Jorge
Carvalho do Nascimento*
Durante
o primeiro semestre do ano de 2020 acompanhei pela TV, pelo rádio e por alguns
blogs, várias entrevistas do jornalista Luciano Correia, presidente da Fundação
Cultural da Cidade de Aracaju – Funcaju, acerca da importância da aplicação dos
recursos colocados à disposição de artistas e produtores de arte pela chamada
Lei Aldir Blanc.
Desde
1985 mantenho com Luciano Correia uma sólida relação de amizade. Sei da sua
competência e da responsabilidade com a qual se pauta. Todavia, confesso que
relutei em comungar do entusiasmo do amigo e cheguei a duvidar dos bons
resultados que se obteria a partir dos estímulos da Lei Aldir Blanc.
Admito
agora que a realidade me obrigou a morder a língua. Acabo de fazer a leitura do
livro DOMINGUINHOS... E VAMOS NÓS! que tem como autor o professor Lucas
Campelo, exatamente com o uso dos recursos da Lei Aldir Blanc. Aos 37 anos de
idade, o aracajuano Lucas é licenciado em música, pianista e mestre em Educação
Musical pela Universidade Federal da Bahia.
O
livro nasceu a partir do farto material de pesquisa que Lucas possui desde que
iniciou a investigação para produzir a sua dissertação de Mestrado, com o
título O CAMINHAR MUSICAL DE DOMINGUINHOS: PROCESSOS DE APRENDIZAGEM NA PRÁTICA
DA SANFONA, defendida em 2014.
Sanfoneiro
extremamente qualificado, sempre inspirado pelo trabalho e pela obra de
Dominguinhos, Lucas integra o quadro de músicos da Orquestra Sanfônica de
Aracaju. Instrumentista por formação erudita e por vocação, com um qualificado
conhecimento da cultura popular da região Nordeste do Brasil, o sanfoneiro Lucas
acompanha periodicamente bandas e trios de forró e desenvolve também os seus
próprios shows.
Além
de todas essas atividades, ainda integra o quadro de educadores musicais do
Conservatório de Música do Estado de Sergipe, nas cadeiras de Piano e Sanfona. Nos
pendores de professor, ele foi estimulado pela sensibilidade da mãe, Iara
Campelo, doutora em Educação e aposentada da Universidade Federal de Sergipe,
onde foi vice-reitora.
Com
o pai, Paulo, ele aprendeu o entusiasmo pelo instrumento que o encanta. Como o
próprio Lucas confessa, Paulo foi o primeiro sanfoneiro da família e a primeira
pessoa a tocar a sensibilidade dos seus ouvidos com os acordes do instrumento.
Com os músicos Toninho Ferragutti e Gabriela Melo descobriu e se apaixonou pelo
trabalho de Dominguinhos.
A
Paulo Vanderley Tomas da Silva, Lucas Campelo entregou a responsabilidade pelo
prefácio do trabalho que tem o design gráfico da competente criadora Ananda
Barreto e revisão de Bruno Pinheiro, Jaciara Castro e Judite Aragão. Além
disto, Lucas põe em posição destacada 22 músicos e produtores musicais que entrevistou
para elaborar o seu estudo sobre Dominguinhos.
Dentre
estes, destaco os depoimentos de Camarão, Oswaldinho do Acordeon, Cobra Verde,
Mestrinho, Sérgio Rozenblit e Paulo Correa. Mestrinho, atualmente o mais
importante sanfoneiro do Brasil, é filho do grande músico da sanfona Arivaldo do
Carira, e não obstante ser ainda muito jovem, teve oportunidade de integrar a
banda que acompanhava Dominguinhos nos seus últimos shows.
Dividido
em quatro capítulos, o livro de Lucas Campelo revela os passos dados por
Dominguinhos em sua história de vida, a sua trajetória musical, a carreira
artística. Além disto, revela as ferramentas de aprendizagem que o grande
sanfoneiro nordestino desenvolveu para dominar com perfeição o seu instrumento.
Lucas
nos conta com emoção o último momento em que Dominguinhos subiu ao palco, no
dia 17 de dezembro de 2012, quando das celebrações do centenário de Luiz
Gonzaga, em Exu, no Estado de Pernambuco. E também toda a agonia sofrida por
Dominguinhos, desde que entrou em coma e padeceu no Hospital Santa Joana, em
Recife, até a sua morte, no dia 23 de julho de 2013.
Depois
de ler o trabalho de Lucas Campelo, admito. Luciano Correia estava correto. Os
editais da Funcaju com a Lei Aldir Blanc ajudaram os artistas aracajuanos em um
momento difícil provocado pela pandemia Covid-19 e produziram bons resultados.
O livro DOMINGUINHOS... E VAMOS NÓS! é um ótimo exemplo.
*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.
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