Pular para o conteúdo principal

JOSÉ SILVEIRA E GERALDO LEITE

                                            José Silveira
                                            Geraldo Leite

 

  

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

O médico sergipano Geraldo Leite construiu na Bahia uma bem sucedida carreira profissional que o projeto como professor titular da Escola Baiana de Medicina, fundador e primeiro reitor da Universidade Estadual de Feira de Santana, membro da Academia de Medicina da Bahia, presidente da Fundação José Silveira e atualmente presidente do Conselho Diretor da mesma instituição.

Nascido em Aracaju no ano de 1926 e vivendo em Salvador desde que estava se preparando para ingressar no curso de Medicina, onde colou grau em 1950, aos 95 anos de idade continua ativo como presidente nacional da Academia Brasileira Rotária de Letras – ABROL. No mesmo Rotary Internacional foi governador do Distrito 4550.

Dentre as muitas relações acadêmicas e de amizade que cultivou, durante toda a vida foi ligado ao médico e pesquisador baiano José Silveira, importante nome da Medicina brasileira, de quem foi aluno e com quem manteve uma relação de admiração mútua e parceria profissional. Após a morte do amigo, Geraldo tornou-se guardião da sua memória e gestor das suas obras.

Silveira dedicou sua vida profissional a combater a tuberculose e se transformou num dos nomes de maior importância no Brasil como tisiologista, fundador do Instituto Brasileiro para Investigação da Tuberculose – IBIT, que instalou em 1937. O IBIT se consolidou como o principal centro de investigação científica e tratamento da doença.

Quando presidiu a Fundação José Silveira, Geraldo Leite tomou a decisão de investigar a documentação deixada por aquele importante médico e, a partir de tais fontes, pretendia produzir um estudo biográfico dando conta da produtiva vida do seu amigo e parceiro de trabalho na Medicina.

Ao analisar os documentos legados pelo amigo, Geraldo Leite constatou que o mesmo deixara uma autobiografia dispersa em inúmeros textos e registros documentais que produziu ao longo da vida. Modificou o plano de trabalho e ao invés de se colocar como autor da biografia de José Silveira assumiu a postura de organizador do trabalho de memórias do renomado médico.

Por este caminho, Geraldo Leite organizou e acaba de colocar em circulação o primeiro volume do livro de Memórias de José Silveira – MOCIDADE E INFÂNCIA, coletando 489 textos dispersos do biografado que beneditinamente revisou e sistematizou em 496 páginas.

O livro tem a estampa de dois editores: Autorvisual Design Gráfico e Artner Comunicação, encadernado em capa dura, costurado em cadernos. A apresentação recebeu a assinatura do deputado federal Antonio Brito, presidente da Frente Parlamentar em Apoio às Santas Casas, Hospitais e Entidades Filantrópicas e também presidente da Frente Parlamentar pela Luta Contra a Tuberculose.

Em 60 capítulos, José Silveira apresenta os seus pais e demais familiares, a influência do seu tio padre, sua passagem por São Bento das Lajes, Santo Amaro da Purificação e Feira de Santana e a importância da família Torres, além de descrever os seus tempos de estudante do Ginásio da Bahia e os influxos que recebeu da cidade de Salvador.

Conta detalhadamente o seu ingresso no curso de Medicina e descreve os calouros da sua turma, que foi matriculada em 1922. A partir daí, nos conta ano a ano as práticas estudantis, sob todos os aspectos, registra a primeira vez que foi ao hospital, as práticas clínicas e a colação de grau.

 Os registros deixados por José Silveira demonstram o seu entusiasmo para com a obra e a personalidade de Prado Valladares, revelando também com tintas coloridas o ambiente das repúblicas e pensões da cidade de Salvador no período em que era ainda um estudante de Medicina.

Não esconde o seu deslumbramento de jovem médico e da mesma maneira as tensões sutis com os primeiros anos de exercício da profissão de médico, os concursos e o trabalho no Gabinete Médico de Eletricidade e Luz, além do importante ambulatório do Vale do Canela.

Revela o encantamento com a primeira viagem que fez à Europa e descreve as influências que recebeu e que o levaram a optar pela Tisiologia como especialidade que marcaria toda a sua carreira de discípulo de Esculápio nos consultórios, ambulatórios e hospitais em que atuou.

Nos conta das associações médicas, das crises da profissão, da pesquisa biomédica e de como resolveu tomar a iniciativa de fundar o Instituto Brasileiro para Investigação da Tuberculose – IBIT, bem como do primeiro evento científico promovido por aquela instituição.

A narrativa se interrompe no ano de 1947, mas fica a promessa do organizador Geraldo Leite da publicação em breve do segundo volume da autobiografia de José Silveira. Tanto a qualidade da narrativa do biografado quanto a organização e sistematização de Geraldo Leite demonstram que vale a pena a leitura deste primeiro e a expectativa de que o segundo volume não demore a entrar em circulação.

 

 

*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.

 

Comentários

  1. REALMENTE TANTO AS MEMÓRIAS DO PROF.JOSE SILVEIRA QUANTO A SU REMEMORAÇÁO PELO PROF.GERALDO LEITE NO EXCELENTE LIVRO MOCIDADE E E INFANCIA SÁO UM MAIS QUE EXCELENTE MEMORANDUM DA HISTORIA DA MEDICINA EM TORNO DE MEADOS DO SECULO VINTE NAO APENAS NA BAHIA MAS TAMBEM EM OUTROS ESTADOS E PAISES.....FIQUEI MUITO AGRACIADO COM A LEITURA DESSE EXCELENTE REPOSITORIO DE MEMÓRIAS DA MEDICINA....AGUARDO ANSIOSO O SEGUNDO VOLUME.PARABENS PROF.E AMIGO GERALDO LEITE

    ResponderExcluir
  2. Duas personalidades brilhantes que muito contribuíram e contribui para desenvolvimento da medicina, um orgulho para o Brasil! Eu parabenizo a iniciativa e trabalho do querido e admirado primo. Maria Luiza Costa Carvalho de Aracaju

    ResponderExcluir
  3. O LIVRO É UMA VIAGEM INSTRUTIVA E AGRADAVEL DE VÁRIAS DECADAS PELOS CAMINHOS TRILHADOS POR JOSÉ SILVEIRA,DESDE OS TEMPOS DE GAROTO EM SANTO AMARO DA PURIFICAÇÁO ATÉ OS ÁUREOS TEMPOS DE SEUS TRABALHOS COMO MÉDICO TISIOLOGISTA....MUITO INSTRUTIVO....DEIXA UM GOSTO DE QUERO MAIS...AGUARDO O SEGUNDO VOLUME.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

TRIBUTO A LUCINDA PEIXOTO

      Jorge Carvalho do Nascimento*     Acabei de tomar conhecimento da morte da empresária Maria Lucinda de Almeida Peixoto, ocorrido hoje na cidade de Penedo, Estado de Alagoas. Lucinda era certamente a principal herdeira dos negócios da próspera família Peixoto Gonçalves, empresários que ao longo do século XX constituíram a mais importante e mais rica família da região do Baixo Rio São Francisco, consideradas as duas margens – a de Alagoas e a de Sergipe. Tive a oportunidade de conhecer Lucinda Peixoto no final do ano de 2009, quando iniciei uma pesquisa sobre os negócios da família Peixoto Gonçalves, a convite do seu genro, José Carlos Dalles, um dos principais executivos com responsabilidade sobre a gestão das atividades econômicas da família. Em maio de 2010, fiz uma série de entrevistas e mantive várias conversas com Dona Lucinda, como os penedenses e os seus amigos costumavam tratá-la. Fiquei impressionado com a sua memória que o tempo não conseguira embotar. Do m

CONTRIBUIÇÃO ASSISTENCIAL: REGULAMENTO OU CAOS

                                                    Nilson Socorro       Nilson Socorro*     Nestes tempos bicudos de exacerbação das divergências, de intolerância e de fakes news em profusão, o mundo do trabalho, em especial, o movimento sindical, tem sido permanentemente agitado pela discussão, confusão e desinformação sobre o tema da contribuição sindical. O debate deveria contribuir para a construção de soluções, necessárias, em decorrência da fragilidade das finanças dos sindicatos, golpeadas pela reforma trabalhista de 2017 que abruptamente estabeleceu o fim da obrigatoriedade do imposto sindical. Mas, ao contrário, tem se prestado mais para amontoar lenha na fogueira onde ardem as entidades sindicais profissionais e econômicas que ainda resistem. A Consolidação das Leis do Trabalho trata a contribuição sindical em diversos artigos, assim como, a Constituição Federal. Pelo estabelecido na legislação, são três as espécies de contribuições: a contribuição sindical ou imposto sindic

TRIBUTO A THAIS BEZERRA

      Jorge Carvalho do Nascimento*     Nasci no dia 28 de agosto. Passados 22 anos após o dia em que eu nasci, a mais importante colunista social de toda a história da mídia em Sergipe publicou a sua primeira coluna, GENTE JOVEM, no jornal GAZETA DE SERGIPE, a convite do nosso amigo comum Jorge Lins e sob a orientação do jornalista Ivan Valença, então editor daquele importante periódico impresso. Hoje estou aqui para homenagear a memória de Thais Bezerra. A partir do seu trabalho, dediquei alguns anos da minha vida à pesquisa e me debrucei a estudar o fenômeno da coluna social em Sergipe, inspirado pelo meu olhar curioso e pelas observações que sempre fiz a respeito do trabalho da jornalista inspiradora que ela foi.       O estudo, inicialmente dedicado ao trabalho de Thais Bezerra se ampliou, e no início do ano de 2023, resultou na publicação do livro MEMÓRIAS DO JORNALISMO E DA COLUNA SOCIAL, pela Editora Criação.   Thais Bezerra começou a trabalhar aos 17 anos de