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O MOVIMENTO DE BOULANGER


  

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

Desde que, em 2008, publiquei o livro A ESCOLA DE BADEN-POWELL, fui convidado, aceitei e passei a integrar a Patrulha Jaguatirica, um grupo de escoteiros que se dedicam a estudar a história do escotismo, especialmente no Brasil.

Tenho muito orgulho de ser membro do grupo. Nos últimos tempos assumi a responsabilidade de governar o Distrito 4391 (Bahia, Sergipe e Alagoas) do Rotary International, no Ano Rotário 2024-2025. Tal compromisso tem me consumido muito tempo no processo de preparação e planejamento e me transformado em um Jaguatirica que é apenas espectador das atividades dos irmãos escoteiros que cotidianamente colocam a mão na massa com as atividades da Patrulha.

Nesta última semana, necessitei fazer alguns exames de saúde. Não há nada melhor para salas de espera de consultórios médicos, laboratórios e clínicas que uma boa leitura. Apesar de já ter feito duas boas leituras do livro que aqui referencio, resolvi fazer do trabalho do também Jaguatirica Antonio Boulanger uma terceira leitura.

O MOVIMENTO: OS PRIMEIROS ANOS DO ESCOTISMO é um excelente livro para quem deseja compreender a história do movimento escoteiro desde as suas origens até o fim da Primeira Guerra Mundial. Boulanger levanta e usa em vários momentos como fio condutor dos seus debates um tema que me é muito caro: o modo como Baden-Powell desenvolveu o seu método de educação extreescolar para a juventude inglesa.

De modo perspicaz, Boulanger analisa a fundação da The Boy Scout Association, a organização das primeiras tropas escoteiras, a promessa e a lei escoteira. Não escapa ao seu olhar o debate a respeito das progressões, das especialidades, do Lobo e do King Scout.

Ao estudar o problema das origens e da afirmação internacional do movimento escoteiro, o atento autor conduz o nosso olhar para ver o tamanho do impacto da Primeira Guerra Mundial sobre o movimento escoteiro, que, em face da sagacidade de B-P superou aquele momento difícil, como difíceis foram as repercussões da Segunda Grande Guerra que, todavia, pela periodização estabelecida, não era o objeto deste estudo e por isto ficou de fora.

Ponto alto para a minha preferência de leitor são os dois últimos capítulos do livro: o nono e o décimo. No capítulo nono, é feita uma excelente análise dos grandes nomes dos primeiros anos de Escotismo. Antonio Boulanger nos leva a dialogar com a memória de William Alexander Smith, Percy Winn Everett, Arthur William Patrick Albert Saxe-Coburg  (Duque de Connaught), Ada May Dagge, Percy Bantock Nevill, Roland Erasmus Philipps e Vera Charlesworth Barclay.

O capítulo 10 é dedicado a discutir a expansão do Escotismo. Boulanger apresenta um quadro demonstrativo dos 68 países que receberam o movimento escoteiro entre 1910 e 1917, inclusive o Brasil.

O trabalho de Boulanger se encerra chamando a nossa atenção para o fato de ser o Escotismo o maior movimento juvenil do planeta Terra. Ler Antonio Boulanger Uchoa Ribeiro é muito prazeroso. Seu texto fluido e leve é um convite a somente encerrar a leitura na última página do livro. É impossível parar. Não poderia ser diferente com este experiente autor escoteiro nascido em Campina Grande, no Estado da Paraíba no dia 18 de maio de 1955.

Com esta resenha, no mês do seu aniversário, homenageio o grande escritor que nos presenteia sempre com a riqueza contida nos seus livros. A todos que se dispuserem, tenho certeza de que farão uma boa leitura. A Boulanger, os meus votos de vida longa e feliz. Bravo, bravíssimo!

 

 

*Escoteiro, jornalista, doutor em Educação, professor aposentado do Departamento de História, do Mestrado em História e do Mestrado e Doutorado em Educação da Universidade Federal de Sergipe. Membro da Ac ademia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação. Autor de A ESCOLA DE BADEN-POWELL: CULTURA ESCOTEIRA, ASSOCIAÇÃO VOLUNTÁRIA E ESCOTISMO DE ESTADO NO BRASIL.

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