Jorge
Carvalho do Nascimento*
A
coluna social é um grande negócio empresarial, de acordo com o ponto de vista
da jornalista Lara Aguiar. Segundo ela, esta é uma editoria que é predominante
voltada a grandes negócios. “Quando você acompanha durante muito tempo um
colunista, você sabe de quem ele fala mal e quem ele elogia.
Não
interessa a ninguém, objetivamente, saber que fulano foi fazer uma viagem a
Europa e voltou. Pode ter um ou outro curioso que queira saber. Se a personalidade
for muito importante, até desperta a curiosidade do povo. Se noticia isso e se
consegue patrocínio para isso”.
Lara
Aguiar chama a atenção para o fato de que atualmente se reduziu muito a
necessidade de ler jornal para ver esse tipo de curiosidade. Quem viaja e quer
que todos saibam precisa cada vez menos ocupar os espaços dos jornais e os
próprios colunistas sociais também possuem clareza quanto a isto.
Há
um outro aspecto que também envolve o problema. A legislação brasileira quanto
a exigência de diploma para o exercício da profissão de jornalista foi
flexibilizada. Atualmente não é necessário ser diplomado para exercer a
profissão. Por isto, ficou mais fácil fazer o trabalho da coluna social que,
anteriormente, era feito por jornalistas profissionais.
Lara
entende que muitas pessoas descobriram no espaço da coluna social um caminho
para fazer negócios e ganhar dinheiro, sem exercitar as boas práticas do Jornalismo.
A jornalista chama a atenção para o fato de que a coluna social é um campo que
possui procedimentos e regras que lhe são próprios e que o profissional de
comunicação necessita conhecer.
Exemplifica
com o seu próprio trabalho quando editora de um caderno que publicava páginas de
coluna social. Fala das dificuldades que encontrou para aprender o ofício de
colunista social. “É muito difícil no início. Eu não conseguia colocar a
linguagem adequada. Muitas vezes usava uma linguagem formal, muito séria para
fazer uma nota. Com o tempo eu vi que aquele estilo não dava, não combinava.
Inclusive, a coluna era a página central do caderno, colorida.
Foi
muito difícil, inicialmente, mas eu aprendi, me adaptei e fiz a coluna do meu
modo. Eu queria fazer algo que ficasse agradável para quem iria ler e estava
buscando uma coluna social, mas que eu também não me sentisse mal fazendo
aquilo, não me sentisse fútil nem publicando mentiras. Eu não queria exagerar.
Sempre estava buscando um caminho do meio”.
Lara
Aguiar confessa que gostou muito da experiência de haver trabalhando com o
gênero coluna social. Diz ter sido muito bom entender melhor o comportamento
humano e o tamanho do ego das pessoas. Considera ter sido muito prazeroso o
trabalho com a coluna social.
Além
dessas questões, Lara coloca em relevo o aspecto econômico. “O meu trabalhou
ajudou o jornal a vender mais espaços. Ajudando o jornal eu estava me ajudando
profissionalmente a manter o caderno. Eu era frequentemente procurada por
vários médicos e os encaminhava ao departamento comercial.
Além
de encaminha-los ao departamento comercial, eu acenava para eles com a
perspectiva de divulgar o trabalho deles na coluna social. Quando você fala que
vai sair na coluna social com uma foto colorida, as pessoas se animam.
O
jornal era publicado no domingo e na segunda-feira as pessoas me procuravam
pedindo a edição em PDF. Recortavam e colocavam em seus grupos nas redes
sociais. Você percebia claramente o ego inflado de quem apareceu na coluna e o
ego ferido do concorrente que não apareceu”.
Considerando
os vários campos nos quais trabalhou como jornalista, Lara Aguiar afirma que o Jornalismo
a empurra para desafios constantes. Diz ser uma atividade profissional que não
admite rotinas, não permite que um dia seja igual ao outro. Entende que muita
coisa acontece ao mesmo tempo e o jornalista necessita compreender tudo o que
acontece.
Para
ela, o jornalista é um profissional treinado a estar sempre buscando informação,
interpretando fatos. “No jornalismo não existe marasmo. Você está o tempo todo
com novidades e tentando aprender algo novo. É um desafio bom, você aprende. Um
dia você discute Economia e no outro dia discute planejamento urbano. O
jornalista tem que aprender tudo rapidamente. Aprender a traduzir o que vê. O
jornalismo me ajudou a vencer os meus medos, a enfrentar a minha timidez, a
minha introspecção”.
Não
obstante esse trabalho intenso, segundo Lara Aguiar, o jornalista nem sempre
consegue uma remuneração digna. “Se você tiver três ou quatro empregos, sim,
você consegue uma renda razoável. Contudo, não vai viver com dignidade. Você
não vai ter saúde, não vai dormir direito, não vai acordar bem, não vai comer
nos horários adequados e muito menos prestar atenção na comida que está
comendo. Vai comer ouvindo uma gravação que fez de alguma entrevista e já
fazendo anotações no computador. Você não vai fazer atividade física e não vai
conseguir dar atenção a sua família. Vai ter uma vida social muito
comprometida. Em resumo, não creio que exista dignidade no jornalismo”.
*Jornalista,
professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e
presidente da Academia Sergipana de Educação.
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