Uma legítima
representante da geração pão com cocada’. É o registro de uma época”.
Consciente,
Paulo Brandão assinala que esses registros tratam da vida de um grupo da elite
social. Mas, revelam práticas que ficariam perdidas caso a coluna social não fizesse
essas anotações, mas é um bom registro. Nas colunas sociais é possível
recuperar fotos de práticas da vida quotidiana da década de 70 do século XX,
como o cabelo black-power e a calça boca-de-sino que foram moda entre os homens.
Esses
registros fazem da coluna social um misto de jornalismo e negócio que muitas
vezes não fica bem explicitado para os leitores e muito menos para o jornal
como empresa. De acordo com Paulo Brandão, era frequente o colunista social fazer
negócios paralelos com a coluna, sem que o jornal tivesse conhecimento.
Segundo
ele, os colunistas consideravam que a coluna lhes dava um poder que permitia a
concretização desse tipo de negócio. “Eu costumava dizer aos colunistas que se
sentiam muito importantes que importante era o jornal. Você tem importância
enquanto está no jornal. Se você perder o jornal, você perde a importância.
Isso era duro de o pessoal entender”.
É
normal a venda de espaços publicitários e promocionais, a realização de negócios
de merchandising nos veículos de comunicação. Mas, este é um negócio a ser
realizado pelas empresas com a remuneração e o pagamento de comissões àqueles
jornalistas que vendem os espaços. Há regras para tal atividade.
Jornalismo,
além de ser informação, é também um negócio. Segundo Paulo Brandão, “quem não
fez o jornal como negócio, como a gente não fez, infelizmente quebrou o jornal.
Você tem que saber dosar as questões. Agora, muitas vezes os jornalistas são
deslumbrados e não sabem em grande parte dosar essa questão”.
Os
jornais sempre necessitaram de publicitários, de homens de marketing, de homens
de venda, mas este não é o papel primordial do jornalista, do bom jornalista. A
tarefa do jornalismo é de publicar informação e também a de fazer análises. Ser
bem informado, ter boas fontes, bons contatos é essencial à atividade do
jornalista.
Nas
análises feitas por Paulo Brandão durante a entrevista concedida ao autor deste
texto, Thaís Bezerra, na mídia sergipana, se transformou na colunista social
mais importante de Sergipe. É o nome de maior representatividade. Ele, cita
também o nome de Lânia Duarte como exemplo de colunista social que é uma boa
jornalista.
De
acordo com Paulo Brandão, nas redações dos jornais há preconceitos contra a
coluna social. “Há uma certa gradação de importância do jornalismo. Quem
escreve sobre política e sobre economia é sempre mais importante do que quem
escreve sobre coluna social. Lá embaixo na escala fica o pessoal de polícia.
Esporte, com raras e honrosas exceções, são jornalistas que escrevem mal. Hoje
tem melhorado muito”.
*Jornalista,
professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e
presidente da Academia Sergipana de Educação.
Comentários
Postar um comentário