Jorge
Carvalho do Nascimento
Em
1995 regressei do período em que permaneci na Universidade de Frankfurt, na
Alemanha, depois de haver cumprido o meu Doutorado Sanduiche com bolsa CAPES.
Morria de saudades da minha eterna orientadora, Mirian Jorge Warde, e dos
colegas com os quais convivia na minha turma da PUC de São Paulo.
Na
turma estavam dois jovens mestrandos, alunos da Universidade de São Paulo – a USP,
orientandos da Profa. Dra. Marta Carvalho e adotados em disciplinas avulsas da
Profa. Dra. Mirian Warde. Ambos eram encantadores pelo brilho da inteligência e
pela leveza do convívio fraterno: Bruno Bontempi Junior e Maria Rita de Almeida
Toledo – Maíta.
Assim
que ingressei no Doutorado, no primeiro semestre de 1993, Mirian Warde me
apresentou a ambos e nos encarregou de produzir um estudo que me foi
extremamente importante: ler a obra completa de Fernando de Azevedo, analisar
todas as suas notas de rodapé e, a partir delas, entender as influências
intelectuais assumidas pelo consagrado autor de A CULTURA BRASILEIRA.
Era
um trabalho que parecia insano. Coisa de louco. Mais uma das santas loucuras de
Mirian Warde, entregue a três malucos, dois deles muito jovens (Bruno e Maíta).
Levamos a sério e terminamos publicando um denso artigo que serviu de suporte a
muitos trabalhos realizados por mim, por Bruno e por Maíta.
Nem
só de ciência se vive. Dali nasceu uma longa e muito duradoura amizade. Trabalhávamos
duas tardes por semana na residência de Maíta, no Campo Belo, sempre embalados
pelos lanchinhos que a sua avó preparava. Amizade também fermentada pelos
finais de tarde e pelas noites vividas no bar da rua Bartira, em frente ao
portão lateral do Campus Monte Alegre da PUC.
Momentos
nos quais se agregavam ao grupo figuras extraordinárias como os amigos Lúcia
Franca Rocha, Fernando Casadei, Décio Gatti Junior, Marcos Cézar de Freitas,
Olinda Evangelista e alguns outros. Casadei batizou o bar de “Nossa Caixa,
Nosso Banco”, pela beleza e simpatia da garçonete que nos atendia e que também
se transformou em amiga do grupo.
De
ciência também se vive. Mirian determinou que eu fizesse matrícula como aluno
especial numa disciplina oferecida na USP por Marta Maria Chagas de Carvalho.
Ali conheci, frequentando a mesma sala de aula, alunos dos quais me tornei
amigo: Luciano Mendes de Farias Filho, Diana Gonçalves Vidal, José Gonçalves
Gondra, Moysés Khulmann Junior e mais alguns. Todos se tornaram importantes
referências da pesquisa brasileira em História da Educação.
A
Profa. Dra. Maria Rita de Almeida Toledo era agora Titular Livre Docente do
Departamento de História da Universidade Federal de São Paulo – a UNIFESP. Deu
importantíssimas contribuições à História da Educação no Brasil. Foi
responsável pela construção do Centro de Memória da Universidade Federal de São
Paulo. O seu trabalho como pesquisadora salvou o valioso acervo da Companhia
Editora Nacional.
Maria
Rita trabalhou como docente do Programa de Pós-Graduação em Educação: História,
Política e Sociedade da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – a PUC.
Foi o mesmo Programa no qual ela defendeu a sua tese de Doutorado. Seus
primeiros estudos foram voltados para os intelectuais da Educação, para os
impressos e para as questões políticas e culturais das reformas pedagógicas.
Hoje
recebi a muito desagradável notícia de que Maíta nos deixou aos 56 anos de
idade, levada por um câncer de mama. Deixou Dodô, o amor da sua vida, e a sua
filha, agora com 20 anos de idade. Fiquei desorientado desde que recebi a
informação. Conversei demoradamente ao telefone com Bruno Bontempi. Li uma nota
afetuosa escrita por Luciano Mendes.
Nunca
sei o que dizer nessas ocasiões. Sinto que Maíta foi muito importante para
todos nós. Estamos mais pobres sem a sua presença física, sem as suas ideias. A
morte sempre me coloca diante de milhões de incertezas que chacoalham as minhas
convicções acerca do mundo, a respeito da vida.
A Maíta só posso dizer ADEUS. Os meus contemporâneos insistem em partir. Quanto a mim, sinto que a morte insiste em roçar cada vez mais perto da minha canela.
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