Jorge
Carvalho do Nascimento*
Sentado ao lado do meu avô Epifânio, o meu fascinado
olhar de menino curioso estava num nível de encantamento inexplicável. Não
tenho dúvida que aquela sensação de aventura eriçou todos os meus pelos, coisa
que não era difícil naquela fase da vida. Nem mesmo a má qualidade da
transmissão precária, num período em que o sinal de TV no Estado de Sergipe era
recebido em Aracaju por uma antena repetidora instalada no Morro do Urubu,
conseguiu turbar o meu entusiasmo.
Aquela transmissão, contudo, foi feita diretamente
pelos equipamentos que estavam chegando para a TV Sergipe. A chegada do homem à
lua encantava alguns que eram até tidos como tolos e suscitava incredulidade em
outros que se consideravam experimentados e vividos, como era o caso do meu avô
Epifânio.
Ele repetia insistentemente: “Jorge, deixe de ser
besta. Isto é propaganda dos americanos, filmado lá mesmo e transmitido no
mundo todo para enganar os idiotas como você”. Epifânio morreu com a certeza de que o homem
jamais chegou à lua.
Eu, diferente do meu avô, vi tudo cheio de entusiasmo
e encantamento com o avanço tecnológico e com a magia daquela janela chamada
televisão. A cena foi vista por mim e por 650 milhões de espectadores
espalhados ao redor do mundo. Naquele ano de 1969, Sergipe lutava para
implantar a sua primeira emissora de TV, a que carrega o nome do Estado e foi
inaugurada no da 15 de novembro de 1971.
Agora, a TV Sergipe, Canal 4, é uma senhora que chega
neste 2021 aos 50 anos de idade. A saga é longa. Quando o homem chegou à Lua,
em 1969, o sergipano tinha apenas quatro anos que era espectador de TV. A
antena repetidora que permitiu aos sergipanos captar o sinal da TV Jornal do
Comércio, a partir das suas transmissões em Recife, foi inaugurada em 1965 no
Morro do Urubu, um dos pontos mais altos do município capital do Estado de
Sergipe.
A TV pernambucana transmitia, à época, a programação
da poderosa TV Tupi. A mesma TV Tupi forneceria parte da programação que foi
adotada pela TV Sergipe, a partir de 1971. Programação que foi muito criticada
pela mídia local, principalmente pelo jornal Gazeta de Sergipe.
A entrada em funcionamento da antena repetidora que
possibilitou o acesso dos sergipanos ao sinal da TV Jornal do Comércio, foi uma
saga difícil. O festejado sinal era de qualidade não muito boa. A propagação,
em determinados momentos fazia com que houvesse som, mas a imagem desaparecesse
da tela do aparelho. Em outras oportunidades, havia imagem, mas, cadê o som?
Contudo, o fato de haver aquela transmissão chegando
aos lares dos sergipanos com os seus pesados televisores a válvula e tubo de
imagem, era uma conquistada carregada pelo pioneirismo de dois visionários
sonhadores Nairson Menezes e Irineu Fontes, este último, pai do conhecido
publicitário, compositor e músico batizado com o mesmo nome.
Nairson, nascido em Laranjeiras, aprendeu a modular
sua voz tonitruante e a torna-la agradável, em Campos do Jordão, no Estado de
São Paulo. Foi para lá que sua família migrou na década de 40 do século XX. Nairson
e os seus irmãos Naércio e Francisco se tornaram figuras populares na cidade
como desportistas.
Nairson, além de ser reconhecido pela prática
esportiva, se tornou notório em Campos do Jordão como narrador esportivo da Rádio
Emissora de Campos do Jordão. Foi lá que ele descobriu a magia dos microfones.
Transmitia programas esportivos e narrava os jogos de futebol na década de 50
do século XX, sentado na antena da emissora de rádio que ficava localizada em
um morro ao lado e acima do estádio da cidade.
Em pouco tempo, Nairson era o líder de audiência na
Rádio Emissora de Campos do Jordão. Não demorou muito a receber convites e
mudou para a cidade de São Paulo, a capital do Estado, convidado por várias
emissoras, tendo se fixado como locutor da Rádio Bandeirantes. Quando a TV
começou a se expandir, foi contratado como apresentador e também começou a
trabalhar como publicitário.
Nairson Menezes regressou a Sergipe em 1958, quando
era um bem sucedido locutor da TV Excelsior, de São Paulo. Veio tentar uma vaga como candidato a
deputado estadual. A sua bandeira eleitoral era única e inovadora: a
implantação em Aracaju de uma emissora de TV. Era uma proposta muito ousada, à
época, para a acanhada capital dos sergipanos que mal havia começado a ouvir
falar do novo meio de comunicação que encantava os brasileiros do Rio de
Janeiro e de São Paulo.
A candidatura de Nairson Menezes ao cargo de deputado estadual foi malograda. Ele permaneceu em Aracaju por mais alguns meses e teve uma passagem pelos microfones da Rádio Difusora de Sergipe. Retornou a São Paulo e continuou a fazer sucesso e ganhar dinheiro na TV Excelsior junto a importantes nomes da TV, do rádio e do teatro com os quais atuou.
Além de apresentador de TV, continuou trabalhando como publicitário em São Paulo. Foi assim até a primeira metade da década de 60 do século XX, quando a implantação da primeira emissora de TV no Estado da Bahia o levou a aceitar o convite de trabalhar e viver na cidade de Salvador, fazendo muito sucesso no rádio e na televisão.
*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.
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