Jorge
Carvalho do Nascimento*
A
leitura de livros como SOBRE O TEMPO e A SOLIDÃO DOS MORIBUNDOS, escritos pelo
sociólogo alemão Norbert Elias; A CIDADE DE DEUS e, também SOBRE OS CUIDADOS
COM OS MORTOS, de Santo Agostinho; e A LÓGICA DA VIDA, de François Jacob me
ajudaram a compreender que a morte é a verdadeira realização da vida e o quanto
é importante organizar o modo como seremos vistos pelos pósteros.
Narradas
em primeira pessoa, as autobiografias cumprem tal função e contribuem para a
compreensão de determinados contextos históricos. Não casualmente, anônimos e
famosos costumam dar a conhecer detalhes da própria vida em trabalhos
autobiográficos. Muitas vezes é exatamente a autobiografia que projeta e faz famosos
os anônimos.
A
história está cheia de autobiografias de anônimos que se transformaram em
figuras relevantes. Talvez um dos exemplos de melhor qualidade a apresentar
neste debate seja o de Anne Frank. A desconhecida garota judia ficou famosa
após a sua morte, com a publicação dos seus diários que narravam a barbárie do holocausto.
Outro
excelente exemplo é o de Carolina Maria de Jesus, catadora de lixo, moradora da
Favela do Canindé, em São Paulo, mãe solteira e mulher negra, pouco letrada. Em
1960 ela viu o seu livro QUARTO DE DESPEJO: DIÁRIO DE UMA FAVELADA ganhar
status de best seller e transformá-la em escritora campeã de vendas, levando
a público os seus 20 cadernos contendo diários que narravam com crueza e sem dissimulação
da dor a tragédia da sua condição social.
Mas,
não apenas anônimos aderem a autobiografias. Também os famosos gostam de abrir
a intimidade e fixar os marcos balizadores do modo como o futuro os verá, apresentando
novas versões acerca de si, distintas das publicadas por desafetos e
adversários, no momento mesmo em que os mesmos famosos eram notórios e
influenciavam a vida de multidões.
Não
precisa muito esforço para anotar as publicações recentes dos estudos autobiográficos
de personalidades como Barack Obama, Edward Snowden, Michelle Obama, Usain Bolt
e José Dirceu ou alguns com maior tempo de publicação, a exemplo de Eric
Clapton, Martin Luther King, Agatha Christie, Gustavo Kuerten, Jean-Paul Sartre
e Rita Lee, dentre tantos.
Acabei
de ler o trabalho biográfico escrito por um amigo publicamente reconhecido e
aplaudido, o professor, economista e gestor público Antônio Fontes Freitas,
membro da Academia Sergipana de Educação, figura proeminente na Educação
brasileira em face das responsabilidades que ocupou no Estado de Sergipe e na
administração federal.
Apresentado
pela professora Marlene Alves Calumby, das Academias Sergipanas de Educação e de
Letras, o livro é prefaciado pelo jornalista Luiz Eduardo Costa, como Marlene
membro da Academia de Letras do Estado de Sergipe. São 10 capítulos nos quais
Freitas conta das suas vitórias, desafios e perdas.
Em
397 páginas editadas pela Infographics, o autor narra com especial acuidade o
período em que foi aluno do Colégio Estadual Atheneu Sergipense, onde, sublinha
Luana Luduvice que assinou a orelha, Freitas descobriu o amor e a habilidade
que lhe permitiu desenvolver a competência docente.
O
professor Antônio Fontes Freitas, agora com 79 anos de idade, revela detalhes
do seu trabalho como formador de professoras no Instituto de Educação Rui
Barbosa; e, da sua turma de estudante de Economia na Universidade Federal de
Sergipe, desde o seu ingresso até colar grau em 1969.
Um
ponto alto do trabalho é a rica iconografia escolhida por Freitas para dar
ênfase aos aspectos da sua vida que pretende imortalizar, bem como o panorama
que traça da sua passagem como professor das Faculdades Integradas Tiradentes
(atualmente Universidade Tiradentes), do Colégio de Aplicação e do Departamento
de Educação da Universidade Federal de Sergipe.
Merece
muita atenção o período no qual Antônio Fontes Freitas residiu em Brasília e
trabalhou no Departamento de Ensino Supletivo do Ministério da Educação, entre
os anos de 1976 e 1979, momento muito sensível da história brasileira. Da mesma
maneira, as coisas que o professor relata a respeito dos cargos que exerceu na
administração pública do Estado de Sergipe.
Não
foram poucas as responsabilidades de Antônio Freitas no Governo de Sergipe.
Além de diretor de escolas, foi assistente técnico administrativo, coordenador
executivo dos órgãos regionais e diretor geral de Educação até assumir o cargo
de secretário de Estado da Educação e Cultura. Foi membro e presidente do
Conselho Estadual de Educação.
Freitas
teve responsabilidades não apenas na Educação. Foi também secretário de Estado
da Indústria, Comércio e Turismo; presidente da Companhia de Habitação Popular
de Sergipe; secretário de Estado da Ciência e Tecnologia. Na Universidade Federal
de Sergipe foi presidente da Fundação e do Conselho Diretor da UFS, além de
assessor do reitor Clodoaldo de Alencar Filho.
Narrando
em primeira pessoa, Freitas é um sedutor que sabe atrair com muita competência aquele
que lê o trabalho autobiográfico para a sua visão de mundo. Mas, seja qual for
a leitura que se faça do livro, uma coisa é irrefutável: a contribuição de Freitas
à política educacional do Estado de Sergipe e do Brasil merece os aplausos de
todos os cidadãos, especialmente dos intelectuais e profissionais da Educação.
O
título do livro é um achado: A PROVA DOS NOVE: PROFESSOR FREITAS. MINHA VIDA
ALÉM DOS NÚMEROS. Ao bucolizar o discurso matemático, Antônio Fontes Freitas nos
remete já no título aos seus primeiros passos na carreira docente, quando
iniciou sua vida profissional ensinando Matemática.
Vale
a pena anotar que as estacas que Freitas cravou para que se narre a sua
trajetória de vida são muito sólidas. Da mesma maneira que profundos são os
alicerces que o seu trabalho estabeleceu ao longo dos anos nos quais contribuiu
para aperfeiçoar a qualidade do ensino do Estado de Sergipe.
*Jornalista,
professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e
presidente da Academia Sergipana de Educação.
Parabéns pela Vida e obra.
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