Jorge
Carvalho do Nascimento*
Atravessei
as décadas de 70, 80 e 90 do século XX consumindo todos os dias jornais como Diário
de Aracaju, Gazeta de Sergipe, Jornal da Cidade, Jornal de Sergipe, Tribuna de
Aracaju e outros mais. Também cultivei, no mesmo período, o hábito de ouvir os
programas jornalísticos das emissoras de rádio Atalaia, Jornal, Cultura, Difusora
e Liberdade.
No
jornal Diário de Aracaju incorporei a mania de fazer a leitura diária da coluna
social assinada pela jornalista Karmen Mesquita, marcada pela leveza de notas e
comentários que sempre buscavam valorizar as ações e as pessoas objeto do registro
que ela costumava fazer.
Do
mesmo modo, aprendi a ouvir de segunda a sexta-feira na Rádio Atalaia de
Sergipe o programa Show de Notícias e dentro dele uma coluna apresentada pela
mesma jornalista Karmen Mesquita. Nunca esqueci da doçura de uma das vozes mais
bonitas que já tive a oportunidade de escutar no rádio, com um trabalho de
colunista social em tudo assemelhado ao que ela publicava no jornal Diário de
Aracaju.
Ontem
li uma nota no canal Facebook do jornalista Pedrito Barreto informando que
Karmen Mesquita morreu, foi velada e sepultada em Aracaju na última
sexta-feira, 29 de julho de 2021, aos 90 anos de idade. Nota triste que
registra o fato de haver o jornalismo sergipano ficado mais pobre.
Karmen,
filha de Maria Mesquita e do engenheiro agrônomo João Fernandes de Souza, nasceu
no Estado do Espírito Santo, em 1931. Veio morar em Aracaju quando seu pai
migrou para o Estado de Sergipe, na década de 40 do século XX, e assumiu o
cargo de professor do Aprendizado Agrícola Benjamin Constant, atualmente o
campus de Agronomia do Instituto Federal de Sergipe – IFS. João Fernandes foi
diretor da escola entre 1948 e 1953.
A
adolescente Karmen e sua irmã Climene estudaram em Sergipe, onde a família
viveu até que o patriarca João Fernandes se aposentasse na carreira docente do
então Colégio Agrícola Benjamin Constant e nos anos 80 migrasse com a família de
volta para o Estado do Espírito Santo.
Karmen
Mesquita optou por continuar vivendo em Sergipe e aqui permaneceu, deixando de
acompanhar a família quando todos regressaram à terra de origem. A cidade de
Aracaju lhe deu régua e compasso, com o reconhecimento profissional e social
que ela incorporou com o seu trabalho de jornalista dedicada ao colunismo
social.
A
colunista social Karmen Mesquita trabalhou como jornalista até a sua morte.
Neste final de semana o jornal O POVÃO, onde ela atuava, publicou a última
coluna social assinada por Karmen. Uma atividade profissional que durou mais de
60 anos e fez de Karmen Mesquita, certamente, a mais longeva colunista social
da História da mídia em Sergipe.
As
cerca de seis décadas durante as quais atuou profissionalmente fizeram com que
Karmen convivesse com várias gerações de importantes nomes da coluna social,
como Laurindo Campos, Maria Luiza Cruz, Kerginaldo, Ilma Fontes, Ivan Valença
(Leilinha Leite), Pedrito Barreto, Clara Angélica Porto, Daisy Monte, Paulo Nou
(que também assinava Caymmi), Tereza Andrade, Osmário Santos, João de Barros,
Lânia Duarte, Thaís Bezerra, Ledinaldo Almeida (que também assinava Zuzu Lyra),
João Barreto Neto, Luduvice José, Sacuntala Guimarães, Cristina Souza, Sônia
Mara, Márcio Lyncoln, Roberto Lessa, Yara Belchior, Maria Franco e Madalena
Freire.
Karmen
exerceu o colunismo social num período em que esse gênero especializado de
jornalismo era, ao mesmo tempo, venerado e odiado. Os jornalistas que se
dedicaram a tal gênero sempre foram bajulados por alguns e olhados com desdém
por outros. Karmen, todavia conseguiu atravessar cerca de seis décadas de
atividade profissional arrancando aplausos pela leveza com que exercia sua
atividade.
Como
jornalista, Karmen Mesquita levou às últimas consequências o entendimento de
que o colunismo social se dedica a bisbilhotar os costumes buscando uma espécie
de verniz da existência humana, de práticas culturais civilizatórias, como o
grande sentido de tal gênero jornalístico. Afinal, é próprio à condição humana
sempre querer saber mais e mais sobre o outro e as suas intimidades, sobre o
refinamento dos costumes.
Karmen
Mesquita morreu na condição de um dos últimos profissionais do jornalismo a ter
tal consciência e ainda praticar o colunismo social desta forma, numa era em
que todos nós estamos expostos nas redes sociais da internet e que cada vez
mais temos dúvidas acerca da necessidade de colunistas sociais.
Ela
nunca se desprendeu da compreensão de que os grupos sociais estão presos a
padrões de decoro, moralidade e regras de comportamento coletivo, necessários à
convivência de grandes massas humanas. Ao sair de cena, Karmen nos deixou mais
pobres de pessoas que, ao seu modo, lutaram durante toda a vida para fazer com
que os homens consigam conviver sem se agredir mutuamente.
*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.
Parabéns...lembrou bem a importância de Karmen no contexto social. Gostava de ouvir ela falando. Perdemos mais uma pessoa que fez História em Sergipe e teve sua importância. Vá com Deus, você cumpriu sua trajetória com louvor. Descanso eterno dá lhe Senhor.
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