Jorge
Carvalho do Nascimento*
Em
nenhum momento o processo de criação da Sudene, em 1959, representou qualquer
tipo de ameaça ao poder econômico estabelecido na região Nordeste, como
chegaram a interpretar algumas lideranças mais conservadoras daquele período que
se opuseram ao projeto.
A
criação da Sudene representava para as classes dominantes locais o esmagamento
dos seus contrários. Os grupos da burguesia que realizavam o seu projeto de
domínio nacional vislumbravam um outro futuro que o órgão de planejamento
regional ajudou a construir. Em tal futuro, a atividade econômica
realizar-se-ia nacionalmente, de maneira homogênea, hegemonizando também as
práticas culturais.
A
Sudene ajudou a construir dissimuladamente uma completa dependência da economia
da região Nordeste em face da economia brasileira de um modo geral, mas, também
colaborou com o aperfeiçoamento dos padrões gerais de qualidade de vida dos
nordestinos, em todos os aspectos.
Nesta
interpretação, a ideia de Sudene considerada recebe a inspiração do conhecido
estudo do sociólogo Francisco de Oliveira, ELEGIA PARA UMA RE(LI)GIÃO. O autor
discute as ideias mais importantes acerca do discurso a respeito de
planejamento regional.
Francisco
de Oliveira assume que o discurso a respeito de planejamento regional teve “por
objetivo explícito a atenuação ou pelo menos orientação da intensificação das
disparidades regionais, a correção dos desequilíbrios regionais”. Por isto defendeu
que a Sudene, sua forma institucional, é uma espécie de revolução de 30
defasada em pelo menos duas décadas.
O
surgimento da Sudene, de acordo com um diagnóstico muitas vezes equivocado,
teria incorporado elementos de falso conflito inter-regional, para ganhar força
e dar maior dimensão ao conflito, a própria definição de região Nordeste.
Definição ampliada em seu sentido político e administrativo.
O
Nordeste da Sudene se estendeu do Maranhão a Minas Gerais. Especificamente uma
parte do território do norte mineiro cujas características climáticas são
assemelhadas às do sertão nordestino. Como quase sempre acontece, o Nordeste da
Sudene, assumiu os contornos de demanda por desenvolvimento industrial, como
mecanismo destinado a estancar a migração de nordestinos para o Rio de Janeiro
e São Paulo.
Foi
o advento da Sudene que estabeleceu uma nova divisão regional no território
brasileiro. O estado da Bahia, que nos registros anteriores figurava na região
Leste, após a implantação da Sudene veio a integrar a região Nordeste. A partir
de tal processo, todos os migrantes nordestinos em São Paulo são chamados pejorativamente
de “baianos”. No Rio de Janeiro, é hábito chamá-los de “paraíba”.
Ao
valorizar a ideia de planejamento regional, a burguesia brasileira, em verdade,
buscou dar conta do conflito de classes que se expressava sob o rótulo de
desequilíbrios regionais. Foi este o caminho escolhido para submeter as classes
populares do Nordeste, evitando uma articulação nacional das forças em
expansão, ao mesmo tempo em que a própria burguesia industrial nordestina era
também submetida ao grande capital que se reproduzia a partir do centro-sul.
Ao
ser instituída como local de realização de planejamento regional e de proteção
da economia nordestina, a Sudene, na verdade, foi institucionalizada como
instrumento de destruição de formas específicas de reprodução na economia
regional, para que se plenificasse uma efetiva nacionalização do movimento de
reprodução do capital.
*Jornalista,
professor aposentado da Universidade Federal de Sergipe, doutor em Educação,
membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de
Educação.
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