Jorge
Carvalho do Nascimento**
Nos
últimos anos da década de 60 e nos primeiros do decênio seguinte do século XX,
eu frequentava um edifício suntuoso localizado no cruzamento da avenida Dr.
Carlos Firpo com a praça João XXIII, em frente ao prédio da Estação Rodoviária
Governador Luiz Garcia.
Ali
trabalhava a minha tia Terezinha de Jesus Carvalho. Dividia a sala com ela uma
jovem senhora que tinha muita afinidade com a tia Terezinha. Ambas eram
mulheres modernas, bonitas, elegantes, de sucesso, bem-vestidas e razoavelmente
bem-remuneradas. Altas funcionárias federais, como me acostumei a ouvir nas
conversas em que Dona Petrina, a minha avó materna, gabava os méritos da sua
filha diante de outras pessoas.
Como
a tia Terezinha, a sua colega de sala era leve, sensível, delicada e carinhosa
com todos, especialmente com os sobrinhos. Sim, a afinidade que desenvolvemos
com a amiga da Tia Terezinha fez dela também minha tia. Assim eu e a minha irmã
Iara tratávamos Nildete da Costa Melo que chamava a nossa atenção pela
delicadeza com que nos envolvia.
Foi
ouvindo conversas da minha tia Terezinha com a minha avó Petrina que surgiu
para mim a primeira referência ao professor José Antônio da Costa Melo.
Terezinha não economizava nos elogios ao casal Nildete/José Antônio.
Encantava-se com a prole e com a educação que eles ofereciam aos filhos.
Elogiava
a beleza do casal, a elegância e as boas maneiras de ambos. O modo sóbrio com o
qual se vestiam era nota sempre marcante em tais conversas, da mesma maneira
que as referências ao uso escorreito da língua portuguesa, mesmo em conversas
coloquiais nas quais ficava perceptível toda a erudição de José Antônio da
Costa Melo.
As
idas e vindas da vida me permitiram conhecer o professor em 1975, no gabinete
do amigo Luiz Antônio Barreto, quando este ocupava o cargo de chefe da
Assessoria Cultural da Secretaria da Educação e Cultura do Estado de Sergipe,
onde eu também trabalhava. Fui a ele apresentado solenemente por Luiz e eu que
já conhecia as histórias do mestre, contadas pela minha tia, fiquei
impressionado com a força discreta da sua personalidade firme.
O
contato ainda era formal. Jamais imaginei que a aproximação seria maior. Em 1976,
a minha amizade com a hoje médica cardiologista Joselina Luzia me aproximou da
residência do casal Nildete e José Antônio da Costa Melo. Joselina era amiga de
Anaceli, filha do casal. Ambas estudavam no Colégio de Aplicação e depois
continuaram estudando juntas no curso de medicina da Universidade Federal de
Sergipe. Com Joselina e outros amigos, algumas vezes todo o grupo do qual eu
participei estava presente nas festas que o casal e seus filhos gostavam de
frequentar no Iate Clube de Aracaju.
No
dia 18 de setembro de 1978, a notícia da morte do professor aos 56 anos de vida
entristeceu a cidade de Aracaju, especialmente aqueles que se dedicavam
profissionalmente aos fazeres da Educação escolar. Tristeza profunda de Nildete
e dos filhos do professor José Antônio: Nadilja, Celiana, Anaceli, Dulciana e o
filho José Antonio da Costa Melo Junior. Nadilja era fruto do primeiro casamento
do professor, quando este vivera na cidade do Recife. Com Nildete ele se casou
na Igreja Católica, em Aracaju, no ano de 1957.
Além
de haver dedicado a vida aos afazeres docentes, José Antônio da Costa Melo
manteve acesa atividade intelectual como escritor, poeta e compositor. Autor de
muitos artigos, poesias, letras para hinos e conferências sobre vários temas,
foi um orador capaz de prender a atenção de distintas plateias.
Do
escritor há um significativo acervo de textos inéditos como “Tobias Barreto de
Menezes e a Cultura de seu Tempo”; “O Método no Ensino da Língua Portuguesa”;
“A Leitura”; “Mestiçagem e Status”; e, “A comunidade Luso-Brasileira”.
Publicados estão os trabalhos “Soneto a Tobias Barreto”, na revista Alvorada;
e, a crônica “Laranjeiras”, no jornal A Tribuna.
Os
temas de predileção do professor revelam o quanto era ampla a sua erudição.
Discutia com propriedade a problemática da cultura brasileira oitocentista,
afirmando a importância de intelectuais como Tobias Barreto e Sílvio Romero.
Tinha pleno domínio da gramática da Língua Portuguesa e dos melhores métodos
para ensinar o idioma de Camões e de Machado de Assis.
Não
passava ao largo do conhecimento do mestre a importância das práticas de
leitura. E, num período em que a sociedade se esbaldava em preconceitos,
escrevia textos com reflexões profundas dando conta do modo como alguns o
olhavam. José Antônio da Costa Melo era um negro com a pele viçosa e cheia de
brilho que refletia tons da cor do mel escuro.
Esbelto,
ninguém passava ao largo da beleza dos seus olhos verdes. A importância da
negritude e dos preconceitos que recaem sobre os não brancos ficou presente em
textos como “Mestiçagem e Status”. Nos anos 70 do século XX, juntamente com o
líder negro e ativista cultural Severo D’Acelino, o ´professor José Antônio da
Costa Melo fez algumas conferências sobre o tema.
O
intelectual da Educação foi o primeiro diretor do Ginásio Municipal Presidente
Vargas, escola criada pelo prefeito José Conrado de Araújo. Dirigiu a unidade
escolar entre os anos de 1959 e 1964. Em 1972, ingressou na carreira docente da
Universidade Federal de Sergipe como professor da disciplina Estudos de
Problemas Brasileiros.
Desde
30 de setembro de 1959 era professor catedrático do Colégio Estadual de Sergipe
– o Atheneu Sergipense. Em 1958 fora aprovado no concurso público de provas e
títulos na cátedra de Português, quando defendeu a tese “Do Verbo: análise
científica de suas relações - o subjuntivo”.
Nos
10 primeiros anos após o seu retorno a Sergipe em 1948, já desfeito o seu
primeiro casamento, o professor Costa Melo trabalhou nos colégios Estadual de
Sergipe (Atheneu), Tobias Barreto, Salesiano, Nossa Senhora de Lourdes, Pio
Décimo e Escola Técnica de Comércio.
Em
1953, obtivera o diploma de bacharel em Letras Neolatinas pela Faculdade de
Filosofia da Universidade Católica de Pernambuco. Morou em Recife a partir de
1941, depois que obteve matrícula no Seminário Arquiepiscopal de Olinda, Pernambuco,
onde fez os seus estudos de nível superior.
A
carreira de sacerdote fora um sonho acalentado durante anos pela sua mãe que,
em fevereiro de 1935, matriculou o adolescente de 13 anos no Seminário
Diocesano do Sagrado Coração de Jesus, em Aracaju, onde ele fez o curso de
humanidades. Porém, pouco antes da sua ordenação, José Antônio da Costa Melo
desistiu da carreira eclesiástica e assumiu o exercício do magistério,
lecionando Latim, Francês, Português e Literatura no Colégio Maristas, no
Colégio Leão XIII e na Escola Técnica de Comércio e também no Ginásio da
Encruzilhada, todos na cidade do Recife.
Os
estudos da escola primária foram realizados na cidade de Laranjeiras, onde a
família de José Antônio da Costa Melo residia, e concluídos em 1934. Ali foi aluno
da “Escola Laranjeirense” de propriedade da professora Zizinha Guimarães.
Este
ano de 1922 que está findando é o da celebração do centenário de nascimento do
menino José Antônio da Costa Melo. Veio ao mundo na cidade de Japaratuba,
Sergipe, no dia 22 de fevereiro, filho do comerciante Misael Fagundes de Melo e
da professora Honorina Florência da Costa Melo.
Celebremos
a sua memória!
* Registro os meus
agradecimentos à médica Anaceli da Costa Melo e à Profª. Drª. Iara Campelo que
me ofereceram importante colaboração para elaborar este texto.
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