Jorge
Carvalho do Nascimento*
O
terceiro dos sete filhos de Oviedo Teixeira e Alda Mesquita Teixeira, o
engenheiro civil Luiz Antônio Mesquita Teixeira, morreu neste sábado, 24 de
abril de 2021, 79 anos após o seu nascimento no dia 20 de junho de 1941. Seu
irmão mais velho, José Carlos Teixeira foi importante liderança política em
Sergipe, tendo exercido cinco mandatos de deputado federal, um de
vice-governador, além de ter sido prefeito de Aracaju.
Luiz
Antônio Teixeira, o seu irmão Tarcísio e o seu pai, Oviedo, sempre ofereceram a
José Carlos o necessário suporte econômico e de mobilização de lideranças
locais e infraestrutura que possibilitaram a este o exercício da condição de
chefe político da família e da oposição à ditadura militar entre os sergipanos.
O
patriarca Oviedo chegou a exercer um mandato de deputado estadual. Luiz Antônio
e Tarcísio sempre atuaram nos bastidores. À família Teixeira, o Estado de
Sergipe e os brasileiros devem o mérito da organização do diretório estadual do
Movimento Democrático Brasileiro – o MDB, sob a liderança de José Carlos, em
1966.
Foi
trabalhando pelo MDB que José Carlos, Luiz Antônio, Tarcísio e Oviedo ofertaram
a Sergipe o único espaço de atuação política daqueles que se insurgiram contra
a ditadura militar que tomou o poder no Brasil em 1964. Num período em que a
ditadura inviabilizava por todos os meios a atividade dos oposicionistas e
quase a totalidade dos políticos de Sergipe era filiada a Aliança Renovadora
Nacional – Arena (o partido que apoiava a ditadura), a família Teixeira manteve
às suas expensas as atividades do MDB e estimulou a projeção de importantes
lideranças de esquerda como Jonas Amaral, Jackson Barreto e Rosalvo Alexandre.
Luiz
Antônio Teixeira cursou a escola primária no Educandário Menino Jesus, em
Aracaju, que funcionava na rua Maruim, 600. Foi aluno das quatro irmãs que eram
proprietárias da escola: Myriam, Iracema, Corália e Helena. No curso ginasial
foi para o Colégio Tobias Barreto. No curso científico, Luiz Antônio Teixeira
frequentou o primeiro ano do colégio Atheneu Sergipense. No segundo ano,
transferido para a cidade de Salvador, no Estado da Bahia, fez matrícula no
Colégio Marista. O terceiro ano foi cursado no Colégio Central.
Prestou
concurso vestibular para Engenharia Civil em Campina Grande, no Estado da
Paraíba, juntamente com o cunhado Luciano Franco Barreto que mais tarde casou
com sua irmã Maria Celi. Frequentou aquele curso durante os anos de 1959 e
1960, mas em 1961 obteve transferência para a Universidade Federal do Paraná,
onde colou grau em 1964.
Logo
após a sua colação de grau foi convidado por Celso de Carvalho (o primeiro
governador da ditadura em Sergipe) a comparecer a uma reunião privada, ao lado
do seu pai. Celso ofereceu a Luiz um emprego de engenheiro do Departamento de
Estradas de Rodagem – DER (à época um dos salários mais altos do serviço
público sergipano), além de um cargo de diretor na mesma repartição. Isto faria
Luiz Teixeira começar sua carreira com uma remuneração muito elevada.
O
pai, Oviedo, agradeceu educadamente ao governador, disse da sua felicidade por
ter o seu filho lembrado, mas afirmou que havia investido na formação do jovem
para que este fizesse carreira como empreendedor. Não aceitou, ainda mais sendo
Luiz Antônio irmão de José Carlos Teixeira, deputado federal sergipano que
fazia oposição à ditadura tanto no plano federal quanto no cenário da política
estadual.
O
engenheiro Luiz Antônio Teixeira trabalhou durante três meses com o pai Oviedo
na empresa Cimavel, revendedora de carros da marca Ford. Oviedo Teixeira
ofereceu ao filho os recursos que ele necessitava e este investiu na aquisição
da Sociedade Nordestina de Construções - Norcon, até então pertencente ao
empresário Gerci Pinheiro Machado.
Gerci
pretendia se desfazer do negócio para regressar a Recife, sua terra natal. A
pequena Nordestina mantinha como sua única atividade um contrato de prestação
de serviços com o Departamento Nacional de Obras e Saneamento – DNOS. Luiz
assumiu o controle da empreiteira em sociedade com o irmão Tarcísio, economista,
que somente foi trabalhar no negócio em 1968, cuidando da gestão administrativa
da empresa. O também engenheiro e cunhado Luciano Franco Barreto participava da
sociedade, mas, poucos anos depois se afastou e fundou a Construtora Celi.
Na
década de 80 do século XX, Luiz Antônio e Tarcísio haviam transformado a Norcon
na maior empresa de construção civil da região Nordeste do Brasil. Uma
empreiteira que adotou como foco principal a construção de unidades
residenciais em edifícios de apartamentos e também em condomínios horizontais.
Na
história da cidade de Aracaju, a Norcon foi responsável pela maior revolução no
modo de morar, principalmente das camadas medias e das famílias da elite local.
Todavia, também foram inúmeros os empreendimentos habitacionais populares que a
Norcon plantou nos bairros pobres da capital do Estado de Sergipe.
A
Norcon verticalizou a cidade pela visão de desenvolvimento urbano de Luiz
Teixeira. Ele comprou terrenos na década de 70 do século XX em áreas inabitadas
e investiu fortemente na construção de condomínios verticais em direção a zona
sul, levando as famílias de renda média e os ricos aracajuanos a viver na Praia
13 de Julho, ao longo da avenida Francisco Porto, nas avenidas Hermes Fontes e
Adélia Franco.
Na
primeira década do século XXI, criou um bairro inteiro – o Jardins. Fez
vultosos investimentos que levaram milhares de famílias de aracajuanos a
buscarem as terras da margem direita do rio Poxim como opção de moradia,
expandindo a cidade em direção ao bairro Atalaia e a chamada zona de expansão
até a margem esquerda do rio Vaza-Barris e o bairro Mosqueiro.
Sergipe
perdeu hoje um importante mecenas que ajudou a e estimulou inúmeros artistas
das várias linguagens, nas três últimas décadas do século XX e na primeira
década do século XXI. Isto sem falar do boêmio e festeiro que sempre foi. Frequentou
bares e conviveu com músicos de todos os matizes.
Figura
controversa. Rico, empresário da construção civil, multiplicou sua fortuna, gerou
emprego e renda, fez mecenato, estimulou as artes e foi um dos maiores
financiadores dos grupos que lutaram e resistiram contra a ditadura militar em
Sergipe. Fará muita falta.
*Jornalista,
professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e
presidente da Academia Sergipana de Educação.
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