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ARACAJU E O SEU PARLAMENTO

                                              Edifício da Câmara Municipal

 

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

Nesta quarta-feira, 17 de março de 2021, a cidade de Aracaju estará celebrando os seus 166 de fundação, já criada como capital da Província de Sergipe em 1855, por iniciativa do presidente provincial, Inácio Joaquim Barbosa. Treze dias depois, no dia 30 do mesmo mês, a Câmara Municipal estava funcionando na sua plenitude.

É possível, portanto, afirmar que a Câmara de Vereadores é a mais antiga instituição da cidade de Aracaju ainda em funcionamento. Data de 30 de março o registro inaugural da atividade dos oito primeiros vereadores aracajuanos. Desde então, a Câmara é testemunha do crescimento de Aracaju e uma das mais importantes dentre as instituições que cuidaram da organização da cidade.

Os vereadores de Aracaju acompanharam o fim da Monarquia, viram o turbulento alvorecer do regime republicano, conheceram os tumultos da Primeira República, as restrições da Era Vargas, atuaram sob o Estado democrático da Constituição de 1947, conheceram a tenebrosa noite que a ditadura de 1964 impôs ao país e ajudaram a organizar a democracia que vigora no Brasil desde que foi promulgada a Constituição de 1988.

Ainda são reduzidos em Sergipe os estudos sobre História dos municípios. Certamente os primeiros trabalhos sergipanos mais densos sobre o tema foram os produzidos por Sebrão Sobrinho. Lançar o olhar sobre o tema é aprofundar a compreensão a respeito do papel desempenhado pelas câmaras municipais brasileiras.

Tais instituições sempre foram responsáveis pela aprovação dos códigos de posturas, regulamentando a organização do espaço urbano, os problemas ambientais, as questões sanitárias, o funcionamento das feiras e mercados, o transporte público, o convívio com animais domésticos, a destinação do lixo e das águas servidas, a saúde pública e parte da instrução primária. Sob o parlamentarismo do Império, eram as câmaras municipais que cumpriam as funções de governo das cidades.

Quando a capital da Província de Sergipe foi transferida para a Aracaju e a Câmara começou a funcionar, vigorava no Brasil a Constituição do Império. O artigo 167 daquela Carta estabelecia: “Em todas as cidades e vilas ora existentes, e nas mais que para o futuro se criarem, haverá câmaras, às quais compete o governo econômico e municipal das mesmas cidades e vilas”.

As câmaras municipais eram eletivas e o número de vereadores de cada uma delas definido em lei, cabendo a presidência ao mais votado. A Câmara de Aracaju funcionou deste modo até 1889, quando foi proclamada a República. Logo após a proclamação, as atividades da Câmara foram suspensas.

Um ano depois, as antigas Câmaras foram transformadas em Conselho da Intendência Municipal. A instituição atuou regularmente até 1930, quando foi fechada pelo regime chefiado por Getúlio Vargas. Todavia, a Constituição de 1934 autorizou a reorganização das casas legislativas municipais.

Como nos demais municípios brasileiros, a Câmara Municipal de Aracaju foi reaberta em 1935 até ser fechada outra vez, após a decretação do Estado Novo, em 1937. Depois disso, o parlamento municipal somente seria reaberto 10 anos depois, em 1947.

A Câmara Municipal de Aracaju voltou a viver um período turbulento após o golpe militar de 1964. No mesmo dia da decretação do golpe, os militares procuraram os vereadores Agonalto Pacheco e Manoel Vicente, mas não os encontraram. A Câmara permaneceu fechada por quase três anos, voltando a funcionar em 1967, com os parlamentares submetidos a um ambiente de perseguição, no qual não conseguiam exercer livremente as prerrogativas do mandato.

Na década de 70, a Câmara de Vereadores foi submetida pelos militares a um processo de vigilância permanente, que buscava observar particularmente o comportamento dos vereadores Jackson Barreto e Jonas Amaral. Disfarçados, agentes da área de informações compareciam ao plenário, gravando e anotando as intervenções dos parlamentares, principalmente durante o governo do general Ernesto Geisel.

Os vereadores aracajuanos voltaram a exercer o mandato autonomamente no final da década de 80, com a entrada em vigor da nova Constituição Federal e também da Constituição Estadual e também após a vigência da Lei Orgânica Municipal, promulgada em cinco de abril de 1990.

A História do Poder Legislativo no Município de Aracaju é, portanto, uma expressão importante da História Política da capital de Sergipe e das práticas de vida dos homens e mulheres que aqui viveram e vivem. Tal História é reveladora das distintas formas de exercício do Direito de participação política da população.

 

 

*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.
 

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