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O ESPÓLIO DO DIÁLOGO CONDESE-SUDENE


 

 

 

Jorge Carvalho do Nascimento*



“Nós estávamos modificando o sistema de tomada de decisões no Nordeste”

(Celso Furtado)

 

 

Faltando seis dias para o encerramento de um ciclo obscurantista da vida brasileira, reacendem-se como nunca as esperanças de que se inicie um venturoso novo período democrático, com perspectivas reais de desenvolvimento social e econômico para o Brasil, especialmente para a região Nordeste do país.

Em 2023, celebraremos os 63 anos de vigência da lei 3.692, de 1959, instrumento utilizado pelo presidente Juscelino Kubitscheck para instituir a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste – Sudene, feliz sugestão do economista Celso Furtado que animou a economia brasileira.

O ano vindouro, portanto, é oportuno para reabilitar a importância da Sudene como agência destinada a atuar em todo o Nordeste e no norte do Estado de Minas Gerais, que exerceu influência marcante em Sergipe. As marcas da Sudene ficaram no Estado, sejam do ponto de vista das ações de governo, das concepções de planejamento ou da atuação em política social.

Tudo aconteceu no momento em que a política nacional vivia o auge do chamado período populista do nacional desenvolvimentismo. Explicar, sob aquele contexto, o planejamento regional é esclarecer o que foi a Sudene quando concebida por Celso Furtado. É dar logicidade ao movimento de criação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste - Sudene.

A agência de desenvolvimento regional conseguiu à época da sua criação amalgamar os interesses dos coronéis do algodão e da pecuária, bem como da elite açucareira, todos articulados às demandas do capital internacional, mantendo eficazmente sob controle os anseios dos movimentos de trabalhadores, temidos pelos controladores da economia brasileira.

 

 

FURTADO

 

 

Paraibano de Pombal, o economista Celso Monteiro Furtado nasceu em 26 de julho de 1920. Graduado em Direito pela Universidade do Brasil, em 1944, fez doutorado em Economia pela Universidade de Paris, no ano de 1948, e, um ano depois era membro da Comissão Econômica Para a América Latina e o Caribe – CEPAL, organismo multilateral criado pela Organização das Nações Unidas - ONU. No ano de 1953, na condição de integrante do Grupo Misto de Estudos BNDE-CEPAL, foi um dos autores do Plano de Metas para o governo de Juscelino Kubitscheck.

Intelectual dos mais respeitados, publicou o seu primeiro livro em 1954 – A ECONOMIA BRASILEIRA: CONTRIBUIÇÃO À ANÁLISE DO SEU DESENVOLVIMENTO. Em 1958, trabalhava como professor da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, quando retornou ao Brasil para dirigir o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico – BNDE, ocasião na qual convenceu Juscelino Kubitscheck a criar a Sudene, da qual foi o primeiro dirigente.

Em 1962, Celso Furtado foi ministro do Planejamento, voltando a comandar a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste em 1963. Em tal posto foi apanhado e cassado pela ditadura militar, com o seu nome incluído no grupo de atingidos pelo Ato Institucional número 1, no ano de 1964.

Deixou o Brasil durante a ditadura militar e trabalhou como professor em algumas universidades norte-americanas e, também, em congêneres inglesas, além da Universidade Sorbonne, em Paris. Anistiado, voltou a viver no Brasil a partir do ano de 1979.

Após a queda da ditadura militar, em 1984, Celso Furtado exerceu funções públicas no Brasil. Durante o governo do presidente José Sarney foi ministro de Estado da Cultura, entre os anos de 1986 e 1988. Antes do final da gestão, divergiu de questões ligadas aos rumos de condução da economia brasileira e se exonerou do cargo que ocupava na Esplanada dos Ministérios. Celso Furtado morreu no dia 20 de novembro de 2004.

E Sergipe e o Condese em tal contexto, tal como o título deste artigo anuncia, como ficam? Este é o objeto do segundo artigo desta série, a ser publicado nos próximos dias.

 

 

*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.

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