Jorge
Carvalho do Nascimento*
Na
infância e na adolescência, algumas vezes levado por meu pai e outras tantas
pela minha tia Terezinha, acompanhei os desfiles cívicos do dia sete de
setembro que aconteciam inicialmente na praça Fausto Cardoso e na rua João
Pessoa e depois foram transferidos para a avenida Barão de Maruim.
A
mística dos heróis da Segunda Guerra habitava o meu imaginário de criança e
adolescente. Era pura emoção o desfile dos expedicionários sergipanos, heróis
de guerra. Um deles em especial, Zacharias, normalmente era o mais aplaudido,
de quem se dizia haver sobrevivido a uma rajada de metralhadora disparada por
soldados alemães.
Ali
estava a cada ano o velho Zacarias de sempre, perfilado sobre um jeep e levando
a multidão ao delírio, orgulhosa de um passado visto como heroico. Ele
participou da famosa tomada do Monte Castelo, em território italiano. Meu avô paterno,
Epifânio, taifeiro em um dos saveiros que fazia navegação de cabotagem pelos portos
brasileiros era visto por nós, os seus netos, também como um herói de guerra.
Evidentemente
eram grandes as diferenças entre Zacharias e meu avô Epifânio que navegou pelo
litoral do Brasil quando um submarino alemão torpedeou e afundou navios
mercantes brasileiros no litoral dos Estados de Sergipe e da Bahia. Meu avô
nunca saiu das águas territoriais brasileiras, enquanto Zacharias foi ferido
nos campos de batalha italianos.
Mas,
são muitos os heróis de guerra brasileiro que ainda não conhecemos. Muitos
perderam a vida no teatro da guerra, principalmente no território italiano.
Assim, é credor dos nossos aplausos o médico William Soares, fundador do Grupo
Sergipano de Estudos da FEB – Grusef, dedicado a tarefa de estudar aqueles
militares.
William
nasceu no município de Tobias Barreto, Estado de Sergipe, é médico
especializado em cancerologia e radioterapia e diretor da Clínica San Giovanni,
de Oncologia. Lidera o projeto Pau Brasil, que busca replantar a árvore símbolo
do país no território do Estado de Sergipe.
Acabo
de fazer a leitura do livro A 16ª MISSÃO: UMA HOMENAGEM AO TENENTE AURÉLIO
VIEIRA SAMPAIO, que tem William Soares como autor. Publicado em 2020, o
trabalho é apresentado por Lúcio Antônio do Prado Dias, membro da Academia
Sergipana de Letras e presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores
de Sergipe – Sobrames. O comandante André Almeida Aragão Cabral é o autor do
Prefácio.
O
trabalho faz a apresentação do tenente aviador sergipano Aurélio Vieira Sampaio
que perdeu a vida pilotando um bombardeiro abatido por uma bateria antiaérea
alemã em um campo de batalha italiano. Confesso que até fazer a leitura do
texto e acompanhar a rica iconografia acrescida a publicação eu conhecia
Aurélio Sampaio apenas por ouvir dizer.
William
conseguiu provar com seu livro que efetivamente o tenente Aurélio foi um herói brasileiro
da Segunda Guerra Mundial desses que foram esquecidos pelos brasileiros. Antes
dele, um outro livro também chamou a atenção para os feitos do jovem militar. O
estudo assinado por Cleiber Vieira, do mesmo modo dedicado a Aurélio Vieira Sampaio.
Aracajuano,
nascido no dia 31 de maio de 1923, Aurélio foi aluno da professora Dulce
Quaranta e do Colégio Tobias Barreto na capital do Estado de Sergipe, antes de
sua família se transferir para o Rio de Janeiro, onde terminou os estudos ginasiais
no Colégio Pio Americano e ingressou na Escola Militar do Realengo. Depois
obteve transferência para a Escola da Aeronáutica dos Afonsos, onde fez
formação como aspirante aviador.
No
outono de 1944, aos 21 anos de idade, Aurélio chegou a Livorno, na Itália,
integrando um contingente da Força Expedicionária Brasileira, em uma Unidade de
Aviação de Caça da Força Aérea Brasileira, o conhecido Esquadrão Senta a Pua.
Alguns
meses depois, no dia 22 de janeiro de 1945, Aurélio decolou do Aeroporto de
Pisa pilotando um caça-bombardeiro P-47D-28-RE Thunderbolt armado com duas
bombas detonantes de 227 Kg cada uma e oito metralhadoras ponto 50, com 1920
projeteis. Foi a sua 16ª e última missão.
Missão
cumprida. Destruiu um tanque de combustível do Campo de Pizzighettone. No
retorno à base, numa missão complementar, quando se preparava para metralhar a
locomotiva de um trem na estação ferroviária de Piotello-Limito, o avião de Aurélio
foi atingido no motor pelos disparos efetuados por uma bateria antiaérea alemã
camuflada. Caiu no território de Rodano e o jovem piloto brasileiro perdeu a
vida em face da explosão da aeronave.
O
médico William estabeleceu para si duas missões importantes. Além de buscar o
tratamento para os seus pacientes oncológicos, tem se dedicado aos estudos
biográficos de figuras como o tenente Aurélio e outros aos quais tem se
dedicado ao longo da sua trajetória de escritor. Vale a pena conhecer e fazer a
leitura dos estudos que ele publica, como este último.
*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.
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