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CALAZANS, O GLOBE-TROTTER


  

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

Dentre os jovens que migraram da região de Macambira, à época parte do município de Campo do Brito, no Agreste do Estado de Sergipe, no início do século XX, buscando trabalho e melhores condições de vida em outros lugares, um deles especialmente chama a minha atenção: José Calazans de Carvalho.

Nascido em 1898, Calazans, aos 16 anos de idade, em 1914, emigrou de Macambira, em Sergipe, para o Estado do Amazonas, a fim de trabalhar no Ciclo da Borracha. Aproveitou a dinâmica da economia do Ciclo da Borracha. Mas, não foi como seringueiro que Calazans foi trabalhar no Amazonas.

Jovem, letrado, muito interessados em Literatura, escrevendo bem, utilizando corretamente as regras gramaticais, com uma caligrafia muito aperfeiçoada, o que era valorizado à época, Calazans foi trabalhar no Ciclo da Borracha como missivista. Ganhou um bom dinheiro atendendo aos garimpeiros que migraram de diferentes regiões do Brasil para a Amazônia, escrevendo cartas para os familiares que ficaram nos diversos Estados dos quais aqueles trabalhadores migraram.

José Calazans conheceu aquele período dourado da economia brasileira e, também, as agruras e dificuldades dos que estavam envolvidos com o negócio da borracha. Resolveu voltar a Sergipe temendo a malária que grassou nos lugares onde estava trabalhando.

Ele voltou a Sergipe, mas não se acomodou. Poucos anos depois emigrou para São Paulo, onde aprendeu a dirigir automóveis, obteve carteira de habilitação e trabalhou como chofer, dirigindo carro funerário. Tal atividade durou pouco mais de um ano e ele decidiu regressar a sua terra Natal.

Em Sergipe contraiu núpcias e se estabeleceu como comerciante, mas foi seduzido pelo coronel Silvino Pereira, empreiteiro da construção civil, na primeira metade dos anos 20 do século XX. Em 1926, emigrou para o Estado de Minas Gerais, com o objetivo de trabalhar nas obras de construção e, também na operação da Estrada de Ferro Vitória-Minas.

Viajou para Minas juntamente com todos os seus irmãos, deixando em Macambira apenas as suas duas irmãs do sexo feminino. Andou por diferentes lugares de Minas e se estabeleceu em Teófilo Otoni, onde nasceu um dos seus filhos, mas resolveu regressar a Sergipe, voltando a viver em Macambira. Além do lugar onde havia nascido, Calazans morou também em Itabaiana, em Laranjeiras e em Aracaju, sobrevivendo sempre como comerciante.

Para conhecer a saga de José Calazans, eu fui a São Paulo e entrevistei a sua filha, Maria Helena de Carvalho Galdino. Ela me deu um rico depoimento sobre aquele homem fantástico, o seu pai, acerca da história da sua família e sobre como foram importantes naquele período as iniciativas tomadas por José Calazans de Carvalho.

Como seu pai, Maria Helena nasceu em Macambira. Veio ao mundo em 1935. Calazans havia casado com Maria Menezes de Carvalho, que todos os familiares e amigos tratavam como Maria Pequena, a Dona Pequena. O patriarca Calazans era filho de um casal de pequenos sitiantes em Macambira: Maria Romualda e Antônio Tolentino de Carvalho. Maria Pequena era filha de Maria Luiza Menezes e de Roque Bispo de Menezes. Romualda e Tolentino nasceram também em Macambira. Maria Luiza Menezes era sergipana, mas seu marido Roque nasceu no Estado da Bahia.   

Calazans e Maria Pequena eram os pais de Constantino Calazans de Carvalho ou Costinha para os familiares; Cleildes Menezes de Carvalho; José Menezes de Carvalho e Maria Helena de Carvalho.

Costinha, o filho primogênito de José Calazans, nasceu em Macambira e, como os demais irmãos acompanhou o pai na viagem ao Estado de Minas Gerais e, também nas andanças por diferentes cidades do Estado de Sergipe. O sonho de Calazans era que o seu filho se destinasse ao trabalho na Marinha.

Constantino conseguiu ingressar na atividade naval ainda adolescente, aos 17 anos de idade. Foi naquele período que fixou residência na cidade de Santos, no Estado de São Paulo, onde casou e viu nascer os seus filhos. Morreu jovem, com pouco mais de 50 anos de idade.

 

 

*Jornalista, doutor em Educação, professor aposentado do Departamento de História, do Mestrado em História e do Mestrado e Doutorado em Educação da Universidade Federal de Sergipe, membro da Academia Sergipana de Letras, da ABROL e presidente da Academia Sergipana de Educação.

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