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O CIRINEU DA TV SERGIPE - I

                                              Irineu Fontes

 

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

Peço licença ao amigo publicitário, músico e gestor público Irineu Fontes para ser pouco original e tomar por empréstimo o título de um artigo publicado por ele, no segundo domingo de agosto, dia dos pais do ano de 2019. “Viva os pais! O Cirineu da Televisão Sergipana” foi o título original do artigo de Irineu. Ali, Neu, o filho, traçou um perfil do pai que me serviu de suporte neste texto.

Cirineu é o genitivo das pessoas que nasceram na cidade de Cirene. Mas, também se diz Cirineu daqueles que empreendem ou colaboram com trabalhos penosos, a exemplo de Simão Cirineu que ajudou Jesus Cristo a carregar a pesada cruz no caminho até o Monte Calvário.  

No texto em que homenageou o seu pai, o publicitário Neu Fontes falou do outro Irineu Fontes, aquele bem mais velho que, pelas suas ações, se fez pioneiro da televisão em Sergipe, um Cirineu. O seu espírito irrequieto levou desde cedo o menino Irineu a se engajar no mundo do trabalho. Aos 12 anos de idade, em 1947, aluno do Colégio do Salvador, começou a laborar com o seu pai, o comerciante de sucesso José Domingues Fontes, à época um dos mais importantes dentre os líderes empresariais da cidade Aracaju.

A loja da família, Ferragem J. Domingues Fontes, situada na esquina da rua Laranjeiras com a travessa Deusdedith Fontes era o mais importante estabelecimento especializado na venda de ferragens e tintas da capital do Estado de Sergipe. O status de filho de próspera família não levou Irineu Fontes a acomodação. Pelo contrário.

Irineu foi trabalhar aos 12 anos de idade por iniciativa própria, mesmo com a desconfiança do seu pai. A mãe, inicialmente não gostou da ideia, mas resolveu abençoar a iniciativa do filho. Dona América, Mequinha como era conhecida, era uma mulher refinada, pianista que adorava tocar valsas no piano de cauda da sala da mansão da família, na esquina das ruas Itabaiana e Senador Rollemberg.

Filha de família erudita, Dona América, fluente na língua inglesa que cultivava, era irmã do importante historiador, professor José Calasans Brandão da Silva que desenvolveu uma importante carreira de intelectual em Salvador, como professor da Universidade Federal da Bahia, onde chegou a ocupar o cargo de vice-reitor.

O mais velho dos oito filhos do casal José Domingues Fontes e América, Irineuzinho, não regateou e começou na adolescência a assumir as responsabilidades de trabalhador. O pai não acreditava que aquela disposição duraria muito tempo. Ledo engano. Ao longo dos anos atravessou a adolescência e a juventude passando pelos vários setores da firma e aprendendo os diferentes serviços. Da limpeza do piso ao balcão, até chegar ao escritório.

Aprendiz das atividades administrativas no escritório da empresa, Irineu começou a desconfiar do comportamento do gerente da firma, um funcionário com mais de 10 anos na empresa, muito querido pelo seu pai, o dono da loja, José Domingues Fontes. Em casa, o jovem Irineu comunicou o que viu aos seus pais.

Aborrecido, José Domingues Fontes atribuiu a imaginação do filho os fatos relatados. Todavia, comerciante experiente que era, passou a acompanhar melhor o comportamento do gestor e terminou flagrando o gerente com a mão na massa. Afastou o empregado e entregou a gerência da loja ao seu filho, menor de idade. Sob o comando de Irineuzinho a empresa experimentou um período de crescimento acelerado e de forte expansão dos negócios.

Além de dedicar a maior parte do seu tempo ao trabalho no comércio, o jovem Irineu se ocupava com uma das poucas formas de lazer que o fazia entusiasmado: o jogo de futebol. Era craque do Atlético Futebol Clube, o à época conhecido Atlético de Cobrinha. A outra diversão que o animava era cantar nos programas de rádio e dançar nos clubes sociais da cidade.

Irineu Fontes conheceu no final da década de 50 do século XX, em uma festa na capital do Estado de Sergipe, a mulher com a qual casaria: Maria Susete. Começou a namorar a estanciana. À época tinha 20 anos de idade e todos os finais de semana viajava para a cidade de Estância, onde ela morava.

Susete era filha do barbeiro José Alves, o Dedé Sombrinha, com Dona Marocas, a sua mãe, conhecida pelas suas habilidades culinárias, principalmente pela qualidade da maniçoba, um apreciado prato típico da região sul do Estado de Sergipe, à base de mandioca.

Aos 20 anos, Irineuzinho era reconhecido como gestor empresarial competente, bom comerciante, importante vendedor e líder lojista, articulado com os comerciantes e políticos mais importantes do Estado de Sergipe. Era este o seu status, quando celebrou o casamento no final do ano de 1958. Em 1960 nasceu o seu primeiro rebento: Irineu Fontes Filho, o Neu Fontes. Depois, mais três: Ana Susete, Sandra América e Simone Angélica. Divorciado, contraiu novas núpcias e teve mais dois filhos: André e Sheila.

 

 

*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.
 

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