Jorge Carvalho do Nascimento*
15 de novembro de 2021. 15 de novembro
de 1971. 50 anos de imagem e som diante da janela que abriu as portas do mundo
para a minha geração. A daqueles meninos e meninas, adolescentes, rapazes e
moças, homens e mulheres que aprenderam a ver o mundo pelas lentes da TV Sergipe.
À emissora de TV dos sergipanos e aos profissionais que a consolidaram durante
meio século, rendo as minhas homenagens costurando uma colcha de retalhos e tentando
reunir em um único escrito alguns artigos que publiquei nos últimos meses sobre
a TV dos sergipanos.
I
Sentado ao lado do meu avô Epifânio, o
meu fascinado olhar de menino curioso estava num nível de encantamento
inexplicável. Não tenho dúvida que aquela sensação de aventura eriçou todos os meus
pelos, coisa que não era difícil naquela fase da vida. Nem mesmo a má qualidade
da transmissão precária, num período em que o sinal de TV no Estado de Sergipe
era recebido em Aracaju por uma antena repetidora instalada no Morro do Urubu,
conseguiu turbar o meu entusiasmo.
Aquela transmissão, contudo, foi feita
diretamente pelos equipamentos que estavam chegando para a TV Sergipe. A
chegada do homem à lua encantava alguns que eram até tidos como tolos e
suscitava incredulidade em outros que se consideravam experimentados e vividos,
como era o caso do meu avô Epifânio.
Ele repetia insistentemente: “Jorge,
deixe de ser besta. Isto é propaganda dos americanos, filmado lá mesmo e
transmitido no mundo todo para enganar os idiotas como você”. Epifânio
morreu com a certeza de que o homem jamais chegou à lua.
Eu, diferente do meu avô, vi tudo cheio
de entusiasmo e encantamento com o avanço tecnológico e com a magia daquela
janela chamada televisão. A cena foi vista por mim e por 650 milhões de
espectadores espalhados ao redor do mundo. Naquele ano de 1969, Sergipe lutava
para implantar a sua primeira emissora de TV, a que carrega o nome do Estado e
foi inaugurada no da 15 de novembro de 1971.
Agora, a TV Sergipe, Canal 4, é uma
senhora que chega neste ano de 2021 a meio século de atividade. A saga é longa.
Quando o homem chegou à Lua, em 1969, o sergipano tinha apenas quatro anos que
era espectador de TV. A antena repetidora que permitiu aos habitantes de
Sergipe captar o sinal da TV Jornal do Comércio, a partir das suas transmissões
em Recife, foi inaugurada em 1965 no Morro do Urubu, um dos pontos mais altos
do município capital do Estado de Sergipe.
A TV pernambucana transmitia, à época,
a programação da poderosa TV Tupi. A mesma TV Tupi forneceria parte da
programação que foi adotada pela TV Sergipe, a partir de 1971. Programação que
foi muito criticada pela mídia local, principalmente pelo jornal Gazeta de
Sergipe.
A entrada em funcionamento da antena
repetidora que possibilitou o acesso dos sergipanos ao sinal da TV Jornal do
Comércio, foi uma saga difícil. O festejado sinal era de qualidade não muito
boa. A propagação, em determinados momentos fazia com que houvesse som, mas a
imagem desaparecesse da tela do aparelho. Em outras oportunidades, havia
imagem, mas, cadê o som?
Contudo, o fato de haver aquela
transmissão chegando aos lares dos sergipanos com os seus pesados televisores a
válvula e tubo de imagem, era uma conquista carregada pelo pioneirismo de dois
visionários sonhadores Nairson Menezes e Irineu Fontes, este último, pai do
conhecido publicitário, compositor e músico batizado com o mesmo nome.
Nairson, nascido em Laranjeiras,
aprendeu a modular sua voz tonitruante e a torna-la agradável, em Campos do Jordão,
no Estado de São Paulo. Foi para lá que sua família migrou na década de 40 do
século XX. Nairson e os seus irmãos Naércio e Francisco se tornaram figuras
populares na cidade como desportistas.
Nairson, além de ser reconhecido pela
prática esportiva, se tornou notório em Campos do Jordão como narrador
esportivo da Rádio Emissora de Campos do Jordão. Foi lá que ele descobriu a
magia dos microfones. Transmitia programas esportivos e narrava os jogos de
futebol na década de 50 do século XX, sentado na antena da emissora de rádio
que ficava localizada em um morro ao lado e acima do estádio da cidade.
Em pouco tempo, Nairson era o líder de
audiência na Rádio Emissora de Campos do Jordão. Não demorou muito a receber
convites e mudou para a cidade de São Paulo, a capital do Estado, convidado por
várias emissoras, tendo se fixado como locutor da Rádio Bandeirantes. Quando a
TV começou a se expandir, foi contratado como apresentador e também começou a
trabalhar como publicitário.
Nairson Menezes regressou a Sergipe em
1958, quando era um bem sucedido locutor da TV Excelsior, de São Paulo. Veio
tentar uma vaga como candidato a deputado estadual. A sua bandeira eleitoral
era única e inovadora: a implantação em Aracaju de uma emissora de TV. Era uma
proposta muito ousada, à época, para a acanhada capital dos sergipanos que mal
havia começado a ouvir falar do novo meio de comunicação que encantava os
brasileiros do Rio de Janeiro e de São Paulo.
A candidatura de Nairson Menezes ao
cargo de deputado estadual foi malograda. Ele permaneceu em Aracaju por mais
alguns meses e teve uma passagem pelos microfones da Rádio Difusora de Sergipe.
Retornou a São Paulo e continuou a fazer sucesso e ganhar dinheiro na TV
Excelsior junto a importantes nomes da TV, do rádio e do teatro com os quais
atuou.
Além de apresentador de TV, continuou
trabalhando como publicitário em São Paulo. Foi assim até a primeira metade da
década de 60 do século XX, quando a implantação da primeira emissora de TV no
Estado da Bahia o levou a aceitar o convite de trabalhar e viver na cidade de
Salvador, fazendo muito sucesso no rádio e na televisão.
II
Peço licença ao amigo publicitário,
músico e gestor público Irineu Fontes para ser pouco original e tomar por
empréstimo algumas informações de um artigo publicado por ele, no segundo
domingo de agosto, dia dos pais do ano de 2019. “Viva os pais! O Cirineu da
Televisão Sergipana” foi o título original do artigo de Irineu. Ali, Neu, o
filho, traçou um perfil do pai, também Irineu, que me serviu de suporte neste
texto.
Cirineu é o genitivo das pessoas que
nasceram na cidade de Cirene. Mas, também se diz Cirineu daqueles que
empreendem ou colaboram com trabalhos penosos, a exemplo de Simão Cirineu que
ajudou Jesus Cristo a carregar a pesada cruz no caminho até o Monte Calvário.
No texto em que homenageou o seu pai, o
publicitário Neu Fontes falou do outro Irineu Fontes, aquele bem mais velho
que, pelas suas ações, se fez pioneiro da televisão em Sergipe, um Cirineu. O
seu espírito irrequieto levou desde cedo o menino Irineu a se engajar no mundo
do trabalho. Aos 12 anos de idade, em 1947, aluno do Colégio do Salvador,
começou a laborar com o seu pai, o comerciante de sucesso José Domingues
Fontes, à época um dos mais importantes dentre os líderes empresariais da
cidade de Aracaju.
A loja da família, Ferragem J.
Domingues Fontes, situada na esquina da rua Laranjeiras com a travessa
Deusdedith Fontes era o mais importante estabelecimento especializado na venda
de ferragens e tintas da capital do Estado de Sergipe. O status de filho de
próspera família não levou Irineu Fontes a acomodação. Pelo contrário.
Irineu foi trabalhar aos 12 anos de
idade por iniciativa própria, mesmo com a desconfiança do seu pai. A mãe,
inicialmente não gostou da ideia, mas resolveu abençoar a iniciativa do filho.
Dona América, Mequinha como era conhecida, era uma mulher refinada, pianista
que adorava tocar valsas no piano de cauda da sala da mansão da família, na
esquina das ruas Itabaiana e Senador Rollemberg.
Filha de família erudita, Dona América,
fluente na língua inglesa que cultivava, era irmã do importante historiador,
professor José Calasans Brandão da Silva que desenvolveu uma destacada carreira
de intelectual em Salvador, como professor da Universidade Federal da Bahia,
onde chegou a ocupar o cargo de vice-reitor.
O mais velho dos oito filhos do casal
José Domingues Fontes e América, Irineuzinho, não regateou e começou na
adolescência a assumir as responsabilidades de trabalhador. O pai não
acreditava que aquela disposição duraria muito tempo. Ledo engano. Ao longo dos
anos atravessou a adolescência e a juventude passando pelos vários setores da
firma e aprendendo os diferentes serviços. Da limpeza do piso ao balcão, até
chegar ao escritório.
Aprendiz das atividades administrativas
no escritório da empresa, Irineu começou a desconfiar do comportamento do
gerente da firma, um funcionário com mais de 10 anos na empresa, muito querido
pelo seu pai, o dono da loja, José Domingues Fontes. Em casa, o jovem Irineu
comunicou o que viu aos seus pais.
Aborrecido, José Domingues Fontes
atribuiu a imaginação do filho os fatos relatados. Todavia, comerciante
experiente que era, passou a acompanhar melhor o comportamento do gestor e
terminou flagrando o gerente com a mão na massa. Afastou o empregado e entregou
a gerência da loja ao seu filho, menor de idade. Sob o comando de Irineuzinho a
empresa experimentou um período de crescimento acelerado e de forte expansão
dos negócios.
Além de dedicar a maior parte do seu
tempo ao trabalho no comércio, o jovem Irineu se ocupava com uma das poucas
formas de lazer que o fazia entusiasmado: o jogo de futebol. Era craque do
Atlético Futebol Clube, o à época conhecido Atlético de Cobrinha. A outra
diversão que o animava era cantar nos programas de rádio e dançar nos clubes
sociais da cidade.
Irineu Fontes conheceu no final da
década de 50 do século XX, em uma festa na capital do Estado de Sergipe, a
mulher com a qual casaria: Maria Susete. Começou a namorar a estanciana. À
época ele tinha 20 anos de idade e todos os finais de semana viajava para a
cidade de Estância, onde ela morava.
Susete era filha do barbeiro José
Alves, o Dedé Sombrinha, com Dona Marocas, a sua mãe, conhecida pelas suas
habilidades culinárias, principalmente pela qualidade da maniçoba, um apreciado
prato típico da região sul do Estado de Sergipe, à base de mandioca.
Aos 20 anos, Irineuzinho era
reconhecido como gestor empresarial competente, bom comerciante, importante
vendedor e líder lojista, articulado com os comerciantes e políticos mais
importantes do Estado de Sergipe. Era este o seu status, quando celebrou o
casamento no final do ano de 1958. Em 1960 nasceu o seu primeiro rebento:
Irineu Fontes Filho, o Neu Fontes. Depois, mais três: Ana Susete, Sandra
América e Simone Angélica. Divorciado, Irineu contraiu novas núpcias e teve
mais dois filhos: André e Sheila.
III
À medida que os filhos cresciam, Irineu
Fontes percebeu que necessitava aumentar a sua renda. A remuneração auferida
com o trabalho de gerente na loja do seu pai, José Domingues Fontes, não era
mais suficiente. Não era possível manter o padrão de vida de antes. Agora, era
necessário alimentar e educar a prole.
Com a sua experiência de comerciante,
decidiu permanecer no mesmo ramo de atividade do seu pai e resolveu se
estabelecer como representante comercial dos fabricantes de tintas e ferragens,
vendendo para os Estados de Sergipe, Bahia e Alagoas. Viajou para São Paulo e
fez contato com várias fábricas, inclusive com a indústria de tintas Ypiranga
que a sua família representava em Aracaju. Sem sucesso.
Um amigo que vivia em São Paulo e
conhecia bem o comércio e a indústria, sugeriu que o ramo promissor naquele momento
seria outro e o apresentou a algumas indústrias fabricantes de aparelhos de
rádio e radiolas. Irineu retornou a Aracaju representando a indústria Empire.
Fez contatos com grandes empresários de
eletrodomésticos estabelecidos na capital de Sergipe, como Francisco Pimentel
Franco, da empresa P. Franco, a elegante loja envidraçada da rua João Pessoa,
com suas vitrines refinadas; Geonísio Curvelo, da loja A. Curvelo, a grande
vendedora de eletrodomésticos na esquina das ruas Itabaianinha e São Cristóvão;
e, com Cid Leão Mendonça, da Movelaria Brasileira, a grande loja popular de
móveis e eletrodomésticos no cruzamento da travessa Hélio Ribeiro com a avenida
Dr. Carlos Firpo.
O rádio, os discos compactos e os LPs
estavam num período de popularização e expansão comercial. A venda de aparelhos
de rádio e de radiolas conhecia sucessivos recordes. Irineu Fontes conquistou o
mercado de Aracaju e em seguida começou a viajar pelo interior do Estado de
Sergipe, se associando a comerciantes com pontos de venda em Itabaiana,
Estância, Propriá, Lagarto e outros municípios.
Expandiu as suas atividades nas praças
do interior dos Estados de Alagoas e da Bahia. Em pouco tempo era o maior
vendedor de rádios e radiolas da Empire. Isto chamou a atenção da indústria que
lhe concedeu o prêmio de representante do ano e lhe impôs a representação da
nova linha de televisores que produzia.
Era uma tarefa difícil, uma vez que em
Sergipe não chegava nenhum sinal de emissora de televisão. A própria Empire
sugeriu a Irineu que havia a possibilidade de instalar em Aracaju uma antena
repetidora de TV, captando o sinal da Tv Jornal do Comércio, que funcionava em
Recife.
Para divulgar o equipamento, a Empire
ofereceu ao seu representante um aparelho de TV e uma sofisticada antena para
os padrões da época. De São Paulo para Aracaju viajaram dois técnicos
encarregados de fazer a montagem da antena e os ajustes no receptor de
televisão.
Tudo foi colocado para funcionar na
residência de Irineu Fontes, à rua Divina Pastora. Um sucesso. Era a primeira
casa do Estado de Sergipe a ter um receptor de TV em funcionamento. O endereço
se transformou numa grande atração e todas as noites a família recebia visitas
ilustres que iam conhecer a inovação tecnológica. Todos saíam de lá
deslumbrados com o que viam.
Irineu Fontes e sua família foram
visitados pelo governador do Estado e pelo prefeito de Aracaju, por deputados
estaduais, por vereadores, pelo bispo diocesano, por autoridades militares
federais e estaduais, por líderes empresariais, por prefeitos dos municípios
mais importantes.
Não foi difícil a Irineu Fontes
convencer o prefeito Godofredo Diniz, de quem era amigo, a instalar uma antena
repetidora do sinal da TV Jornal do Comércio no alto do Morro do Urubu,
atualmente o Parque da Cidade, a fim de distribuir o sinal para os lares de
todos os aracajuanos. Irineu foi pessoalmente a São Paulo, representando a
Prefeitura de Aracaju, adquirir o equipamento em nome do poder municipal
aracajuano.
A instalação de tudo no Morro do Urubu
foi outra epopeia. Houve a necessidade de abrir uma estrada de terra até o
morro a partir do bairro Industrial, em meio a densa reserva de Mata Atlântica
que ali existia. A estrada foi revestida com piçarra, a fim de que os jeeps com
tração nas quatro rodas e os caminhões pudessem transitar por ela.
A rodovia, contudo, só levava até a
metade do morro. O resto do percurso até o cume era feito a pé, carregando o
equipamento pesado. Esta era a missão diária do próprio Irineu e de vários
técnicos que vieram de São Paulo trabalhar na instalação da torre e das antenas
que captavam o sinal da TV pernambucana e o redistribuíam para as residências
da cidade de Aracaju.
Depois de muito trabalho, finalmente,
em 1965, as residências dos aracajuanos passaram a receber o sinal da TV
pernambucana que transmitia a programação da TV Tupi, de São Paulo. Na capital
do Estado de Sergipe não se falava em outra coisa. Explodiu a venda de
receptores de TV.
IV
A escolha do Morro do Urubu como espaço
adequado na cidade para a instalação da torre repetidora do sinal da TV
pernambucana Jornal do Comércio foi feita pessoalmente pelo próprio Irineu
Fontes. Do mesmo modo, ele regressou a Aracaju no caminhão que trouxe de São
Paulo o moderno equipamento.
Também da cidade de São Paulo vieram os
técnicos da empresa Empire encarregados de montar e fazer funcionar a torre da
TV, como era chamada pelas pessoas. É verdade que o poder irradiante era
pequeno e o sinal não primava por qualidade elevada, mas isto não turbou a
magia da transmissão simultânea de sons e imagens que encantaram os habitantes
da capital do Estado de Sergipe.
A tarefa de manter a torre repetidora
funcionando não era simples. No Morro do Urubu, onde foi instalada a antena,
não havia energia elétrica. Para alimentá-la foi necessário adquirir um gerador
movido a óleo diesel. As transmissões ocorriam entre as 17 e as 22 horas, de
segunda a sábado. Aos domingos, das 12 às 22 horas.
Irineu Fontes subiu o Morro do Urubu
diariamente com o seu Jeep, que possuía tração nas quatro rodas, transportando
o óleo diesel necessário para alimentar o gerador de energia elétrica, tarefa
penosa e cansativa, posto que a estrada precária só levava até a metade do
Morro.
A fim de ajudá-lo na penosa tarefa,
Irineu Fontes convidou alguns amigos. Dois deles tiveram papel destacado e
passaram a trabalhar com ele na manutenção das atividades da torre de
retransmissão: o empresário e radialista Paulo Silva e o empresário Milson
Barreto, que compartilharam e dividiram as responsabilidades de fazer funcionar
aquele equipamento.
A venda de aparelhos de TV Empire
explodiu em Sergipe, mesmo sendo os preços muito caros e reduzida a população
de privilegiados que tinham condições de pagar pela aquisição e instalação dos
televisores em suas casas. A indústria e o comércio criavam facilidades e
usavam todo tipo de artifício para assegurar as vendas.
Os aparelhos de TV eram vendidos em
seis, 12, 18 e até 24 prestações. Lojas como P. Franco, A. Curvelo e Movelaria
Brasileira sorteavam entre os compradores passagens aéreas para o Rio de Janeiro
e São Paulo e faziam até sorteios do carro que era a grande sensação da década
de 60 do século XX: o Fusca.
Irineu estimulou os comerciantes de
Itabaiana, Estância, Propriá e Lagarto, dentre outros, e o interior do Estado
de Sergipe começou a ganhar também torres repetidoras, aumentando a venda de
aparelhos de TV no interior sergipano. Deste modo, Irineu se colocou como um
dos maiores representantes do ramo de aparelhos eletrodomésticos do Brasil.
Irineu Fontes percebeu que seria
possível ampliar ainda mais os seus negócios se o Estado de Sergipe possuísse
não apenas uma torre repetidora, mas uma emissora de Tv que gerasse o sinal em
Aracaju e o transmitisse para os lares dos sergipanos. Nasceu, assim, em 1966,
a ideia de criar a Rádio Televisão de Sergipe S. A.
Irineu convocou o seu contador para dar
forma a nova empresa e buscou amigos comerciantes com tal objetivo. Lembrou de
Nairson Menezes e da sua tentativa de se eleger deputado estadual em 1958 tendo
como bandeira a instalação de uma emissora de TV em Sergipe.
O radialista e publicitário Nairson
Menezes estava, em 1966, trabalhando em Salvador, no Estado da Bahia, onde era
radialista e apresentador de programas de TV, além de continuar exercendo a sua
atividade de publicitário, tal como aprendera trabalhando na TV Excelsior, em
São Paulo. Irineu conseguiu seduzi-lo e Nairson que estava se transferindo para
Aracaju resolveu aderir ao projeto.
À época, dentre outras atividades que
passou a desenvolver no rádio, Nairson Menezes organizou a primeira agência de
propaganda em Sergipe, nos mesmos moldes que conhecera nos mercados dos Estados
de São Paulo e da Bahia, onde atuara até então. Nairson levou Sergipe a se
libertar da “era dos reclames” e começou a produzir jingles comerciais gravados
e peças publicitárias graficamente muito bem-acabadas, o que era uma grande
novidade no mercado sergipano.
Nairson foi, por assim dizer, o
primeiro modernizador do mercado publicitário de Sergipe e fundador da primeira
agência de propaganda a funcionar no Estado – a NM Publicidade e Negócios.
Agência de propaganda era, até então, uma instituição desconhecida no tímido
mercado publicitário local.
No projeto de Irineu Fontes, coube a
Nairson Menezes a responsabilidade por uma grande inovação – a subscrição
pública de ações da empresa Rádio Televisão de Sergipe S.A. A TV Sergipe foi,
em tal sentido, uma emissora de TV original no mercado brasileiro de televisão,
ao constituir o seu capital social através da oferta pública de ações.
Foram implantados pontos de venda no
então moderno edifício da Estação Rodoviária Governador Luiz Garcia e nos mais
importantes pontos do centro comercial de Aracaju, como a loja P. Franco,
situada na rua João Pessoa, um dos endereços de maior elegância do comércio à
época.
O empreendimento conquistou também
rapidamente a adesão de importantes líderes empresariais sergipanos como
Francisco Pimentel Franco, Josias Passos (adquirente da maior quantidade de
ações e que deteve por muitos anos o controle acionário do capital votante da
empresa), Getúlio Passos (filho de Josias Passos e primeiro diretor-presidente
da empresa), José Alves, Hélio Leão, Augusto Santana, Paulo Vasconcelos,
Geonízio Curvelo, Carlos Menezes, Lauro Menezes e Luciano Nascimento, dentre
outros.
Além destes grandes acionistas, disparou
a venda popular de ações nos postos abertos ao público. Tinha cidadão
assalariado que adquiria uma única ação. O fato é que em 1967 a empresa estava
já constituída e iniciou os investimentos para implantação da emissora de TV.
V
O entusiasmo de Irineu Fontes e a sua
capacidade de reunir em torno da proposta outros grandes nomes que comungavam
com ele dos mesmos ideais, como Nairson Menezes, além dos empresários
investidores que ajudaram a viabilizar a ideia, terminou entusiasmando todos os
sergipanos. Nairson foi o grande vendedor das ações da nova empresa.
Colocar a TV Sergipe em funcionamento
se transformou em questão de honra. O poder público resolveu se somar ao
projeto e a Prefeitura de Aracaju fez a doação de uma área de terra de sua
propriedade no Morro da Piçarra, bairro Cidade Nova, para que ali fosse
construído o edifício que sediaria os escritórios, os estúdios e os
equipamentos de geração, reprodução e transmissão, além da torre.
Organizada a empresa, Josias Passos, o
maior acionista, designou o seu filho, Getúlio Dantas Passos, também detentor
de uma grande quantidade de ações, para assumir a presidência da organização.
Começou uma fase mais difícil, com três importantes objetivos: a construção do
edifício sede, a obtenção da concessão junto ao Ministério das Comunicações, a
aquisição e também a montagem do equipamento necessário ao funcionamento da
emissora.
O entusiasmo da população do Estado de
Sergipe pelo empreendimento somente era superado pela ansiedade em torno do
momento no qual começaria a ser transmitido o sinal da nova emissora de
televisão. A assinatura do contrato para a aquisição dos equipamentos, em 1967,
foi celebrada de modo efusivo.
Por orientação dos contatos que Irineu
Fontes mantinha junto a empresa Empire, em São Paulo, os dirigentes da TV
Sergipe receberam duas sugestões: a de contratação do engenheiro Linhares, que
era funcionário da Empresa Brasileira de Telecomunicações – Embratel, em
Sergipe, e a da contratação dos equipamentos de transmissão junto a empresa
Maxwell.
Ao contratar junto a Maxwell a produção
dos seus equipamentos, a TV Sergipe se tornava pioneira em um novo aspecto: foi
a primeira emissora de televisão brasileira montada com equipamentos nacionais.
Tudo foi totalmente fabricado no Brasil. É bom lembrar, que os fundadores da TV
Sergipe já tinham inovado criando a primeira empresa de televisão no país com
capital obtido a partir da subscrição pública e aberta de ações, com ampla
participação popular.
A ansiedade pelo sinal da nova emissora
de TV era tamanha que levou Irineu Fontes a tomar uma decisão ousada, assim que
chegaram a Aracaju os primeiros equipamentos, em 1967. À época estava em
construção o Edifício Estado de Sergipe, o mais alto da cidade de Aracaju, com
27 andares, destinado a abrigar a maior parte das Secretarias de Estado e
algumas autarquias e empresas públicas estaduais.
Irineu Fontes conseguiu a autorização
do governador Lourival Baptista, levou equipamentos para a laje de teto do
edifício, com a colaboração de alguns técnicos, e instalou uma antena precária,
fazendo a primeira transmissão de TV com sinal gerado em Sergipe.
Até aquele momento não existia em
Sergipe um grupo de profissionais qualificados para trabalhar em televisão. Os
primeiros foram treinados, recaindo a preferência dos técnicos que vieram de
São Paulo sobre profissionais que possuíam experiência como operadores de
emissoras de rádio e técnicos que lidavam com projetores nos cinemas que
existiam em Sergipe.
O filho de Irineu, Neu Fontes,
atualmente músico, gestor público e publicitário, então adolescente, estava ao
lado do pai na aventura de transmissão do sinal no alto do Edifício Estado de
Sergipe, em 1967. Recorda que os elevadores do edifício em construção ainda não
estavam em funcionamento. Para subir até a laje superior do último pavimento,
eles utilizaram os precários elevadores em caixote de madeira que serviam para
o transporte de cargas e operários da construção civil que atuavam na obra.
Sem que a TV Sergipe tivesse recebido
concessão do Ministério das Comunicações para operar, nem mesmo em fase de
experiência, o Departamento de Polícia Federal considerou ter sido clandestina
aquela transmissão e durante muito tempo Irineu Fontes teve necessidade de se
explicar junto a autoridades policiais e da área de telecomunicações.
A primeira autorização precária para
funcionamento em caráter experimental, por 90 dias apenas, foi concedida
somente em 1968. Foram feitas algumas transmissões naquele ano. A TV Sergipe
silenciou e voltaria a transmitir experimentalmente em ocasiões especiais, como
em 1969, quando exibiu ao vivo a chegada do homem à lua.
Em 1970 ocorreu um novo período
especial de transmissões, com autorização temporária, durante a realização dos
jogos do Campeonato Mundial de Futebol, no México. Os sergipanos acompanharam
as partidas de futebol e a conquista pelo Brasil do título de tricampeão da
Copa do Mundo. Depois disto, a TV Sergipe parou de transmitir e somente recebeu
nova autorização para operar em caráter experimental no dia 12 de maio de 1971,
transmitindo ininterruptamente até o final do ano, quando foi inaugurada
definitivamente.
VI
Foi longa a espera dos dirigentes da
Rádio Televisão de Sergipe S. A. até que o Ministério das Comunicações
concedesse a autorização definitiva para que a TV Sergipe tivesse condições de
operar comercialmente, com regularidade. Demorou até que os sergipanos
assistissem a transmissão dos programas gerados em Aracaju e a retransmissão
dos programas que vinham do Rio de Janeiro e em São Paulo, com o mínimo de
qualidade.
Mesmo tendo sido a empresa
completamente constituída e registrada em 1967, foram quase quatro longos anos
aguardando a autorização definitiva e a organização da equipe que iria operar
as suas atividades. A luta envolveu não apenas os seus acionistas e dirigentes,
mas também políticos locais que se dispuseram a colaborar tentando fazer com
que o Ministério das Comunicações deferisse mais rapidamente o requerimento dos
sergipanos.
Em dezembro de 1970, não obstante
sucessivas promessas, todas frustradas, o governo federal ainda não havia
autorizado a TV Sergipe a iniciar comercialmente as suas operações. Sequer a
autorização para que a emissora entrasse no ar definitivamente em caráter
experimental havia sido expedida.
Numa reunião de diretoria realizada no
dia cinco de dezembro daquele ano, alguns diretores revelaram ter esperanças de
que a autorização permitisse a emissora operar antes dos festejos natalinos de
1970. Foi necessário aguardar ainda quase um ano para a inauguração da emissora
de TV.
Na reunião do dia cinco de dezembro,
com a presença dos diretores Getúlio Dantas Passos, José Alves de Melo,
Francisco Pimentel Franco, Augusto Santana e Paulo Vasconcelos, este último
revelou que havia conversado com o então ministro das Comunicações, Higino
Corseti.
O ministro assegurou a Paulo
Vasconcelos que a concessão do canal de TV estava pronta, apenas aguardando o
despacho do presidente da República para ser publicada no Diário Oficial da
União. A notícia animou os sergipanos, mas em poucos dias, estes seriam
novamente frustrados em suas pretensões com a ausência do ato autorizativo.
Aquela notícia fez com que os
dirigentes da Rádio Televisão de Sergipe S. A. buscassem os diretores da
empresa Maxwell, fabricante dos equipamentos em instalação, solicitando que tal
processo fosse acelerado, de modo a evitar surpresas quando o Diário Oficial da
União circulasse com o ato autorizativo.
Naquele momento era forte a crença dos
dirigentes da Rádio Televisão de Sergipe S. A. de que a concessão estava mesmo
prestes a ser publicada. O prefeito de Aracaju e o governador do Estado de
Sergipe tinham feito gestões junto ao ministro Corseti buscando tal liberação.
Valdir Santos Brito, chefe do governo
municipal de Aracaju, foi recebido em audiência pelo ministro das comunicações,
acompanhado do seu assessor Carlos José Magalhães de Melo. À época, o
ministério funcionava no então Estado da Guanabara. Ali, o prefeito de Aracaju
redigiu de próprio punho um requerimento solicitando do ministro a aceleração
do processo e deu entrada no protocolo, ficando com o jornalista Carlos
Magalhães a responsabilidade de acompanhar os procedimentos junto ao
ministério.
Além disto, Carlos Magalhães e Valdir
Brito visitaram os dirigentes do Departamento Nacional de Telecomunicações -
Dentel, buscando a superação de entraves burocráticos ainda existentes. Ali,
receberam também acenos afirmativos de que em poucos dias todas as dificuldades
estariam superadas.
Todavia, apenas cinco dias depois de a
diretoria da TV Sergipe haver divulgado esse conjunto de boas notícias, o
jornal Gazeta de Sergipe revelou que tudo era ilusório e que a autorização para
funcionamento da emissora ainda iria demorar razoavelmente, como de fato
ocorreu.
Na coluna Informe GS do dia 11 de
dezembro de 1970, a Gazeta de Sergipe afirmou que “as notícias a respeito da
possibilidade de funcionamento da Televisão de Sergipe, não passam de um sonho.
A verdade é bem outra. Não esperemos a nossa Televisão tão cedo”. Naquele
momento a Prefeitura de Aracaju vinha já relaxando os gastos com a manutenção
da torre repetidora instalada no Morro do Urubu, que possibilitava aos lares
sergipanos a recepção do sinal da TV Jornal do Comércio, do Recife.
Ao se dar conta de que a autorização
para a TV Sergipe operar tardaria, o prefeito Valdir Brito determinou que
fossem realizados urgentemente serviços de manutenção nos equipamentos da torre
do Morro do Urubu, buscando garantir a continuidade do único sinal de televisão
disponível na capital do Estado de Sergipe.
Na verdade, desde o mês de outubro de
1970, os aracajuanos tinham muita dificuldade em captar o precário sinal da TV
pernambucana retransmitido em Aracaju. Havia necessidade de investimentos para
adquirir equipamentos mais novos e mais modernos. Contudo, o município não o
fizera em face da expectativa em torno da autorização para que a TV Sergipe
iniciasse as suas transmissões.
VII
Se alguém me perguntar quais as
mulheres mais importantes como apresentadoras de TV neste Estado, eu não terei
nenhuma dificuldade em cravar os cinco nomes que mais me agradaram. As cinco,
na tela da TV Sergipe. Três delas já pertencem a história da primeira e mais
importante emissora de TV sergipana. As duas outras, marcam o tempo presente, a
inovação.
Em 1971, quando o sinal da TV Sergipe
foi ao ar e ela era afiliada da então ainda prestigiada Rede Tupi de Televisão,
um rosto feminino encantou crianças adolescentes e jovens sergipanos. A Tia
Nazaré Carvalho, como era chamada, estreou um programa infanto-juvenil na grade
reservada a programação local
O Clube Junior, que estreou em 1971,
fez enorme sucesso e permaneceu no ar até 1975. Naquele ano, com a inauguração
do sinal da TV Atalaia, Nazaré Carvalho foi contratada pela emissora
concorrente e deixou a TV Sergipe. O programa de Nazaré exibia desenhos
animados e abria espaços à participação do público infanto-juvenil.
O programa TV Mulher estreou em 1983,
exibido todas as manhãs em todas as emissoras afiliadas à Rede Globo de Televisão.
Na TV Sergipe, um rosto marcou o TV Mulher: a jornalista Clara Angélica Porto.
Foi uma das apresentadoras do programa e sua passagem por aquela emissora
marcou pelo tom ousado, porém elegante, das entrevistas que ela conduzia.
O TV Mulher foi, penso eu, a segunda
melhor revista de variedades exibida na TV brasileira. A primeira, na minha
opinião, continua a ser o Fantástico, mesmo estando com sua fórmula já um tanto
quanto gasta pela longevidade. A escolha de Theotônio Neto, Mozart Santos e Nestor
Amazonas, foi original, pela ousadia do trabalho de Clara Angélica. Nos anos 80
do século XX, ela deixou o seu nome inscrito na história da televisão em
Sergipe, para sempre.
Precocemente falecida aos 52 anos de
idade, em setembro de 2013, a jornalista Siomara Madureira foi outra mulher que
marcou a história da televisão sergipana. Com a contundência de um raciocínio
rápido, usando de ferramentas como a ironia e um ar iconoclasta de rebelde,
Siomara impactou os padrões conservadores e a sisudez do jornalismo de
televisão que era praticado no final da década de 70 do século XX, quando
estreou como repórter, apresentadora e entrevistadora dos noticiários da TV
Sergipe.
Permaneceu trabalhando na TV até os
anos 80, quando migrou de Sergipe para o Rio de Janeiro, de lá para Nova York,
São Paulo e novamente o Rio. Um infarto a matou em 2013, no Rio de Janeiro e o
seu corpo foi sepultado em Aracaju. O nome de Siomara está na lista das cinco
mulheres mais importantes da história da televisão em Sergipe.
Do ponto de vista da participação
feminina, o século XXI viu crescer a quantidade de mulheres jornalistas que
passaram a trabalhar na TV. Mas, a primeira década e quase todo segundo decênio
da nova centúria passaram sem que houvesse nada notavelmente novo em face da presença
feminina.
Mas, as coisas começaram a se modificar
em 2019 quando duas jornalistas ganharam força e prestígio no jornalismo da TV
Sergipe. Michele Costa inovou o programa noticioso Bom Dia Sergipe, depois que
assumiu a responsabilidade pela apresentação de informações sobre o tempo e a
respeito do trânsito. Fez um contraponto que valorizou o trabalho do jornalista
Lyderwan Santos, pela inteligência dos diálogos que estabeleceu com este no
informativo matutino da emissora.
Bem formada, a estanciana Michele
Costa, além de jornalista é geógrafa. Aplicada, concluiu os dois cursos de
graduação em 2015, pela Universidade Tiradentes. Descoberta pelo jornalista
Luiz Carlos Dussantus, seu conterrâneo, antes mesmo de colar grau, Michele
iniciou a carreira profissional no rádio, sendo algum tempo depois contratada
pela TV Sergipe.
Ela quebrou o padrão de chatice que
caracteriza as informações sobre o tempo. Quando se lança a reportagem,
investiga em profundidade as pautas que recebe e apresenta o resultado do seu
trabalho com muita acuidade intelectual e um nível de profissionalismo que
chama a atenção de todos. Ela é uma boa novidade no jornalismo da TV Sergipe.
Um acerto.
No dia 27 de julho de 2019, a TV
Sergipe estreou o programa Giro Sergipe. Uma revista de variedades, dedicada a
temas da cultura sergipana. Vai ao ar todos os sábados, a partir das 14 horas,
após a apresentação do Jornal Hoje. O estilo despojado, a empatia e o senso de
humor são as armas que a apresentadora Anne Samara utiliza para seduzir e fidelizar
os espectadores que ao menos uma única vez, distraidamente ou de modo
proposital sintonizam a TV Sergipe no horário do programa.
Impossível não se tornar um espectador
que retorna semanalmente para compartilhar a alegria inteligente e a riqueza de
informações sobre tradições, belezas naturais, a paisagem humana, enfim os
diferentes padrões culturais presentes nas práticas do povo sergipano. Anne
Samara é atriz e colou grau como jornalista em 2015.
Anne Samara e Michele Costa são duas
grandes revelações e os melhores acertos do jornalismo da TV Sergipe no século
XXI. Ambas bem formadas e profissionalmente muito dedicadas, estão prontas para
voos mais altos. É, de fato, muito bom quando a TV acerta. Principalmente
quando o acerto ocorre no jornalismo e duas jornalistas competentes como elas
nos mostram que ainda pulsa vida inteligente e há capacidade de renovação
criativa na TV Sergipe, depois de 50 anos de funcionamento.
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