Jorge
Carvalho do Nascimento*
Em
1940, quando foi prefeito de Aracaju, Godofredo Diniz tomou a primeira
iniciativa de organização de um evento esportivo que buscava aproximar os
grupos mais jovens da elite sergipana da Praia de Atalaia. Na região da praça, nas
proximidades do Palácio de Veraneio do governador do Estado de Sergipe, o
prefeito Godofredo Diniz promoveu os Jogos de Verão.
Naquela
região, as águas eram profundas e a Prefeitura instalou um trampolim para
saltos e mergulhos, além de uma quadra de esportes. Os Jogos de Verão
organizavam várias modalidades esportivas, abrangendo tanto esportes náuticos como
as modalidades esportivas de salão.
Godofredo
Diniz Gonçalves era jornalista e foi presidente da Associação Sergipana de
Imprensa – ASI. Venceu as eleições de 1934 e assumiu o mandato de prefeito em
1935, permanecendo no cargo até 1941. Seu mandato deveria se encerrar em 1939, mas
em face da decretação do Estado Novo, em 1937, ocorreu a prorrogação até 1941.
Era
naquela região que terminava o precário acesso rodoviário, o ponto mais próximo
a permitir o acesso de veículos para as pessoas que desejavam desfrutar do
banho de mar na praia de Atalaia. O restante do percurso deveria ser vencido a
pé, com as pessoas ultrapassando as pesadas e elevadas dunas de areia que
separavam aquele local da beira do mar.
Somente
16 anos depois da iniciativa de Godofredo Diniz, em 1957, o governador Leandro
Maciel executou a obra de abertura da estrada de rodagem que ligava o centro da
cidade de Aracaju à praia de Atalaia. Do mesmo modo, construiu o chamado Balneário,
na região onde atualmente funciona um restaurante McDonald’s.
O
jornalista Anderson Nascimento trabalhou como colunista social no jornal Gazeta
de Sergipe no início da década de 60 e descreveu as práticas do período. “Aberta,
essa pista ia até o Balneário. Quando você chegava, fosse de ônibus ou de
carro, guardava ali a sua roupa. No Balneário havia uma bomba d’água de sopapo
para que no regresso os banhistas tomassem um banho doce e removessem a areia
do corpo. Principalmente os que voltavam de ônibus, porque era proibido andar
de ônibus sem camisa”.
Portanto,
de acordo com o relato de Anderson Nascimento, a partir da década de 40 cada
vez mais os grupos da elite sergipana buscaram o rumo da praia de Atalaia e os
colunistas sociais passaram a acompanhar o que ocorria naquela região,
principalmente nos períodos de veraneio.
Anderson
chama ainda a atenção para um outro fator que contribuiu para isto. “Concomitantemente,
a explosão da indústria automobilística, a chegada do Fusca. Todo remediado
comprou um Fusca e ia para a praia. Os grupos que frequentavam muito os clubes
porque não tinham outra opção de lazer passaram a ir à praia. Cada vez mais se
difundiu também o hábito de comer caranguejo na praia. Começaram a surgir
barracos na praia, cobertos de palha, que serviam caranguejo”.
Sob
a análise do jornalista Anderson Nascimento, as atrações da praia “começaram a
matar os clubes, mesmo os clubes com suas piscinas. As pessoas frequentavam a
praia nos dias de domingo. O domingo era o ápice do lazer do aracajuano na
praia. As casas dos burgueses que tinham piscina, necessariamente não influíram
para o declínio dos clubes”.
Um
outro elemento cultural de organização da vida que ajudou a reduzir a
importância da frequência aos clubes sociais, de acordo com Anderson
Nascimento, foi a expansão da moradia em condomínios verticais e, posteriormente,
horizontais. “Tem alguma influência, juntamente com a transformação de muitas
práticas sociais”.
Dentre
as práticas sociais que sofreram transformação impactante, segundo Anderson,
está, já no final da década de 80 do século XX, a febre da frequência aos shoppings
centers. “A turma deixou de ir para o restaurante do Iate, que sobreviveu. As
pessoas que o frequentavam migraram para os restaurantes do Shopping Riomar,
que está próximo daquela região”.
*Jornalista,
professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.
muito bom
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