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QUANDO A POLÍTICA É ASSERTIVA

                                                        Jackson Barreto
  

 

Jorge Carvalho do Nascimento*

 

 

Acompanhei à distância, com muita alegria, na última segunda-feira, 31 de julho de 2023, a solenidade realizada no Palácio do Planalto, quando o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou o decreto que viabilizou a implantação do programa de escolas de ensino integral do atual governo.

Muito feliz ao ver o Estado de Sergipe representado pelo professor Yuri Norberto, do Centro de Excelência Atheneu Sergipe, falando em nome de todos os professores brasileiros, num justo reconhecimento ao trabalho que se faz naquela escola pública sergipana exemplar, hoje uma das mais importantes dentre as instituições públicas de ensino médio do país.

Aplaudi a presença na solenidade do Secretário de Estado da Educação e vice-governador de Sergipe, Zezinho Sobral, ocupando posição destacada em face da importância que tem para o Brasil a política de escolas de ensino integral executada em Sergipe por três governos sucessivos, desde o ano de 2015 até este ano de 2023.

Zezinho Sobral, que agora é o gestor da política educacional sergipana, acompanhou no nascedouro a política de escolas de ensino integral, executada a partir de 2015. À época, ele assumia a destacada posição de Secretário-Chefe da Casa Civil do governador Jackson Barreto.

Impossível para mim esquecer a conversa que mantive com Jackson Barreto em dezembro de 2014, quando recebi dele o convite para ser o gestor da política educacional sergipana durante o seu governo. Conversamos demoradamente sobre aquele que para nós se apresentava como o mais grave dos problemas da escola pública em Sergipe: a má qualidade da formação oferecida.

Quando se apanhava a série de resultados das avaliações do índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB, não era difícil constatar a realidade. Nós éramos muito frágeis nos anos iniciais do ensino fundamental e, também nos anos finais do mesmo ensino fundamental. No ensino médio, nos rankings de avaliação, nós ocupávamos a pior posição quanto a aprendizagem medida nos 26 estados e no Distrito Federal. Sergipe era o último colocado dentre as 27 unidades federadas quando o assunto era qualidade do ensino.

Adotamos várias medidas que objetivavam arrancar da inércia a gestão da Secretaria de Estado da Educação e modernizar os seus padrões de funcionamento, buscando apoiar com eficácia o gerenciamento de cada unidade escolar e conduzir com eficiência a política educacional sergipana.

Na equipe central da Secretaria, tínhamos pessoas que estavam acomodadas na mesma posição por mais de 30 anos, o mesmo fenômeno que se observava na gestão das unidades escolares e das diretorias regionais. Foi muito difícil desalojar os “proprietários” dos cargos, mas sempre recebi do governador Jackson Barreto todo apoio para executar as ações que propus.

O tempo demonstrou que Jackson estava certo ao enfrentar as batalhas que enfrentou. Em 2015, Sergipe possuía apenas dois arremedos de escola de ensino integral: o próprio Atheneu Sergipense e o antigo Colégio Marco Maciel. O programa fora implantado inicialmente pelo governador João Alves Filho, quando era Secretário da Educação o médico Marcos Prado Dias.

Ao implantar o programa, o Secretário Marcos Prado Dias foi “bombardeado” por aqueles que se julgavam “donos” da escola pública e durou pouco tempo no cargo. Aos poucos, o apoio e o necessário acompanhamento técnico pedagógico desapareceram das duas instituições escolares e os professores das duas escolas viram faltar apoio pedagógico e recursos materiais necessários ao sucesso da proposta.

Jackson me concedeu autorização para que eu negociasse com o Ministério da Educação e com as instituições de assessoramento técnico-pedagógico. As desconfianças e resistências eram muitas. Não poucas vezes fui intimado a comparecer diante de promotores e procuradores de Justiça estaduais e federais, a fim de dar explicações acerca do projeto, em função de denúncias formuladas por lideranças educacionais e políticas que se opunham veementemente ao projeto.

Várias vezes tive necessidade de comparecer à Procuradoria Geral do Estado, em face das muitas denúncias que pipocavam, formuladas pelas mesmas lideranças. Não poucas vezes assisti manifestações à porta do gabinete do secretário e do edifício da Secretaria da Educação, tentando impedir a implantação das escolas de ensino integral. Foram vários os enterros simbólicos do Secretário da Educação.

Tais vozes dissonantes desejavam extinguir as duas escolas nas quais o modelo havia sido implantado inicialmente e, também impedir que o programa fosse reformulado e expandido. Em todas as oportunidades ouvi do governador Jackson Barreto: “não podemos esmorecer. Sei que não é fácil, mas foi para me ajudar na recuperação da qualidade da escola pública de Sergipe que eu o convidei”.

Optamos por implantar o ensino integral, ouvindo a comunidade de cada escola. Contei com o decidido apoio de uma equipe de técnicos que deixo de nominar aqui para não esquecer ninguém e não cometer injustiças. Todavia, homenageio a todos aplaudindo o trabalho e a coragem de duas profissionais: a professora Gabriela Zelice e a socióloga Sarah Karenina que representou muito bem o espírito daquela equipe.

Em todas as escolas nas quais implantamos o ensino integral, fizemos assembleias com a comunidade escolar e muitas vezes enfrentamos instituições endinheiradas que contratavam trios elétricos e potentes carros de soim e os estacionava na porta das escolas com o volume máximo, a fim de impedir a realização das assembleias.

Na defesa da implantação da escola integral, ressalto aqui o corajoso apoio que recebemos do procurador do Ministério Público Federal Ramiro Rockenbach e de promotores de Justiça como Orlando Rochadel e Alexsandro Sampaio, sensíveis à causa do ensino público e que colaboraram para com a viabilização da proposta.

Encerrei o meu trabalho como gestor do ensino público sergipano no dia 06 de abril de 2018. O governador Jackson Barreto encerrou a sua gestão um dia depois. Jackson implantou em Sergipe 48 escolas públicas estaduais de ensino integral. A sua meta era implantar 60 escolas. Infelizmente as vozes da discórdia impediram a implantação do ensino integral em 12 escolas que desaprovaram a proposta.

Um novo governo chegou e, em face de muitas gestões políticas, as vozes dissonantes estavam certas de que a escola integral seria desativada. Aqui reconheço e aplaudo a coragem e determinação do secretário Josué Modesto dos Passos Subrinho que me sucedeu como gestor da escola pública sergipana. Foi dele a decisão de manter e ampliar o programa, frustrando aqueles que pretendiam extingui-lo.

Quando Josué encerrou a sua gestão e transmitiu o cargo ao secretário Zezinho Sobral, o Estado de Sergipe possuía uma rede com 96 escolas de ensino integral. Desse total, 48, ou 50 por cento, foram implantadas pioneiramente por iniciativa do governador Jackson Barreto.

Sergipe não mais ocupa a última posição do ranking nacional em qualidade do ensino. Agora, os indicadores do ensino médio colocam a escola pública sergipana na décima segunda posição, um grande avanço que tende a ter continuidade. Inicialmente rejeitado, o ensino integral é hoje desejo de todas as instituições escolares da rede pública de Sergipe. Os críticos se transformaram aos poucos em apoiadores.

O caso do ensino integral sergipano é um bom exemplo a demonstrar que a política de estado, quando implantada e executada com seriedade aperfeiçoa os padrões de qualidade de vida e bem-estar coletivos. A corajosa decisão do governador Jackson Barreto foi essencial para modificar, aperfeiçoando, a qualidade do ensino público em Sergipe.

 

 

*Jornalista, doutor em Educação, professor aposentado do Departamento de História, do Mestrado em História, do Mestrado e Doutorado em Educação da Universidade Federal de Sergipe. Foi Secretário de Estado da Educação de Sergipe e duas vezes Secretário da Educação do Município de Aracaju. É membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.

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