Jorge
Carvalho do Nascimento*
Em
2008, quando publiquei o livro A ESCOLA DE BADEN-POWELL: CULTURA ESCOTEIRA,
ASSOCIAÇÃO VOLUNTÁRIA E ESCOTISMO DE ESTADO NO BRASIL, o fiz despretensiosamente
e sem imaginar que aquele seria um trabalho que me renderia, como informado
periodicamente pelo Google Acadêmico e outros indicadores, grande quantidade de
citações e referências por parte de diferentes estudiosos da Educação extraescolar
no Brasil e em outros países.
O
livro se esgotou rapidamente e tem mais de 10 anos que recebo insistentes
pedidos e sugestões para reeditá-lo. Tenho pensado em fazê-lo, mas vou sempre
secundarizando tal decisão, em face de outros projetos editoriais mais recentes.
Todavia, tal demanda vive a me comer o juízo.
Na
última sexta-feira, 13 de janeiro de 2023, recebi três e-mails de pesquisadores
brasileiros e um outro de um colega que atua em uma universidade espanhola, todos
pedindo informações a respeito do livro. Na manhã deste sábado, 14 de janeiro
de 2023, pesquisando em jornais publicados na cidade de Aracaju durante o
século XX em face de outro trabalho no qual estou empenhado, deparo-me
novamente com o tema. Fora eu esotérico, diria que os astros estão conspirando.
Abri
o jornal “A Cruzada”, com o objetivo de ler e fazer anotações a respeito de um
outro tema, e, na primeira página me deparo com a manchete: “AJURI REGIONAL DE
ESCOTEIROS EM ARACAJU – VITORIOSO O ESCOTISMO EM SERGIPE”. A notícia ocupou um
generoso espaço na primeira página do periódico, edição publicada no dia 9 de
janeiro de 1960.
“Está
se realizando nesta capital, desde o dia 6 do corrente, devendo encerrar-se
amanhã, o Ajuri Regional de Escotismo das regiões escoteiras do Norte e
Nordeste do Brasil. Mais de uma centena de escoteiros vindo dos Estados do
Amazonas a Bahia encontram-se fraternalmente reunidos aos seus companheiros de
Sergipe, praticando todas as atividades de escotismo no acampamento levantado
no bairro Grageru, próximo ao Asilo Rio Branco.
Diversas
autoridades e pessoas de destaque do meio sergipano têm visitado o acampamento
manifestando a sua simpatia e admiração para com os jovens escoteiros.
Finalidades
do Escotismo
O
Escotismo é um movimento que se destina a desenvolver nos jovens as qualidades
cívicas e morais em alto grau, preparando-os física, intelectual e moralmente
para as mais nobres lutas da vida, que traduzem o amor a Deus, à pátria e ao
próximo. O escoteiro é um homem sadio de corpo e de espírito, pronto para os
atos de heroísmo e abnegação que elevam a personalidade humana.
Movimento
Vitorioso
Com
a realização em Aracaju deste Ajuri Regional de Escoteiros assinala-se a plena
vitória do movimento escotista em nosso Estado, liderado pelo Prof. Carlos
Alberto de Barros Sampaio, Presidente da Região Escoteira de Sergipe e o sr.
Walter Dantas, Chefe dos Escoteiros Sergipanos”.
As
práticas do Escotismo, movimento fundado em 1907, foram contemporâneas do
projeto das Pedagogias ativas que entusiasmaram os intelectuais da Educação
durante as últimas décadas do século XIX e a primeira metade do século XX. Quando
chegou ao Brasil, em 1910, o Escotismo incorporou-se ao trabalho de muitos
intelectuais que cuidavam da escola primária brasileira.
Essas
práticas corresponderam a um momento histórico no qual a Educação recebeu o
estímulo e a reclamação dos trabalhadores e não apenas dos grupos sociais de
extração elitista, formando um novo modelo de organização da vida social que
entusiasmou a maioria da população da Europa, dos Estados Unidos da América e
de várias outras regiões do planeta.
É
importante anotar que o inglês Robert Baden-Powell, fundador do movimento escoteiro,
nunca pretendeu criar um modelo de escola ou substituir os modelos de escola
existentes. O grande segredo da Pedagogia
de Baden-Powell foi tomar as ideias dos meninos em consideração e incentivá-los
a moldar sua própria vida.
Talvez esteja mesmo na hora de pensar em uma segunda
edição do livro A ESCOLA DE BADEN-POWELL. Com 115 anos de Escotismo no mundo e
112 anos de atividades do movimento escoteiro no Brasil, o tema continua
atualíssimo.
*Jornalista, professor, doutor em Educação, professor aposentado do Departamento de História, do Mestrado e Doutorado em Educação da Universidade Federal de Sergipe, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.
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