Pular para o conteúdo principal

RENOVAR A ESPERANÇA É SEMPRE BOM

                                                    Rômulo Rodrigues
 


 

 

Rômulo Rodrigues**

 

 

E foi o que fiz no dia 18 de outubro de 2023 quando fui ao lançamento da biografia de Jackson Barreto – tempo e contratempo – escrita pelo amigo, professor, acadêmico e um monte de coisas boas, Jorge Carvalho do Nascimento. Entrei no Instituto da gente sergipana impactado pela enorme quantidade de gente que estava lá e sai com a incumbência do biógrafo de comentar o livro, já que havia comentado, à pedido do autor, memórias da Resistência, de 2019.

Fila enorme, amigos para cumprimentar, idem, e uma fila para ir furando, porque com 80 já completados não dá para respeitar todos os protocolos. Chegada a vez o carinho da dupla está preservado para a história nas dedicações. O Biógrafo escreveu; “ao companheiro Rômulo que testemunhou muito do que foi escrito. Parabéns pelo seu protagonismo em nome da nossa geração”.

O biografado não deixou por menos; “ao amigo Rômulo Rodrigues, cuja história militante merece os meus aplausos”. Diante do desafio já cobrado repeti o método do livro anterior; “fui degustando como fazia com um incomparável pão doce mão de onça na infância caicoense saboreando aos tiquinhos”.

Não era para mim uma tarefa fácil ler a história de Jackson Barreto, escrita por Jorge Carvalho; então, fui à procura de um porto seguro, algo destacado para me apegar e não cair no senso comum. Em meio à confusão mental para sair do embaraço, por achar que não está em pauta a competência do biógrafo, fui buscar socorro numa palavra que sempre me despertou curiosidade; etiologia.

Descobri que é uma palavra que se refere à ciência que estuda as causas das coisas e o mestre Jorge Carvalho fundo na origem do personagem. Dona Neuzice Barreto e seu Etelvino. Aqui, é de se abrir um parêntese para afirmar categoricamente que o tão propalado protagonismo da mulher sergipana não é de agora não senhor.

Lá pelos idos das décadas de 1950 e 1960 uma professorinha lá de Camboatá, hoje Santa Rosa de Lima, disse para os coronéis poderosos do Estado de Sergipe que lugar de mulher era onde ela quisesse ir lutar por direitos, por qualidade de vida e condições de criar e educar filhos e filhas.

O trabalho profícuo do professor Jorge Carvalho também destacou outra mulher, naqueles tempos difíceis para a prática da desobediência; a professora Ofenísia Freire. Claro que tem outro participante decisivo na vida de Jackson Barreto que é o seu Etelvino, pequeno comerciante, sem parentes importantes, mas que veio do interior que não ousou contrariar D. Neuzice na sua sanha de mulher destemida que até parece, que hoje não tem igual, e acompanhou a amada na sua ousadia de vir morar em Aracaju.

Se a etiologia é a ciência que estuda as causas das coisas, está explicado o fenômeno Jackson Barreto como mistura perfeita de coragem e alegria. A marca da trajetória política está bem definida; o velho Partido Social-Democrata, PSD, no enfrentamento aos coronéis políticos e o decisivo ingresso no MDB, no enfrentamento aos coronéis militares forjaram este que queiram ou não queiram os senhores juízes como um dia versejou o grande Ariano Suassuna em defesa do seu bloco carnavalesco; é madeira de lei que cupim não rói.

Há muita gente hoje, atores, atrizes e personagens do tabuleiro da política que acha que a intrincada história de Sergipe foi feita à partir deles ou delas e que olhar no retrovisor só é permitido ver antes da linha da utopia, quiçá, do horizonte; ledos enganos. Se não dá para ser desde o descobrimento, que façam a partir de uma linha de corte mais próxima e como falamos de uma quase lenda, nada melhor do que outra que marcou sua vida com uma boa trajetória que o professor Jorge soube ir cavucar com maestria.

Estou falando do último prefeito eleito em Aracaju, pelo voto direto, antes do golpe que impôs a violenta e corrupta ditatura militar de 1964 a 1985, que foi José Conrado de Araújo. Depois dele veio Jackson Barreto em 1985, com pisadas firmes que retomou o projeto político sempre desejado por aquela que lhe deu vida, que lhe deu vida política.

Ninguém pode apagar da história a saga da professora Neuzice Barreto e ainda tem muito chão pela frente para quem quiser apagar a de Jackson Barreto. Agora, vai um alerta a ele; não faça como Caetano Veloso que vestindo pijama ficou em dúvida na resposta do ENEM sobre a interpretação correta sobre duas letras de músicas épicas de sua autoria, em épocas bem distintas; vista uma roupa de batalha e vamos irmanados à luta, que Aracaju precisa muito de você.

 

 

*Publicado originalmente na edição do dia 09 de novembro de 2023 do JORNAL DO DIA.

**Articulista do JORNAL DO DIA e Técnico aposentado da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados – Fafen. É um dos fundadores da Central Única dos Trabalhadores – CUT em Sergipe, militante político e ex-presidente do Partido dos Trabalhadores – PT em Sergipe. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

TRIBUTO A LUCINDA PEIXOTO

      Jorge Carvalho do Nascimento*     Acabei de tomar conhecimento da morte da empresária Maria Lucinda de Almeida Peixoto, ocorrido hoje na cidade de Penedo, Estado de Alagoas. Lucinda era certamente a principal herdeira dos negócios da próspera família Peixoto Gonçalves, empresários que ao longo do século XX constituíram a mais importante e mais rica família da região do Baixo Rio São Francisco, consideradas as duas margens – a de Alagoas e a de Sergipe. Tive a oportunidade de conhecer Lucinda Peixoto no final do ano de 2009, quando iniciei uma pesquisa sobre os negócios da família Peixoto Gonçalves, a convite do seu genro, José Carlos Dalles, um dos principais executivos com responsabilidade sobre a gestão das atividades econômicas da família. Em maio de 2010, fiz uma série de entrevistas e mantive várias conversas com Dona Lucinda, como os penedenses e os seus amigos costumavam tratá-la. Fiquei impressionado com a sua memória que o tempo não conseguira embotar. Do m

CONTRIBUIÇÃO ASSISTENCIAL: REGULAMENTO OU CAOS

                                                    Nilson Socorro       Nilson Socorro*     Nestes tempos bicudos de exacerbação das divergências, de intolerância e de fakes news em profusão, o mundo do trabalho, em especial, o movimento sindical, tem sido permanentemente agitado pela discussão, confusão e desinformação sobre o tema da contribuição sindical. O debate deveria contribuir para a construção de soluções, necessárias, em decorrência da fragilidade das finanças dos sindicatos, golpeadas pela reforma trabalhista de 2017 que abruptamente estabeleceu o fim da obrigatoriedade do imposto sindical. Mas, ao contrário, tem se prestado mais para amontoar lenha na fogueira onde ardem as entidades sindicais profissionais e econômicas que ainda resistem. A Consolidação das Leis do Trabalho trata a contribuição sindical em diversos artigos, assim como, a Constituição Federal. Pelo estabelecido na legislação, são três as espécies de contribuições: a contribuição sindical ou imposto sindic

TRIBUTO A THAIS BEZERRA

      Jorge Carvalho do Nascimento*     Nasci no dia 28 de agosto. Passados 22 anos após o dia em que eu nasci, a mais importante colunista social de toda a história da mídia em Sergipe publicou a sua primeira coluna, GENTE JOVEM, no jornal GAZETA DE SERGIPE, a convite do nosso amigo comum Jorge Lins e sob a orientação do jornalista Ivan Valença, então editor daquele importante periódico impresso. Hoje estou aqui para homenagear a memória de Thais Bezerra. A partir do seu trabalho, dediquei alguns anos da minha vida à pesquisa e me debrucei a estudar o fenômeno da coluna social em Sergipe, inspirado pelo meu olhar curioso e pelas observações que sempre fiz a respeito do trabalho da jornalista inspiradora que ela foi.       O estudo, inicialmente dedicado ao trabalho de Thais Bezerra se ampliou, e no início do ano de 2023, resultou na publicação do livro MEMÓRIAS DO JORNALISMO E DA COLUNA SOCIAL, pela Editora Criação.   Thais Bezerra começou a trabalhar aos 17 anos de