Jorge
Carvalho do Nascimento*
Marcos
Antônio de Melo foi por duas vezes secretário de estado do planejamento em
Sergipe. A primeira delas no período 1980-1983, quando o industrial Augusto
Franco chefiou o poder executivo estadual. Voltou a exercer tal cargo entre os
anos de 1995 e 2002.
No
segundo período na secretaria do planejamento, Marcos Melo teve Albano Franco, filho
de Augusto Franco, como governador de Sergipe. Albano vinha de uma exitosa
experiência que lhe permitiu, durante 14 anos, presidir a Confederação Nacional
da Indústria, a CNI, transformando-se numa das maiores lideranças do
empresariado industrial brasileiro.
O
Brasil era governado por Fernando Henrique Cardoso e vivia a era de ouro do
neoliberalismo, com moeda estável, crescimento econômico e uma ampla política
de privatização de empresas estatais. Política que foi seguida em Sergipe por
Albano Franco e que teve na privatização da companhia estatal de eletricidade,
a Energipe, a “joia da coroa”.
As
circunstâncias eram bem distintas daquilo que fora o trabalho realizado pelo
jovem e decidido economista cepalino que planejou Sergipe a partir de 1980, pensando
na infraestrutura necessária ao desenvolvimento industrial sergipano, com a
exploração dos recursos minerais entregue a uma empresa estatal subsidiária da
Petrobrás, a Petromisa, que tocou exitosamente o chamado Projeto Potássio.
Que
pensou grandes obras indutoras do desenvolvimento industrial e urbano de
Sergipe como a Adutora do São Francisco, que resolveu o problema da escassez de
mananciais de abastecimento de água na região da Grande Aracaju, permitindo a
expansão urbana da capital de Sergipe.
Também
buscou os meios que viabilizaram a construção do conjunto Augusto Franco, à
época o maior núcleo urbano de casas populares e hoje um privilegiado bairro
residencial da camadas de renda média, onde se instalou o campus da
Universidade Tiradentes. O conjunto Augusto Franco foi essencial para estimular
o crescimento da cidade fundada por Inácio Barbosa em direção ao sul.
Aos
35 anos de idade Marcos liderou tal processo e impressionou Sergipe, sempre
contando com o decisivo apoio do governador Augusto Franco. Havia obtido a sua
graduação em Economia pela Universidade Federal de Sergipe, em 1968. À época o
curso de Ciências Econômicas da UFS era liderado pelo influente economista José
Aloísio de Campos.
Aloísio
era um entusiasta militante do nacional-desenvolvimentismo instilado na
formação dos economistas brasileiros a partir das décadas de 50 e 60 do século
XX por Celso Furtado que comungava das mesmas ideias de Raul Prebisch. Marcos obteve
a formação em Economia chamando a atenção dos colegas e professores e se
destacando como um importante quadro do desenvolvimentismo econômico.
Fez
uma carreira aplaudida pelos sergipanos. É também bacharel em Direito diplomado
pelo Centro Universitário de Brasília – UniCEUB, em 1992. Recebeu o diploma de
mestre em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas, em 1982. Dedicado
à música é um qualificado saxofonista.
Em
Sergipe, foi secretário de Administração, da Indústria e Comércio, da Ciência e
Tecnologia e também da Educação. Assessorou a presidência da CNI e foi superintendente
do Departamento Nacional do SESI, presidente da Associação Profissional dos
Economistas de Sergipe e membro do Conselho Federal de Economia.
Fez
carreira docente como professor do Departamento de Economia da Universidade
Federal de Sergipe e vice-presidente do Conselho Diretor da mesma instituição.
É ocupante da Cadeira 40 da Academia Sergipana de Letras, onde foi empossado no
dia 27 de março de 2009.
Autor
de livros de sucesso como Propriamente Falando, O Conde de San Vincent e
Falando Propriamente, dentre outros trabalhos, Marcos mora em Brasília, mas na
última semana de cada mês vem à cidade de Aracaju cuidar de empresas que possui
na capital de Sergipe.
Uma
vez por mês, costuma reunir os amigos em torno de uma mesa na qual almoçamos.
Faço parte do grupo de Marcos juntamente com o padre José Lima, Dilson Menezes
Barreto, João Augusto Gama, Jackson Barreto, Anselmo Oliveira, Chico Varella,
Hamilton Maciel, José Fernandes de Lima, Lacerda, o coronel Luiz Fernando,
Irineu Fontes e alguns que aparecem de modo bissexto.
Almoçar
com Marcos é exercitar a inteligência e o bom humor, além de cultivar boas
memórias. Música, economia, política, administração pública, cinema, teatro,
dentre outros são temas indispensáveis em tais ocasiões. Mas, acima de tudo, a
grande pauta é o prazer de rever bons amigos.
A
oportunidade de ouvir o último grande economista desenvolvimentista de Sergipe
é impagável, a mesma linha de formação de um outro importante economista que
assumiu o mesmo pensamento – Dilson Menezes Barreto. Nesta quarta-feira, 08 de
fevereiro, Marcos está aniversariando. Completa 78 anos com o nosso desejo de
vida longa para o grande amigo. Com ele ainda temos muitas lições a aprender.
Por
mais que ele haja se convertido ao neoliberalismo, a matriz do pensamento de
Marcos, a sua alma, é desenvolvimentista. Um brinde à vida e os votos de vida longa
ao último grande economista cepalino, herdeiro do nacional-desenvolvimentismo
em Sergipe.
*Jornalista e doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. É professor aposentado do Departamento de História, do Mestrado em História e do Mestrado e Doutorado em Educação da Universidade Federal de Sergipe. Fez estágio de pesquisa na Universidade de Frankfurt, Alemanha, é membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.
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