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A TRAVESSIA DE CHICO

                                                   Francisco Rollemberg

 

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

Aos 85 anos de idade, médico, advogado, escritor, membro da Academia Sergipana de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, da Associação Sergipana de Imprensa e do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, Francisco Guimarães Rollemberg resolveu vasculhar as gavetas da memória para revelar parte do que viu durante oito décadas e meia de travessia pelo pontilhão da vida.

Foi uma bem sucedida carreira de médico cirurgião e quatro mandatos como deputado federal e um como senador da República. No total, 24 anos de atividade legislativa, frequentando os gabinetes, os corredores e o plenário da Câmara e do Senado em Brasília, como um parlamentar que exerceu grande influência e teve muito reconhecimento no Congresso Nacional, figurando sempre nas listas dos mais influentes.

Recebi dele, no dia seis de março deste ano o seu livro TEMPO DE TRAVESSIA, publicado pela Gráfica Editora J. Andrade. São 206 páginas, com orelhas de João Lover, prefácio do presidente da Associação Sergipana de Imprensa, Cleiber Vieira, e posfácio de José Augusto Guerra. O texto está organizado em três partes.

Na primeira, 23 artigos e crônicas que poderiam receber o título de “Chico Vê a Vida”; na segunda, ele se dedica a reflexões reveladoras do seu entusiasmo pela obra do cientista político florentino Nicolau Maquiavel; por fim, ele reserva as últimas 44 páginas do trabalho para expor a sua participação na XXX Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, representando o parlamento brasileiro.

Com certeza, ali estão os registros memorialísticos que aparecem nas gavetas principais da memória de Francisco. Faz reflexões sobre as necessidades de atendimento das pessoas com deficiência e escreve crônicas sobre indivíduos que marcaram a sua geração e por aqueles que ele apanhou nos registros da história como bons exemplos a serem aplaudidos.

Cita o professor Barreto Fontes, seu conterrâneo nascido, como ele, no município de Laranjeiras, Estado de Sergipe. Homenageia cientistas como Carlos Chagas e Oswaldo Cruz; o médico sanitarista Walter Cardoso; os jornalistas Zózimo Lima, João Marques Guimarães e Luiz Antônio Barreto; a farmacêutica Cesartina Regis do Amorim; o médico Garcia Moreno; o intelectual Manoel Armindo Cordeiro Guaraná e o líder político Luiz Garcia.

Demonstra o seu entusiasmo com a poesia de Edgar Alan Poe, Eunaldo Costa e a poesia popular de Zé Limeira. Do mesmo modo com a literatura memorialística de Murilo Mellins.

Educado em uma família católica liderada pelo seu pai, Antônio Valença Rollemberg, e pela sua mãe, Maria das Dores Guimarães Rollemberg, confessa na crônica Das Coisas Novas como o convite do professor José Bezerra, quando ele era aluno do Colégio Tobias Barreto, foi importante para que assistisse as comemorações dos 60 anos da Encíclica Rerum Novarum e reafirmasse em definitivo as suas convicções de homem católico.

Lembranças dos primeiros anos da sua carreira de médico, clinicando em Laranjeiras, são fortes nas suas lembranças. E, desde a meninice na terra onde nasceu, as recordações de todo o ciclo dos festejos juninos. Tempos que evocam as lembranças dos tempos vividos com o pai, Seu Toinho da Farmácia, o Antônio Valença Rollemberg.

Observando o trabalho do pai na farmácia, Francisco aprendeu os primeiros passos na importante carreira que abraçaria como médico, profissão que defendeu ao longo da sua vida, exercitando a sua especialidade de cirurgião. Mesmo havendo, na maturidade, buscado uma outra graduação, como bacharel em Direito, que o ajudou muito na sua carreira política de parlamentar e membro da Assembleia Nacional Constituinte, nos anos de 1987 e 1988.

A leitura é prazerosa. Frustrante é descobrir que o leitor chega rapidamente à última página, tamanha a leveza da boa narrativa de Chico Rollemberg. Mas, fica uma certeza: foi um trabalho memorialístico que merece continuidade. Francisco Guimarães Rollemberg nos deve uma nova narrativa de memórias mais detalhada, uma autobiografia com ênfase na sua atividade como político e na sua presença no parlamento.

 

 

*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.
 

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