Jorge
Carvalho do Nascimento*
À
medida que os filhos cresciam, Irineu Fontes percebeu que necessitava aumentar
a sua renda. A remuneração auferida com o trabalho de gerente na loja do seu
pai, José Domingues Fontes, não era mais suficiente. Não era possível manter o padrão
de vida de antes. Agora, era necessário alimentar e educar a prole.
Com
a sua experiência de comerciante, decidiu permanecer no mesmo ramo de atividade
do seu pai e resolveu se estabelecer como representante comercial dos
fabricantes de tintas e ferragens, vendendo para os Estados de Sergipe, Bahia e
Alagoas. Viajou para São Paulo e fez contato com várias fábricas, inclusive com
a indústria de tintas Ypiranga que a sua família representava em Aracaju. Sem sucesso.
Um
amigo que vivia em São Paulo e conhecia bem o comércio e a indústria, sugeriu
que o ramo promissor naquele momento seria outro e o apresentou a algumas
indústrias fabricantes de aparelhos de rádio e radiolas. Irineu retornou a
Aracaju representando a indústria Empire.
Fez
contatos com grandes empresários de eletrodomésticos estabelecidos na capital
de Sergipe, como Francisco Pimentel Franco, da empresa P. Franco, a elegante
loja envidraçada da rua João Pessoa, com suas vitrines refinadas; Geonísio
Curvelo, da loja A. Curvelo, a grande vendedora de eletrodomésticos na esquina
das ruas Itabaianinha e São Cristóvão; e, com Cid Leão Mendonça, da Movelaria
Brasileira, a grande loja popular de móveis e eletrodomésticos no cruzamento da
travessa Hélio Ribeiro com a avenida Dr. Carlos Firpo.
O
rádio, os discos compactos e os LPs estavam num período de popularização e
expansão comercial. A venda de aparelhos de rádio e de radiolas conhecia
sucessivos recordes. Irineu Fontes conquistou o mercado de Aracaju e em seguida
começou a viajar pelo interior do Estado de Sergipe, se associando a
comerciantes com pontos de venda em Itabaiana, Estância, Propriá, Lagarto e
outros municípios.
Expandiu
as suas atividades nas praças do interior dos Estados de Alagoas e da Bahia. Em
pouco tempo era o maior vendedor de rádios e radiolas da Empire. Isto chamou a
atenção da indústria que lhe concedeu o prêmio de representante do ano e lhe impôs
a representação da nova linha de televisores que produzia.
Era
uma tarefa difícil, uma vez que em Sergipe não chegava nenhum sinal de emissora
de televisão. A própria Empire sugeriu a Irineu que havia a possibilidade de
instalar em Aracaju uma antena repetidora de TV, captando o sinal da Tv Jornal
do Comércio, que funcionava em Recife.
Para
divulgar o equipamento, a Empire ofereceu ao seu representante um aparelho de
TV e uma sofisticada antena para os padrões da época. De São Paulo para Aracaju
viajaram dois técnicos encarregados de fazer a montagem da antena e os ajustes
no receptor de televisão.
Tudo
foi colocado para funcionar na residência de Irineu Fontes, à rua Divina
Pastora. Um sucesso. Era a primeira casa do Estado de Sergipe a ter um receptor
de TV em funcionamento. O endereço se transformou numa grande atração e todas
as noites a família recebia visitas ilustres que iam conhecer a inovação
tecnológica. Todos saíam de lá deslumbrados com o que viam.
Irineu
Fontes e sua família foram visitados pelo governador do Estado e pelo prefeito de
Aracaju, por deputados estaduais, por vereadores, pelo bispo diocesano, por
autoridades militares federais e estaduais, por líderes empresariais, por
prefeitos dos municípios mais importantes.
Não
foi difícil a Irineu Fontes convencer o prefeito Godofredo Diniz, de quem era
amigo, a instalar uma antena repetidora do sinal da TV Jornal do Comércio no
alto do Morro do Urubu, atualmente o Parque da Cidade, a fim de distribuir o
sinal para os lares de todos os aracajuanos. Irineu foi pessoalmente a São
Paulo, representando a Prefeitura de Aracaju, adquirir o equipamento em nome do
poder municipal aracajuano.
A
instalação de tudo no Morro do Urubu foi outra epopeia. Houve a necessidade de
abrir uma estrada de terra até o morro a partir do bairro Industrial, em meio a
densa reserva de Mata Atlântica que ali existia. A estrada foi revestida com
piçarra, a fim de que os jeeps com tração nas quatro rodas e os caminhões
pudessem transitar por ela.
A
rodovia, contudo, só levava até a metade do morro. O resto do percurso até o
cume era feito a pé, carregando o equipamento pesado. Esta era a missão diária
do próprio Irineu e de vários técnicos que vieram de São Paulo trabalhar na
instalação da torre e das antenas que captavam o sinal da TV pernambucana e o
redistribuíam para as residências da cidade de Aracaju.
Depois
de muito trabalho, finalmente, em 1965, as residências dos aracajuanos passaram
a receber o sinal da TV pernambucana que transmitia a programação da TV Tupi,
de São Paulo. Na capital do Estado de Sergipe não se falava em outra coisa.
Explodiu a venda de receptores de TV.
Jornalista,
professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e
presidente da Academia Sergipana de Educação.
Como é bom saber a história de desenvolvimento de nosso Sergipe! Obrigado Prof.Jorge Carvalho do Nascimento.
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