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PARA ONDE VAI A COLUNA SOCIAL? – LII

                                              Praia de Atalaia - 1961

 

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

Os clubes sociais em Sergipe, como de resto em todo o Brasil, sempre foram espaços de encontros e celebrações dos grupos de elite. Por isto, sempre foram locais que chamaram a atenção dos jornalistas dedicados a coluna social como lugar de concentração de fontes e de fatos relevantes para o noticiário e também dos comentários que produziam nos jornais.

O Iate Clube de Aracaju era, nos seus primeiros anos de funcionamento, um espaço de difícil acesso também na geografia física da cidade, somente frequentado por aqueles que tinham carro próprio, o que eram poucas pessoas até o final da década de 60 do século XX.

O Iate era o espaço preferido das famílias influentes para a realização das festas de debutantes, quando suas filhas completavam 15 anos de idade. Já a maior parte das festas de formatura eram realizadas nos salões da Associação Atlética de Sergipe. Até 1965, o clube abrigou as festas de colação de grau dos formandos da Faculdade de Direito de Sergipe.

Era um espaço, como sabido, frequentado pelos mais ricos. Quem produzia notícias para a coluna social buscava sempre estar naquele ambiente ou na Associação Atlética. Eram os espaços procurados pelas pessoas que eram notícia para a coluna social. Claro que também existiam outros espaços, mas não com a mesma importância.  

Na Associação Atlética de Sergipe, localizada à rua Vila Cristina, era possível chegar a pé ou nos chamados carros de praça, os carros de aluguel. Muitos frequentadores do clube contratavam um carro de aluguel que os conduzia e ficava estacionado na porta esperando o horário do retorno do contratante.

A partir da década de 70 do século XX, em todo o país, os clubes começaram a se esvaziar em face da proliferação de boates e outras casas de show. Em Sergipe, além desse tipo de choque cultural, os clubes também se esvaziaram em função de outro fenômeno que marcou o comportamento da elite local.

A partir da década antecedente de 60, a elite de Sergipe elegeu a praia de Atalaia como um grande balneário, criou melhores condições de acesso àquele local, começou a construir ali casas de veraneio mais confortáveis do que as poucas palhoças que existiam anteriormente e começou a migrar para lá nos dias de lazer.

No mesmo período, a vida na cidade de Aracaju começou a se verticalizar mais aceleradamente estabelecendo os condomínios dos edifícios. Logo depois, no final da década de 70, também começaram a surgir os primeiros condomínios horizontais com casas destinadas às camadas médias e a determinados grupos de elite.

Com isto, as famílias tradicionais foram deixando de frequentar os clubes sociais. Passaram a se reunir, em suas celebrações, nos salões dos edifícios e condomínios luxuosos. Se reuniam com os amigos nos grandes apartamentos confortáveis e espaçosos, fazendo suas festas com mais privacidade.

No mesmo período, também cada vez mais, a diversão dos finais de semana migrou das piscinas dos clubes para a areia e os bares da praia de Atalaia, distante do centro da cidade de Aracaju, esvaziando gradativamente a Associação Atlética de Sergipe e o Iate Clube. Os restaurantes desses clubes também foram perdendo espaço e no final da década de 80 não tiveram como competir com os restaurantes dos shoppings centers.

Todo esse processo causou um impacto muito grande no próprio trabalho dos colunistas sociais. Agora, não era mais nos clubes que eles encontravam a principal fonte de informação, matéria prima das suas colunas. Na praia, mesmo o Clube dos Médicos, ali sediado, era restrito a um grupo pequeno da elite dos profissionais da saúde.

A frequência aos restaurantes do centro da cidade ou de bairros da zona sul, como a Praia 13 de Julho, começou a se reduzir. Um bom exemplo é o do restaurante do Hotel Palace de Aracaju, que funcionava no segundo andar do festejado hotel no qual se hospedavam as pessoas mais importantes que visitavam a cidade.

O edifício do Hotel Palace, ademais do importante centro de hospedagem, também mantinha um privilegiado centro de compras, com lojas frequentadas pela elite, escritórios de advocacia, de empresas e instituições importantes e consultórios de afamados médicos.

Repartições públicas federais relevantes, como o Instituto do Açúcar e do Álcool – IAA, também ocupavam amplos espaços do prédio, nos três primeiros andares. Acima do terceiro andar, havia uma grande área com vistosos jardins e a festejada piscina do hotel. Era o mesmo piso no qual funcionava o restaurante.

Existia, acima do espaço do restaurante, uma área de convenções, na qual se reuniam clubes de serviço como o Rotary Club de Aracaju e o Lions Clube. Os rotarianos se reuniam no horário do almoço, enquanto o Lions costumava funcionar no período noturno.

 

*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.
 

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