Jorge
Carvalho do Nascimento
Não
é fácil a uma mulher, mãe solteira, prestes a completar 35 anos de idade,
aparecer com uma gravidez. Sônia, mãe de uma filha com 11 anos de idade, uma
outra com três anos, um filho que desapareceu misteriosamente aos 15 anos de
idade, sem deixar rastro e se estivesse vivo estaria prestes a completar 18
anos, tinha uma nova gravidez.
Se
a segregação social contra ela já era grande e se acentuara com o episódio da
sua expulsão do Clube Cabo Branco, a gravidez lhe trazia mais um grande
prejuízo de imagem diante da conservadora sociedade paraibana. Mais um filho
sem pai, fruto do comportamento tido como duvidoso de uma mulher que as
famílias de bem não viam com bons olhos.
Os
homens de Sônia se irritaram com aquela situação. O Coronel Amazonas, o mais
generoso dentre aqueles que usufruíam dos seus favores sexuais, rompeu com ela
assim que tomou conhecimento da nova situação.
-
Como assim? Você emprenhou novamente? Qual foi o macho pra quem você deu e lhe
encheu o bucho? Você não tem vergonha? É uma puta desclassificada. Mas, eu não
vou ficar aqui sustentando você e depois saber que você abre as pernas pra todo
mundo e emprenha de um jornalista gigolô que você sustenta – berrou o Coronel
Amazonas, se retirando do quarto do Hotel Globo, batendo a porta e deixando
Sônia sozinha.
O
ortopedista Wandycler Alencar também desistiu de Sônia. O albino Maurício
Moura, dono da pedreira de Campina Grande não quis mais conversar com ela, da
mesma maneira que o agiota Alex Dórea. A perda financeira foi muito grande e
Sônia comunicou ao Hotel Globo que não mais manteria o apartamento alugado na
casa de hospedagem.
Depois
de uma longa conversa com o jornalista Camilo Paixão, Sônia o convidou para
morar com ela e com suas filhas, em sua Casa. A decisão desagradou sua amiga
Ermelinda, com quem mantinha sociedade na Padaria Triunfo. A amizade não ficou
arranhada, mas Ermelinda lhe comunicou que passaria a morar sozinha numa casa
que estava alugando.
Mesmo
tendo perdido uma renda significativa que obtinha com a prostituição, Sônia não
tinha mais nenhum problema financeiro. A renda que auferia com os negócios da
Padaria Triunfo era mais do que suficiente para manter o seu sofisticado padrão
de vida e o luxo ao qual habituara as filhas.
Sônia
reuniu as filhas e comunicou a novidade. Elas agora teriam um pai adotivo. Um
homem com o qual Sônia dividiria a gestão da casa, apesar de não haver nenhuma
perspectiva de Camilo aportar absolutamente nenhuma contribuição financeira aos
gastos da família.
Para
ele, era um grande negócio passar a viver com Sônia e suas filhas. Teria uma
família para chamar de sua O seu comportamento folgazão, com características de
irresponsabilidade e os seus textos muitas vezes levianos, o transformaram ao
longo dos anos de atuação no jornalismo paraibano em um profissional de pouca
credibilidade.
Sua
pena era ferina, sabia escrever e escrevia muito bem, mas como ser levado a
sério um jornalista que tinha a fama de ser uma pena de aluguel que se vendia
por qualquer trocado? Aos poucos, a receita mensal do jornalista foi minguando
e ele fazia das tripas coração para continuar sobrevivendo e frequentando os
ambientes nos quais gostava de estar.
Morar
com Sônia somente traria vantagens a Camilo. Ele era credor da plena confiança
dela. Se deram bem e se transformaram em grandes parceiros sexuais e aos poucos
ele havia se transformado numa espécie de seu conselheiro, oferecendo todo tipo
de orientação e opinando em todos os assuntos do interesse dela.
Questões
que iam dos negócios de prostituição dela, passavam pelos temas de gestão da
Padaria Triunfo, envolviam a educação das meninas Carmen e Carla e chegavam aos
melhores investimentos que Sônia deveria fazer nas transações bancárias para a
proteção do seu dinheiro.
Apesar
de desorganizado nos seus negócios pessoais e haver fracassado na geração de
renda para sustento próprio, o jornalista sabia orientar Sônia, com muita
competência. E o modo como ele reagiu em apoio a ela, diante da notícia, quando
ela lhe informou acerca da gravidez, a conquistou definitivamente.
Sônia
era uma mulher carente, acostumada a receber críticas e todas as estocadas
contundentes da vida. Receber solidariedade e palavras de apoio vindas de um
homem, principalmente naquele tipo de situação, era para ela algo completamente
inusitado. Por isto tudo andou na direção do convite para que o jornalista
fosse oficialmente o seu companheiro.
Poucos
dias depois, lá estava Camilo, instalado na casa de Sônia, com pose de dono da
casa. O seu estilo esbelto, musculoso e casual no jeito de se vestir marcava
agora o guarda-roupas da sertaneja. Nas refeições, era ele quem ficava agora
sentado na cabeceira da mesa da sala de jantar. À sua direita, Sônia e à
esquerda Carmen, a mais velha das duas meninas. Carla, a mais nova, ficava
sentada à direita da mãe.
O
fato é que ficava mais visível que a família agora tinha um chefe, um macho que
dominava a casa. Além disto, Sônia estabeleceu uma mesada mensal para as
despesas pessoais de Camilo e lhe entregava a cada mês o equivalente a 25 por
cento da sua retirada da Padaria Triunfo. Para os padrões de Camilo era uma
renda descomunal. Tanto dinheiro como ele nunca havia visto em nenhum momento
da sua vida errante.
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