Jorge
Carvalho do Nascimento*
Constantino
Menezes de Carvalho, filho primogênito de José Calazans Tolentino de Carvalho, ingressou
na Marinha aos 17 anos de idade. Nascido em Macambira, no Estado de Sergipe, depois
que deixou a atividade de marinheiro, ingressou na Polícia Marítima do Porto de
Santos, passando a viver naquela cidade do Estado de São Paulo, onde morreu em
face de um acidente vascular cerebral, aos 52 anos de idade.
A
decisão de sair de casa e ingressar na Marinha foi antecipada por uma proibição
do pai para que numa determinada noite ele fosse encontrar uma das namoradas. Ele
transgrediu e no retorno o pai lhe deu uma surra. Magoado, antecipou a saída de
casa e passou cerca de 20 anos sem cumprimentar o velho Calazans. Mandava
cartas para a mãe, mas nunca dirigiu uma única linha ao patriarca, durante duas
décadas. Calazans já estava morando no Rio de Janeiro quando Constantino o
procurou e se desculpou por haver guardado a mágoa durante tanto tempo.
Os
pais de Constantino e os seus irmãos moravam em Aracaju quando a filha mais
velha, Cleildes Menezes de Carvalho se casou, aos 19 anos de idade. Ela também
nasceu em Macambira, como seu pai. Do mesmo modo que os seus genitores, gerou
uma prole numerosa e foi mãe de sete filhos, dois a mais que os seus pais. Começou
a criar e a educar a sua prole na capital do Estado de Sergipe.
Depois
do nascimento do sétimo filho, o casamento se desfez e Cleildes voltou a viver
com os pais. Foi assim até o ano de 1963, quando juntamente com seus pais foi
levada pela irmã mais nova, Maria Helena, enfermeira no Rio de Janeiro, para fixar
residência naquela cidade.
Cleildes
sempre foi uma pessoa leve e que tratou a todos com muita doçura. Após desfazer
o casamento, voltou a viver com os seus pais, juntamente com os sete filhos. O
seu marido se relacionava bem com os sogros e os cunhados, mas não se
comportava do mesmo modo com a esposa.
Ela vivia reprimida e não recebia do marido o
melhor dos tratamentos. A sociedade da metade do século XX não admitia que uma
mulher dissolvesse o casamento. Cleildes temia a reação do seu pai, caso
rompesse o casamento. Chegou a um ponto em que ela não suportou mais e saiu de
casa com as crianças. Quando ela resolveu se separar a sua filha mais velha
preferiu ficar com o pai e a avó. Os demais acompanharam a mãe. José Calazans amparou
e protegeu a filha.
Emerson
Menezes de Carvalho, o terceiro filho de Calazans e Maria Pequena, nasceu em
Teófilo Otoni, Estado de Minas Gerais. Emerson estudou em Aracaju, no Colégio
Tobias Barreto e depois mudou para a cidade de Santos, no Estado de São Paulo,
buscando um posto de trabalho dentre as muitas oportunidades que existiam no
maior porto brasileiro.
Emerson
foi atraído para a cidade de Santos pelo seu irmão mais velho, Constantino, e
conseguiu um posto de trabalho nas Docas do Porto de Santos. Trabalhou no maior
porto da América Latina, ali fez carreira e viveu até a sua aposentadoria.
Aposentado, voltou a viver em Sergipe com a mulher, Rosa, e a filha Clarissa.
Emerson
sempre irradiou alegria, teve muitos amigos, frequentou as festas de carnaval
de Aracaju. Várias vezes trabalhou ajudando o pai no comércio, mas a sua maior
ligação era com o avô, Roque. Este fez tudo para que Emerson cuidasse dos seus
negócios em Campo do Brito, mas ele preferiu viver em Aracaju e estudar no
Colégio Tobias Barreto.
A
quarta filha de José Calazans, Josefina, também nascida em Macambira. Viveu nas
várias cidades para as quais o seu pai mudou e depois foi, como os irmãos
Constantino e Emerson, morar em Santos, no Estado de São Paulo. Fina, como era
tratada pelos irmãos obteve formação de técnica em contabilidade, estudando em
Aracaju. Dos seus filhos, Fina era a pessoa a qual Calazans dedicava maior
atenção.
Antes
de migrar para Santos, namorava em Aracaju com o seu primo Dorisval, filho do
seu tipo Emílio, irmão de José Calazans. Casados, Fina e Dorisval passaram a viver
em Santos. Emílio, o pai de Dorisval, também se estabeleceu em Santos, como o
filho e a nora.
A
filha mais nova, Maria Helena (foto), era expansiva, bem-humorada e vivia cantando e
sorrindo, o que conquistava os afetos do pai. Todavia, isto não a livrava dos
rigorosos padrões morais das práticas educativas que Calazans impunha a todos
os filhos. Isto a impedia de assumir práticas juvenis cada vez mais difundidas
entre as adolescentes da metade do século XX, como pintar os lábios.
Bom
leitor, Calazans mantinha em sua casa muitos livros, que desde cedo Maria
Helena começou a ler. Vários projetos de futuro passavam pela sua cabeça.
Estudar Química, ser jornalista, estudar Direito. Uma carta que recebeu de uma amiga
que estava no Rio de Janeiro estudando enfermagem modificou os seus planos.
A
amiga Marineuza foi responsável por convencer Maria Helena de que ir para o Rio
de Janeiro estudar Enfermagem era a sua melhor opção. Ela estava matriculada na
Escola de Enfermagem do Estado do Rio de Janeiro, em Niterói. Helena ficou
fascinada com os relatos da amiga falando do curso e da atividade estudantil.
Procurou
a mãe e relatou o seu novo sonho, recebendo a observação de que o seu pai
discordaria. Era importância a anuência dos pais. A Escola o exigia e também era
necessário chegar ao Internato da instituição com um enxoval, o que requeria um
investimento razoável.
Os
exames de admissão eram realizados em todos os Estados. Maria Helena fez provas
em Aracaju, no Hospital Cirurgia, e foi aprovada. No dia sete de fevereiro de
1953 embarcou em um avião da VASP na cidade de Aracaju com destino ao Aeroporto
Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Recebida por professores da Escola, seguiu
para Niterói e iniciou os estudos. Colou grau em 1959.
*Jornalista, doutor em Educação, professor aposentado do Departamento de História, do Mestrado em História e do Mestrado e Doutorado em Educação da Universidade Federal de Sergipe, membro da Academia sergipana de Letras, membro da ABROL e presidente da Academia Sergipana de Educação.
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